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Vou mudar para o interior

Primeiro acreditei que era algo pontual, localizado em certos redutos e por isso nunca cheguei a comentar, mas de uns tempos pra cá a visão que tenho de cidades do interior é que: Lá estão as oportunidades! Enquanto milhões de seres se acotovelam nas grandes cidades por uma oportunidade de trabalho, de alimentação, de estudo, até amorosa, o interior do Brasil vem ensinando aos culturados cosmopolistas como é que se promove o cenário local. Acredito que em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo essa noção da “coisa nossa” se perdeu em meio a embarques e desembarques do Santos Dumont ou do perigoso aeroporto de Guarulhos. Somos internacionais por aqui. Sabemos detalhadamente tudo o que rola no subúrbio de Paris, nos guetos de Nova Iorque mas nem mesmo sabemos chegar no Parque Edu Chaves (para os paulistas) ou em Marechal Hermes (para os cariocas).
No cenário ao qual participo,  o da música independente, nossa Cidade Maravilhosa é uma completa trevas para as bandas. Organizadores aproveitadores (pague para tocar), falta de prestígio pela produção autoral, casas sem estrutura e descaso do poder público relegam o cenário a um patamar abaixo do merecido. Bandas cariocas que se mantém na ativa, para que tenham bons shows e público, tornam-se nômades. Ficam de 6 a 10 meses sem fazer um show sequer em sua cidade. São Paulo o cenário muda mas ainda possui características em comum. O número de casas é absurdamente maior ao carioca e ainda há certa estrutura mas como no Rio de Janeiro, o cenário independente possui um abismo entre as péssimas e boas casas ao qual apenas uma boa apresentação ou CD não é o suficiente. Um Paitrocínio para bancar a abertura daquela banda sensação ou daquela roupa da moda é mais importante do que o som dos instrumentos. A culpa é de quem se rebaixa a essa situação, de quem entra para uma atividade MUSICAL colocando outros quesitos na frente deste que sempre deveria ser o principal.
Eventos como o Cardápio Underground, liderado pelo mestre Quique Brown em Bragança Paulista, o Festival Hardcore Contra a Fome de Teresópolis, o Linguarudos de Joinville, o Alternativo Rock Festival 2008 de Itabirito, o Monster Of Roça de Paraibuna entre tantos outros mostram que fora dos grandes centros iniciativa  privada e pública abrem-se à experimentação, a tentativa, apostam na cultura sem que exijam absurdos retornos financeiros, assim abrindo espaço para a cultura local.
Vale lembrar que não citei os atualmente mega festivais Abril Pro Rock, MADA, Do Sol, Goiânia Noise (que está desembarcando em SP) e outros que começaram miúdos, sem grandes pretensões e agora são referências nacionais.

JMauro Leandro Pimentel

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
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