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Quanto vale o show?

*Por Foca

Tenho visto nos últimos tempos inúmeras reclamações das mais variadas camadas da população no que diz respeito ao preço dos ingressos para shows praticados em Natal, mas que na verdade se estende por todo o Brasil. Quem mais reclama, são exatamente aqueles que um dia desses eram estudantes com direito adquirido por lei de pagar meia-entrada em shows e que agora não estão mais na escola nem nas universidades. São também a maioria dos que comentam e tem fluxo no twitter e no facebook. A geração “perto dos trinta”.

O que esse povo não percebe, ou nunca quis perceber porque antes era cômodo, é que a lei imoral e populista da meia-entrada nunca existiu de fato. Os estudantes desde sempre continuaram pagando o mesmo preço que pagariam se a lei não tivesse em vigor. O que existe de fato é a lei de que não estudantes PAGAM EM DOBRO. E lógico, nessa brincadeira quem “paga o pato” é a classe artística e quem perde é a cultura.

A primeira coisa a se analisar é: o que dá ao governo o direito de taxar dessa forma atividades particulares como um show privado? Em qualquer área, quando o governo quer investir ou dar alguma contra partida social usando atividades particulares, negocia com os empresários, dá algum tipo de isenção fiscal, abre financiamentos com juros baixos entre outras ações. E para atividades culturais particulares ele dá o que? Sem querer ser grosseiro, vocês já devem imaginar o que o governo realmente dá. O ISS morde um pedaço da bilheteria, o imoral ECAD atividade DEFENDIDA pelo próprio MINC atual morde um outro pedaço e não repassa nada aos verdadeiros donos desse “pseudo” dinheiro e por aí vai. Para ser gentil: o governo dá as costas para o problema.

Se o governo quer fazer graça ou média com shows particulares por que não compra parte da bilheteria e dá de graça o ingresso para população? É caro né? E por que os produtores de show particulares tem que pagar essa conta? A verdade é que uma roda inteira que movimenta a cultura e o entretenimento está sendo muito prejudicada e ninguém faz nada para mudar esse quadro. A experiência dos shows, em vez de ser democratizada tem sido cada vez mais protagonizada pela classe média alta que pode pagar entradas DOBRADAS. Fato!

Imagine você produzir um show caro, com custos fixos altíssimos sem saber ao certo quantas pessoas vão pagar inteira ou meia-entrada? Para se defender das incertezas, até porque quem faz shows grandes e caros não está fazendo caridade (trata-se de um negócio como outro qualquer) a grande maioria dos produtores simplesmente faz as contas como se todo mundo pagasse meia. Sem pudor e sem pena. Lógico, existem produtores picaretas atrás de margens de lucros astronômicas para se aproveitar do fã de música, assim como existem aqueles que falsificam carteiras de estudante para burlar a lei e pagar menos. Há verdades e mentiras de ambos os lados.

Uma última constatação. Os maiores interessados nesta lei nefasta, os movimentos estudantis, parecem ter esquecido o viés cultural que essas entidades tinham no final dos anos 60, 70 e começo dos anos 80. As Unes e DCEs eram sem sombra de dúvida os maiores aliados da cultura brasileira. Promoviam shows, tinham selos músicas, editoras de livros, imprimiam fanzines, pequenos informativos e serviam de reflexo e nascedouro de diversos movimentos musicais e culturais em geral. Hoje o que vejo por ai são DCEs e Grêmios estudantis promovendo shows (quando promovem) de baixíssima qualidade apenas para fazer caixa próprio sem a menor conexão com a real cultura das cidades. Alguns ainda escapam, mas a maioria vive esse quadro, pelo menos aqui em Natal.

Acordem, vocês também vão chegar na “geração dos trinta-que paga-as-próprias-contas” e haverá outros FACEBOOKS para reclamar do preço dos ingressos no futuro.

* Anderson Foca faz parte da Associação Cultural Dosol e da Camarones Orquestra Guitarrística

 

Nota da editora: a caminho do trabalho pela manhã,  acessei o Facebook pelo celular e me deparei com esse texto, pensei: “esse texto tem que ser publicado no Revoluta”. O Anderson aborda tudo o que sempre é conversado entre amigos que organizam e frequentam shows em várias partes do país.

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
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