You are here
Home > Räskuño > Catarse sonora une bandas em noite memorável

Catarse sonora une bandas em noite memorável

Dead Fish + Questions + Plastic Fire + Macacos Me Mordam + Incendiall
(Teatro Odisséia/RJ @ 06/04/2014)

Fotos e texto por Deise Santos

Catarse! Não, esse texto não será sobre o sucesso do crowdfunding, mas essa palavra define o que aconteceu dia 06 de abril, no Teatro Odisséia, durante a primeira edição do 021 Fest.
Fazendo as honras da casa, três bandas cariocas subiram ao palco: Incendiall, Macacos Me Mordam e Plastic Fire e, para fechar a noite, o hardcore em duas doses: uma mais bruta servida pela banda Questions e outra um pouco mais leve(?) dos capixabas-paulistanos-cidadãos-do-mundo Dead Fish, ambas comemorando 10 anos de lançamento de dois álbuns brutais: Resista! e Zero e Um.
Como foi? Uma sequência sonora que não poderia ter sido melhor planejada.
Para abrir a noite, foi escalada a banda Incendiall. Os primeiros acordes foram o estopim para quem estava do lado de fora, alguns assistindo a um clássico do futebol carioca (FLA x VAS) pela televisão dos botecos, se agitassem para entrar no local do evento. O vocal rasgado de Thiago disparou as músicas do EP Sobre Status, Cartões e Cheques, num show curto, mas na medida certa para mostrar o trabalho que essa banda vem desenvolvendo desde 2012.
Na sequência, subiu ao palco o trio Macacos Me Mordam, na estrada desde o século XX (1999), a banda já é “macaca velha” e vem amadurecendo a cada subida ao palco ou entrada em estúdio. Show enérgico e feroz. Com poucas pausas o trio deu seu recado, falando da importância das pessoas apoiarem a cena e saírem de suas casas e de seus mundos virtuais para prestigiarem shows com bandas independentes. No set list, músicas como “Faça Acontecer” e “Neurótico”, deram o tom do quão divertido é tocar punk rock. Fato! Banda e público se divertiram.

Público mais do que aquecido e lá veio mais uma apresentação insana dos cariocas da Plastic Fire. Não há como ficar parado ao vê-los tocando. A empatia entre público e banda, faz com que as apresentações deste quarteto sejam sempre uma sequência de emoções e encontros, no palco e no mosh pit. É bem como os cariocas falam: tudo junto e misturado. Todo mundo tem voz e corpo e presença, traduzindo, o show tem diversas dimensões e isso faz com que as letras e as canções se amplifiquem mais do que os próprios equipamentos suportam. Resultado? Foi mais uma experiência única ouvir ao vivo músicas como “O Preço de ser impessoal”, “A última cidade livre”, “M.A.S.” e “Terceira Pílula”, com banda e público alinhadíssimos. De perder o fôlego e alguns quilos, no caso de quem se aventurou pelo mosh pit.
Pausa para respirar, olhar a banca de merchandising montada no 2º piso, enquanto roadies e técnicos organizam o palco para que a próxima banda entre no palco.
Hora do Hardcore Positivo da banda Questions tomar o palco de assalto. No set list, o álbum Resista! Tão atual que nem parece que foi produzido há uma década. O vocalista Eduardo abriu o show agradecendo ao convite de tocar num festival onde ele acreditava que o público não era o da Questions. Alguns acordes depois ele deve ter notado que estava enganado. O público recebeu a banda muito bem , assim como nas outras vezes que eles cruzaram a Rodovia Presidente Dutra de São Paulo até o Rio de Janeiro para tocarem. Enquanto o hardcore era discorrido através das cordas de Pablo (guitarra) e Helinho (baixo), acompanhados das baquetas aceleradas de Du Akira, o público ia entrando no clima. E então surgiram stage divecircle pit e uma sucessão de reações insanas à muralha sonora erguida pelo quarteto. Depois que Resista! foi merecidamente homenageado, era hora dos sons de outros álbuns serem executados e aí veio: “S.P.H.C.”, “The Victory Speech”, “Life is a Figth” e uma sequência de covers para lavar a alma do público com “Coffee Mug” (Descendents), “Filler” (Minor Threat) e “Troops of Doom” (Sepultura).
Show insano, temperado com muita atitude e respeito.
Mais uma pausa para respirar. Porém ninguém parecia estar disposto a perder o lugar, ou seja, público amontoado na frente do palco e, ao primeiro acorde de “A Urgência”, o público já estava mais rápido do que um processador de 2Ghz. Era o Zero e Um, sendo executado em sua totalidade, na sequência, com o sistema binário decodificando a sonoridade hardcoreana e provocando uma formação de blocos humanos acelerados e insanos, que só faziam acompanhar a lógica das cordas e das baterias.
Dizer que show do Dead Fish é memorável é mais do mesmo e este não foi diferente, enquanto o show avançava, os moshs foram se multiplicando, até o momento em que um fã descuidado, e bêbado, sobe ao palco e, sem querer, acerta o microfone na boca do vocalista Rodrigo Lima. Pausa para gelo e o show seguiu adiante. O fim de Zero e Um se aproximou e a canção “Tudo”, fechou a homenagem.
E aí veio o bônus para o público. “Paz Verde” abriu a segunda parte do show, seguida da belíssima “Mulheres Negras” que teve a participação de uma menina que representou muito bem a figura feminina na cena independente.
E a banda seguiu, tocando aquelas músicas que já são hinos esperados nos shows do Dead Fish como “Iceberg”, “Autonomia”, “Venceremos”, “Afasia” e para fechar a noite de domingo “Sonho médio”.
Fim.
Não teve bis, não teve gritos de “mais um!”.
Foi assim: catarticamente insano.

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
Top