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ROT “Sou um cara velho que basicamente gosta muito de ouvir coisas velhas!”

Entrevista por Rafael Yaekashi

 Ativos no meio underground da cidade de Osasco desde a metade dos anos de 1980, Mendigo (guitarra), Marcelo (vocal), Rogers “Babú” (baixo) e Júlio (bateria) formaram o ROT em outubro de 1990 trazendo a experiência acumulada de outras bandas e projetos assim como da troca de correspondência (atividade bastante importante que fazia as informações circularem nos anos que antecederam a internet) e no envolvimento com shows,  fanzines e na troca de tapes.
Sempre atentos para o que acontecia de mais barulhento no underground mundial, o som da banda se desenvolveu muito rapidamente e recebeu toda a carga e a influência do que todos os envolvidos ouviam nessa época de transformações, de radicalização e extremismo do punk / hardcore e do death / thrash.
As letras destacavam-se também por sempre apresentarem uma forma pessoal de ver as coisas, muitas vezes numa tonalidade bastante cética e pessimista.
Essa primeira formação durou pouco mais de um ano e após as saídas de Babú e Julio no final de 1991, Mendigo e Marcelo tiveram que procurar novos membros para dar continuidade à banda, isso tornou-se uma situação constante ao longo dos anos.
 Apesar dessa inconstância na formação, o ROT sempre conseguiu se manter  ativo de um jeito ou de outro: tocando várias gigs, conseguindo lançar e distribuir seu material de forma independente através de selos de várias partes do mundo.
Também, por três vezes entre os anos de 1996 e 2002, tocaram no continente Europeu e isso  lhes deu a possibilidade de conhecer um pouco da cena e da cultura de países como: Alemanha, Bélgica, França, Republica Tcheca, Eslováquia, Espanha, Itália, Holanda, Hungria, Áustria e Suíça.
Em 2008, por motivos diversos,  a banda se separa ou “dá uma pausa para tomar fôlego”! E após quatro anos inativos, se reúne novamente para algumas cervejas, conversas, testes e ensaios que resultaram na volta aos palcos em 2013 com a seguinte formação:

Mendigo (guitarra) – Marcelo (vocal) – Rafael (bateria) – Alex “bucho” (baixo) – Marcolino (vocal)

1 – Quando me perguntam de onde eu sou, digo que sou do país que tem o ROT, uma das minhas maiores influências do Mince Grind. Estou muito feliz em fazer essa entrevista, muito obrigado pela oportunidade! 
Me diga como estão as coisas Marcelo? 
He he he! Fala sério Rafael! E o futebol, o samba, o carnaval, a corrupção e o Sepultura? Brincadeira… mas de qualquer forma obrigado por se lembrar de nós e mais obrigado ainda pela entrevista, nós que agradecemos a chance e eu tentarei responder tudo da melhor forma possível.

2 – Após 4 anos sem tocar, fale mais sobre essa volta em 2013, como aconteceu?
Acho que rolou basicamente porque tanto o Mendigo quanto o Rafael ainda mantinham essa vontade de tocarem juntos novamente. Após algumas conversas sobre a possibilidade de formarmos uma banda nova, concluímos que o melhor seria mesmo voltarmos com o Rot. Chamamos o Alex “bucho” que aceitou de imediato e passamos a fazer uns testes e ensaios até que o Marcolino juntou-se ao time. Foi tudo bem espontâneo e sem a necessidade de fazer as coisas com pressa. Desde esse retorno, tocamos algumas vezes e compomos alguns sons novos.

3 – Quem forma o ROT hoje em dia?    Conte-nos sobre o line up atual.
O Mendigo (guitarra) e eu (voz) somos os únicos da formação original de 1990, Alex (baixo) já tocou conosco de 1995 até 2002, Rafael (bateria) toca na banda desde 2004 e o Marcolino (voz) que é o único novato no Rot, porém veterano de outras como Desecration e Deadmocracy. Creio que existe um bom equilíbrio nessa formação, isso em vários aspectos: o Mendigo, Alex e eu já passamos dos 40 enquanto o Rafael e o Marcolino ainda estão na casa dos 30, também tem a questão do humor ser bem dosado, de um lado alguns são mais despojados e irreverentes enquanto do outro estão os mais sérios e concentrados. Isso tudo ajuda na hora de compor e de decidir várias coisas e facilita na convivência de um modo geral.

4- Do que se tratam os temas abordados em suas letras? Como é o processo de composição?
As letras são feitas e encaixadas em cima das bases de cada som novo que é feito, isso dá a chance de sentir e escrever algo bem exclusivo pra aquele determinado som, pode não fazer sentido pra muitos, mas pra mim isso determina bastante o resultado final. O temas continuam sendo basicamente os mesmos: a falta de sentido do mundo e a necessidade latente por respostas que existe dentro de cada ser humano, a separação e o reencontro com as coisas básicas da vida, a revolta e o não conformismo com a nossa condição, etc… Também existem letras abordando temas mais cotidianos, mas mesmo essas recebem esse tom pessoal que é uma marca da banda.

5 – Nos conte mais sobre o ROT “Old Dirty Grindcores II” que sairá em CD duplo em breve.
Esse disco é uma empreitada de quatro selos: O Karasu Killer Records (seu selo), a Equivokke Records, Power It Up Records e Give Praise Records. Será um CD duplo com 150 faixas e 152 sons! Tudo gravado em estúdio entre os anos de 1991 e 2007. Nem de longe pode ser considerado como uma discografia do Rot pois, por falta de espaço, muita coisa ficou de fora. Mesmo assim conseguimos colocar o máximo de material possível nesses dois CD’s como é o caso da nossa demo de 1991 e dos nossos dois primeiros 7”Eps que aparecerão na íntegra nesse lançamento, além de muitos sons extras que não apareceram na primeira versão do “old dirty grindcores” (também por causa da falta de espaço!). O lançamento está previsto para Setembro ou Outubro desse ano.

6 – Além do ROT “Old Dirty Grindcores II” o que mais vocês irão lançar?
A Selfmadegod Records da Polônia lançará um box-set contendo os 3 álbuns do Rot em CD’s, todo o material re-masterizado, alguns com bônus e uma arte exclusiva para as capas e para a caixa. Também estamos gravando 12 sons novos que sairão num 7” Ep lançado pela Absurd Records no Brasil e na Europa pela Selfmadegod Records que fará também uma versão em Mini-CD.

7 – Vocês vivem da banda ou cada um têm um “real job” ? Qual é a maior dificuldade de se ter uma banda no Brasil?
Cada um de nós se vira como pode! O Alex é motorista, ele dirige em tours e também faz o trabalho de levar e buscar gente no aeroporto, hotel, etc… Além disso ele tem um selo, a Bucho Discos. O Mendigo é professor, o Marcolino trabalha num hospital, eu tenho a Absurd Records há 18 anos e uma loja de discos chamada Extreme Noise há 12 anos e de um jeito ou de outro consigo sobreviver assim. O Rafael é o único desempregado no momento. As dificuldades de ter uma banda aqui são as mesmas desde sempre, mas no geral isso não nos preocupa nenhum pouco pois o Rot não tem essa pretensão comum em tantas bandas!

8 – A banda têm feito shows ultimamente? Há previsão de turnê brasileira ou até mesmo gringa? 
Nenhum show até o final das gravações do novo Ep e nada de turnê prevista pra gente!

9 -Nesses últimos anos tem surgido uma nova safra de bandas Grind no Brasil. Como você enxerga essa renovação? Quais você considera os destaques?
Pra ser sincero contigo, Grind é o tipo de som que eu menos ouço e acompanho atualmente, sei que existe uma leva de bandas novas, muitas extremamente competentes e precisas dentro dessa linha mais “moderna” do estilo, mas como me sinto um tanto deslocado disso tudo não vou saber avaliar o que esta acontecendo e nem arriscar destacar uma ou outra banda.

10 – Nos conte um pouco sobre o que você tem acompanhado fora do Brasil? Alguma sugestão?
Sinto mas sou um cara velho que basicamente gosta muito de ouvir coisas velhas!

11 – Qual é a mensagem que você tem para nossos leitores?
Só tenho que agradecê-los por terem lido a entrevista e pelo interesse. Obrigado a você Rafael novamente pelo apoio.

 

Contato www.rot-official.com

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
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