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Wlad Zona Cruz Punk

O site Zona Punk está completando 10 anos e resolvemos bater um papo com seu editor pra saber um pouco da história do site e do workaholic Wladimyr Cruz, figura carismática e carimbada do cenário independente que não para nunca, sempre inventando uma maneira de espalhar cultura e, principalmente música, seja através do site, selo, festas, shows ou até mesmo lançando um livro gratuitamente, disponível na rede pra download.
Para Wlad Cruz, entrevistar é devassar e é isso que vocês terão aqui, um pouco da história do editor e do site devassada. Divirtam-se.

Por Deise Santos

O Zona Punk está completando 10 anos. Mas pra chegarmos a essa história, vamos voltar mais no tempo pra saber: qual foi o seu primeiro contato com o rock?
Bom, é algo que veio de casa. Meus pais, também jornalistas ligados a música, e minhas irmãs mais velhas. Acho que a memória mais antiga que tenho relacionada ao rock, é o KISS. Com o tempo fui absorvendo o que aparecia em meus ouvidos, seja em casa, ou em rádio, TV. Programas como Som Pop e Realce me deram norte, e me ensinaram a curtir nomes como Ozzy (na época, fantasiado de bicho preguiça no “Bark at the moon”), Mötley Crue, WASP, AC/DC, e por aí vai. Até o dia que tomei um tapa, quando vi o clipe original de “Pretty Vacant” dos Sex Pistols. Aí fudeu-se tudo.
Com o punk que assumi a verdadeira identidade musical, sem abandonar as outras, claro. E fui exuzar meu pai, “pai, quero um disco dos Sex Pistols”, e ele: “você já tem”. E me deu o compacto original de “God Save The Queen” que meu então padrinho, Kid Vinil, havia trazido do Reino Unido pra mim.

Com uma influência dessas não é difícil ingressar no mundo do rock… Mas como foi a partir daí, tinha-se a TV com programas musicais, seu padrinho trazendo novidades… Os garotos da sua idade acompanhavam essa movimentação musical? Ou era aquele papo de você curtir sozinho em casa o mundo novo?
Não, de forma nenhuma, até porque eu era muito novo. Foi engraçado até quando fiz meu profile no orkut, um cara veio me adicionar. “ah, você é o wladimyr, que morava em tal lugar e estudava em tal lugar?”, e eu, “sim e você quem é?” e a resposta pra não deixar dúvidas “ah, estudei com você na quarta-série do primário, você usava uma camiseta do KISS” (risos). Parece absurdo, mas me lembrei na hora disso.
A troca de informações era basicamente familiar, com minha irmã mais velha me mostrando coisas, principalmente rock nacional (RPM, Engenheiros, Titãs etc) e meu pai com coisas, digamos, mais descoladas, tipo Clash, Blondie, Devo. E eu claro, tentava passar isso pros amigos de escola.
Assumo. Sou o culpado por ter feito dois ou três meninos de 10 anos de idade serem cabeludos e brigarem com seus pais. (risos)

Tudo esteve sempre muito perto de você: pais jornalistas e amantes de música e você foi fisgado pelos Pistols. Até aí ok. Você poderia curtir música e seguir outra carreira profissional. Mas quando e como foi que você começou sua carreira no jornalismo musical?
Acho que me espelhando pelo que tinha em casa, sempre li muito, e no caso, MUITO sobre música, rock. Revistas, livros, o diabo a quatro. Aí por volta de 1992 ou 93, comecei a fazer um fanzine com um amigo. A gente escrevia e o pai dele digitava em, sei lá, um 386, e imprimia naquelas folhas de impressora matricial, pois ele trabalhava no correio. A idéia era falar sobre o grunge, punk, essas coisas. Mas era totalmente for fun, sem nenhuma grande pretensão.
Em 1996 comecei a fazer fanzine pra valer, chamado Rebel Magazine. Começou como uma folha sulfite dobrada no meio, obviamente com meus pais dando um apoio. Saí pra rua, arrumei anunciantes, e a coisa começou a seu auto-sustentar. Ou seja, pensando bem, fazem uns 13 anos que vivo de “jornalismo” musical. Entre aspas, pois jornalista mesmo é Hunter Thompson, sou só um roqueiro que gosta de escrever.

Onde você morava nessa época?
Em 1995 mudei pra Santos/SP, e lá que comecei a levar a sério o papo do fanzine.

O fanzine era distribuído somente em Santos?
Mais ou menos, dependia da arrecadação de anúncios. Eu fazia algo em torno de 5.000 cópias quando o mês era bom, aí deixava uma certa quantidade em São Paulo na galeria, e claro, mandava para todos meus contatos de fora via carta social (risos). Chegava ao correio lotado de cartas e com R$ 1 mandava o fanzine até pro inferno. Mais pro final da existência dele, quis profissionalizar, ele assumiu o formato revista, com capa colorida, diagramação eletrônica, e tudo mais. Aí ficou inviável de ficar mandando. Além disso, em 1998 ou 97, não lembro, comecei também a fazer coletâneas que vinham com o fanzine, muito influenciado no caso por outro zine da baixada, o “academiadepunkrockzine”, que era feito pelo Atibaia (White Frogs, Safari Hamburgers). No meu caso eram coletâneas piratas, com sons de bandas gringas e tal, chegando até uma coletânea chamada “Rebel Tape Vol. 1”, onde consegui na época o apoio de alguns estúdios, os quais deixaram as bandas gravarem seu som, ou seja, essa coletânea veio com músicas e bandas inéditas da cena local, inclusive ali foi a estréia do The Bombers, que depois lançamos via selo do ZonaPunk.
Enfim, mesmo na época do fanzine, eu já corria atrás e fazia as mesmas coisas que existem hoje no ZonaPunk, a produção de shows, CDs, etc.

Depois do fanzine, o próximo passo foi a colaboração em revistas. Em quais você colaborou? E o que esse período significou pra você?
Colaborei em várias de pouca expressão, e comecei também a ampliar o leque, falando sobre literatura, cinema, cultura pop em geral. No ramo da música, fui parar na Rock Press, a convite da editora, com lobby do grande João Velloso Jr, sem dúvida uma das pessoas que mais me apoiou e incentivou nesse negócio doido.
O período que trabalhei em qualquer publicação a qual eu não era meu próprio editor
significou muito pra mim, pois ali aprendi que o melhor editor do mundo sou eu mesmo (risos). Brincadeira. Foi importante para aprender um pouco mais como funcionava a coisa toda, a burocracia principalmente. Sinto falta às vezes de dead lines, pautas sem motivo e entrevistas com bandas que eu jamais havia ouvido antes.

Por falar em bandas que você jamais tinha ouvido antes, quais você conheceu nesse período e que foram “favoritadas por você”?
Nesse período? Isso era 1999, foi quando comecei a conhecer o tal ‘emo’. At The Drive-In, Jimmy Eat World, Alkaline Trio, Juliana Theory etc etc. Também comecei a pirar nas bandas garage rock americanas de selos como Estrus e Bad Afro. Mas descobertas minhas, via revista só conheci coisas que jamais ouvi antes, nem depois, tipo o Lambchop (risos).

E quando você resolveu ser seu próprio editor?
Na verdade desde sempre, com o fanzine. Mas já entendi, você quer que eu fale como começou o ZonaPunk (risos). Vou começar a fazer igual aquelas bandas que inventam histórias doidas pra cada vez que vem a pergunta “o que significa o nome da banda” (risos). Brincadeira.
Enfim, eu estava ainda na Rock Press e fazendo o fanzine em papel, Aí um dia achei um site chamado zonapunk.cjb.net. Era feito por três pessoas, 2 gaúchos (Saulo e Pedro) e um carioca (Leandro). Em resumo, mandei meu fanzine pro Saulo pra ele fazer um review sobre o mesmo no tal ZonaPunk, e ele pirou, pois no fanzine havia entrevista com o Down By Law e Shelter, se não me engano, e pediu pra publicar as entrevistas no recém-formado site. Liberei e logo entrei pro time. A partir daí, levei a sério essa história doida de “site punk de news brasileiro”, já que não existia nenhum, e fui trabalhando. Larguei o fanzine e caí de cabeça, já entrando como editor, por assim dizer. Com o tempo, os fundadores foram saindo e eu fui ficando, até o dia em que só sobrou eu, e re-comecei tudo do “zero”, com nova equipe, nova programação, layout e proposta.

E lá se vão 10 anos… Desse tempo todo de Zona Punk, você reúne muitas histórias. O que você e/ou o ZP conquistou nessa década?
Eu conquistei minha vida, meu futuro, o que sou e serei até o fim. O ZonaPunk é meu trabalho, minha diversão, toma conta de 70% do meu dia e por culpa de um site, fiz, vivi e experienciei coisas maravilhosas e horríveis, moldando assim quem sou hoje.

Ter um site com a idoneidade que o Zona Punk tem, com certeza abriu portas pra você entrevistar bandas e pessoas que você nem imaginaria. Qual foi a entrevista mais marcante pra você em todos esses anos?
Cada uma é cada uma né? Pois cada pessoa é diferente. Gostei demais de conhecer mais o Joe Queer (The Queers), Dave Smaley (Down By Law) e me diverti demais com o Man Or Astro Man?. Não são os mais famosos ou as bandas que mais gosto, mas foram marcantes, surpreendentes pra mim. Hoje em dia ando chato, dispenso entrevistar até ídolos, como foi esses dias com o Keith Morris do Circle Jerks, mas acho que depois de entrevistar tanta gente, agora só farei aquela que me dê tesão, aquela que você vai falar, “pqp”. Quem seria? Billy Corgan do Smashing Pumpkins, um Trent Reznor (NIN), Perry Farrel (Jane’s Addiction), os Mikes, Patton e Ness, ou mesmo um Johnny Rotten (risos).
Entrevista não é um jogo de perguntas e respostas, é devassar, se abrir e ser aberto (ops!), então tem que ter tesão na coisa. Se é pra responder questionário, que vá fazer vestibular (risos).

Você lançou há pouco tempo um livro, com uma coletânea de entrevistas. Porque um livro com entrevistas publicadas? Pode-se dizer que elas contam, de certa forma, a sua história?
Não, não conta. Conta a história dos outros… (risos) O livro foi uma espécie de “ok, deixa eu ver o que eu já fiz”, como um portfólio pessoal, e claro, uma forma de deixar registrado tantos anos de blá blá blá com essa galera toda.
O livro foi lançado gratuitamente, via download, e em formato pen-drive, num valor acessível. Tentei fazer algo diferente, sem pirar muito. Afinal, quem sou eu pra ter um
livro de entrevistas? Deixo isso pro Zeca Camargo (risos).

Você falou que já teve experiências maravilhosas e horríveis. As experiências maravilhosas imagina-se que foram muitas. Mas qual foi o pior momento que você viveu por conta do Zona Punk?
Sem dúvida o rolo monstro do show do Misfits, onde fui obrigado a fechar a loja que havia aberto e entrar na justiça contra a casa que prejudicou a produção do show, num processo no valor de 101 mil reais. De qualquer forma, os que não conhecem o ZonaPunk, obviamente, ficaram contra, mesmo sem nem saber o que houve direito ou qual o grau de envolvimento do site com o caso, mas também tivemos o apoio de muita gente, e isso foi muito bacana, pois mostrou que temos os nossos ao nosso lado.

O Zona Punk não é só um site, é um selo e uma produtora de shows. Que tem projetos audaciosos como o Vans Zona Punk Tour. Como administrar isso tudo?
Bêbado, claro (risos). Na verdade é bem complicado, pois tenho que administrar meus loucos horários pra dar conta de tudo. Vivo viajando pra cima e pra baixo, fiz até um google callendar pra me achar (risos). Mas é assim mesmo, o importante é ter boa vontade e perserverança.

Então, dez anos de Zona Punk. Essa data não vai passar em branco, vai?
Não, jamais. Começamos 2009 com a esbórnia da premiação dos melhores do ano, e temos uma série de festas e shows em diversas casas para todo tipo de público. Pra começar serão 10 festas/shows nas duas principais casas de rock de São Paulo, o Outs e o Hangar 110, além disso, estão previstos shows comemorativos em outras praças como Santos, interior de SP etc. Devemos encerrar o ano, de duas uma, ou uma nova edição da tour, reformulada, ou um festival monstro. Veremos.

O meu querido editorial parece ser um momento de descontração pra você. É o seu momento Lester Bangs?
É meu momento de cueca, bebendo e me preparando pro verdadeiro porre do fim de semana. A hora em que eu tento uma aproximação do público, falando as merdas que falo na mesa do bar, seja sobre o BBB, a Mallu Magalhães ou mesmo assuntos mais sérios. É a hora de vomitar toda aquela sobrecarga de cultura pop que assolou a minha (nossa) mente durante a(s) semana(s). E incrivelmente, é o grande hype do site, atingindo até 20.000 acessos.
Um dia faço o meuqueridoeditorial.com.br. (risos)

Antes de finalizar, vamos fazer um top 10 de alguns itens, ok?
Okay

Liste as suas 10 músicas nacionais preferidas:
Vamos fazer assim, 5 independentes, 5 majors ok? Sem ordem de preferência.
Indies
– Hateen – “404 Not Found Again”
– Garage Fuzz – “Pitiable”
– Forgotten Boys – “Cumm On”
– Holly TREE – “Hey Stop It!”
– Dance Of Days – “Correção”

Majors
– Raul Seixas & Marcelo Nova – “Rock N’ Roll”
– Titãs – “Diversão”
– Engenheiros Do Hawaii – “Ando Só”
– Camisa De Vênus – “Metástase”
– RPM – “Juvenília”

Liste as suas 10 músicas internacionais favoritas:
As 10 internacionais seriam as mais emblemáticas da minha vida, este é o critério, sem ordem:
1 – Sex Pistols – “Pretty Vacant”
2 – Guns N’ Roses – “Welcome To The Jungle”
3 – Smashing Pumpkins – “Ava Adore”
4 – Classix Noveaux – “Guilty”
5 – Weezer – “Tired Of Sex”
6 – The Offspring – “Self Esteen”
7 – Depeche Mode – “Enjoy The Silence”
8 – Soft Cell – “Tainted Love”
9 – Refused – “New Noise”
10 – Stooges – “Search & Destroy”
E não, não sei criar listas mirabolantes com hypes e bandas que brotaram ontem no MySpace. Só pra parecer que manjo muito e sou “antenado”

Wlad, grata pela entrevista. Desejo sucesso e força mais e mais pro Zona Punk e todos os projetos que você se envolver. O espaço agora é pra você deixar o seu recado:
Fat Mike fala por min: “When did punk rock become so safe? / When did the scene become a joke? / The kids who used to live for beer and speed / Now want their fries and coke”. Me encontre no bar e me pague uma cerveja.

Para conhecer mais e acompanhar:
http://www.zonapunk.com.br
http://www.zonapunk.com.br/zprecs
http://www.fotolog.net/zonapunkcombr
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=442264
http://www.blurty.com/users/zonapunk
http://twitter.com/zonapunk

 

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
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