Protesto Suburbano: maioridade com responsabilidade contracultural Matérias by Deise Santos - abril 14, 2013setembro 21, 20170 Texto e fotos por Deise Santos No sábado, 06 de abril de 2013, aconteceu no Parque da Cidade de Macaé, na Praia Campista, a festa de 18 anos da banda de punk rock e hardcore macaense Protesto Suburbano. Diferentemente do que se possa imaginar, a comemoração não foi somente à base de música, desde às11h já era possível ver crianças, adolescentes e adultos, com seus skates, testando o circuito que foi montado para as competições de skate amador, além de sprays sendo “acionados” para dar vida às telas que foram grafitadas no decorrer do dia e algumas manobras de bikes, tudo isso dando vida ao parque. Enquanto isso, os últimos retoques eram dados no palco, para que as bandas pudessem se apresentar no meio da tarde. Mais do que uma comemoração de aniversário da banda Protesto Suburbano, o evento pode ser considerado um marco na história da cidade, pois marca a retomada do Parque da Cidade pela população de Macaé, após anos de abandono e descaso. E nada melhor do que uma banda de punk rock para ocupar um espaço público, com apoio de outras manifestações culturais undergrounds. A Protesto Suburbano, como o próprio nome já disse, surgiu há 18 anos com o intuito de protestar e chamar a atenção para os problemas vividos por quem mora nos subúrbios, inclusive de Macaé. O baixista e fundador da banda explicou um pouco como a banda começou: – A banda surgiu do término de outra banda, a Não-conformismo. Depois de algumas mudanças na formação, nós lançamos a Demo Ao Vivo, mas quando a banda completou um ano, todos saíram e eu fiquei sozinho – disse Evandro, que na época tocava bateria e cantava. Como pra ele não existia a opção de não tocar mais, optou por revezar com os músicos da banda Antiparasitas. Isso durou um tempo, até alguns integrantes da Antiparasitas resolverem sair da banda e eles resolveram continuar com a Protesto Suburbano. – Na época eu assumi o baixo e vocal e o Santuchi tocava guitarra, mas como ele começou a fazer muita “firula”, resolvi trocar de lugar com ele e assumi as guitarras e o vocal. Hoje a banda tem 5 integrantes e já contabiliza diversos shows em Macaé, Rio de Janeiro, Vila Velha e São Paulo, além da participação em diversas coletâneas e o lançamento de 3 álbuns, um DVD de videoclipes e um álbum ao vivo. Olhando pra trás, para a época em que começou a ouvir rock através das bandas Titãs, Ira! e Camisa de Vênus, passando pelo death metal até chegar aos seus ouvidos o som da banda paulista Olho Seco, Evandro analisa que o punk rock mudou sua vida. Para ele, punk é estilo de vida, as letras que faz retratam o seu cotidiano. – No punk rock, você segue o que você está fazendo, senão não é punk rock. Sobre a longevidade da banda ele confessou: – Imaginava que a banda seguiria por muito tempo na estrada sim, porque não me imagino sem tocar. Tocaria até sozinho – disse Evandro que afirma não haver outro estilo de rock mais igualitário do que o punk rock: – Não tem essa de gente famosa e de distanciamento, todo mundo é amigo, todo mundo se fala – finaliza Evandro. A primeira banda a subir ao palco foi a Cervical, que tem como integrantes moradores de Cabo Frio e Macaé. O hardcore enérgico, recheado de referências de metal, feito pela banda, abriu as apresentações que se estenderam até pouco mais de 23h. Surgida há 7 anos, a banda já passou por algumas mudanças na formação. E, se no início a banda tinha somente referências no hardcore, a mudança na formação trouxe pra banda o peso do metal. Paschoal, vocalista da banda, conhece a banda Protesto Suburbano desde seu nascimento, pois viu um show da antiga banda que Evandro e Santuchi, respectivamente baixista e vocalista da Protesto Suburbano, tinham antes de montar a PS. De lá pra cá ele começou a acompanhar a cena underground e a Protesto Suburbano virou uma referência pra ele e para os integrantes da banda Cervical, que se sentiram honrados de serem convidados para participar da festa de 18 anos. Para Paschoal, a banda é motivo de admiração, pois faz o que gosta há 18 anos e sempre incentiva para que as outras bandas sigam em frente. – Se alguém consegue manter uma banda por 18 anos, nós também tentaremos – disse o vocalista da Cervical, que define a banda Protesto Suburbano como sobrevivente, pois muita gente ficou pelo caminho, acabou desistindo e desacreditou. – Eles persistiram, essa festa é mais do que merecida – disse o vocalista Pascoal. Enquanto a banda Cervical executava seus sons no palco, o grafiteiro profissional, Marlon Muk, grafitava uma tela sob o olhar curioso de crianças e adolescentes. Pixador na adolescência, Muk notou que pixar estava causando diversos problemas e procurou a maneira correta de praticar a arte. Participou de uma oficina da arte do grafite na Associação Sobrado de Arte e Cultura (ASAC) em São Gonçalo e para se aperfeiçoar ainda mais fez um curso de desenho artístico no Parque Lage, no Rio de Janeiro.Todo esse investimento se reverteu em aulas para crianças no Conselho Tutelar e num projeto da Fundação Macaé de Cultura (FMC) em comunidades carentes. Com seu trabalho, no qual procura retratar a emoção e a expressão corporal e facial pra chamar a atenção das pessoas, ele já viajou por diversos estados brasileiros, entre eles Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Ceará, e representou Macaé e o Brasil, em eventos internacionais no Chile, Equador e Peru. Em Quito, ele passou um mês retratando o olhar e a expressão do povo indígena, nos muros da cidade. Para ele, a comemoração do aniversário da Protesto Suburbano no Parque da Cidade tem uma grande importância, por ser o parque um ponto de encontro para a comunidade em geral e, poder mostrar sua arte, que ainda é mal vista pela cidade, é o ponto de partida para chamar a atenção para as artes até então marginalizadas. Para ele, o evento pode trazer reconhecimento do governo e da sociedade. – Nós estamos afirmando que somos macaenses e que queremos ocupar os espaços -, disse Muk, que conhece a banda há muitos anos e afirma que não haveria forma melhor de comemorar a maioridade da Protesto Suburbano. Outra artista que prestigiou o evento foi sócia do estúdio de tatuagem Plêiades. Ela sempre trabalhou com desenho e com o passar dos anos resolveu tatuar. Autodidata, aprendeu a tatuar observando os tatuadores no estúdio em que trabalhou. Para aperfeiçoar sua arte, começou a ir a convenções de tatuagem. Conheceu o Evandro, incentivou ele a abrir um estúdio, viraram sócios e ela ensinou ele a tatuar. A parceria deu certo. Ela começou a tatuar os integrantes da banda e hoje a divulgação é mútua: punk rock e tatuagem. Enquanto o freestyle rolava no parque, Barata, vocalista da banda paulistana DZK, falou um pouco sobre a importância de estar participando da festa de 18 anos da Protesto Suburbano. – Fomos a primeira banda a levar a Protesto pra tocar fora de Macaé, foram dois shows no mesmo dia, em Jundiaí – disse Barata, que ficou impressionado com a estrutura do evento e de ver o reconhecimento e o peso da banda na região. Como na adolescência trabalhava em metalúrgicas, Barata encontrou no punk rock a válvula de escape para passar mensagens de tudo que o oprimia e indignava. Para ele, o punk rock está na veia e é estilo de vida e, a Protesto Suburbano, na opinião dele, sustenta a bandeira do punk rock com muito propriedade. E nem só de rock foi a festa da banda, a tarde também foi do RAP. José Júlio, mais conhecido como JOCA, faz parte do Coletivo Culturap, que começou suas atividades em 2008 nas praças de Macaé com intuito de levar o RAP para quem ainda não conhecia. Nas ações executadas pelo coletivo estão presentes a cultuta hip hop, o graffite e o skate, esporte que foi inserido para enriquecer mais ainda o coletivo. Para ele é uma satisfação muito grande estar participando e apoiando o evento, já que o primeiro show de rock que ele foi aos 12 anos de idade, foi da banda Protesto Suburbano. – Ir no show me infuenciou a fazer o que faço hoje. Espero poder ocupar sempre o Parque da Cidade com muito skateboard, música e cultura- disse ele. A Roda Cultural, evento organizado pelo coletivo, acontece na Praça Washington Luis, toda quinta à noite, com batalhas de mc’s, bike e já contou inclusive com uma exposição de quadros de grafiteiros de Macaé. – Esperamos que a partir deste evento, a prefeitura apóie mais os artistas e esportistas locais – disse Joca. A banda Contratodos também subiu ao palco, para despejar o seu hardcore agressivo, que contagiou o público que se aglomerou na frente do palco. Mas antes de subir e prestar suas homenagens em forma de música, os integrantes André (CUJO) e Liu, respectivamente guitarrista e vocalista da banda, foram categóricos em afirmar que a banda Protesto Suburbano tem a visão de juntar tribos. – Somente eles conseguiriam juntar tantas tribos diferentes num só evento – disse Liu. Formada em Macaé há 2 anos, todos os integrantes são da cidade e no hardcore executado pela banda estão letras que tratam da realidade que eles vivem e os valores: família, honestidade e luta. – Nossas letras falam da guerra que cada um sofre, é a demonstração da força de vontade pra vencer barreiras. – disse André. O convite para tocar no aniversário de 18 anos da banda foi feito por Santuchi, vocalista da Protesto Suburbano, que conheceu a banda e curtiu o som. – O Santuchi deu o caminho dentro do hardcore, ele se tornou um grande amigo de todos da banda -disse André e completou – tocar num evento em que se interage com todo mundo é melhor do que pra uma galera só. O show do protesto sempre será isso: amizade e união. Protesto Suburbano é família. O produtor Gabriel Emerik, conhece o Evandro desde criança. Quando começou a trabalhar na área de cultura, apoiou a banda no que fosse possível. Fez o lançamento da Associação Macaense de Rock, organizou o show de 15 anos da banda e levou a banda para a Expo Serra. Para ele, Macaé tem muito material humano para ser trabalhado, o que falta é investimento. – Um espaço como o parque ficar sem uso por 9 anos é muito triste – disse Gabriel, que apoiou a festa de 18 anos, registrando o evento em fotos.Para ele, a música é um objeto transformador. Álvaro Zimmermann, vocalista da banda carioca Serial Killer, que está há mais de 20 anos na cena underground, falou da importância da Protesto Suburbano: – Bem mais do que tocar com uma das melhores bandas punk/hardcore do Rio de Janeiro, o Protesto Suburbano e seus integrantes se tornaram nossos amigos de longa data. – disse ?lvaro, que conhece a banda desde 1999 e completou: – Temos muito orgulho de ter uma banda e uns caras desse gabarito do nosso lado. Grande caráter! – finalizou o vocalista,depois de ter subido ao palco e ter feito um show insano para marcar a presença dos cariocas da Serial Killer em Macaé. Logo após o resultado do campeonato de skate amador, o skatista profissional, Leandro Macaé, que é natural da cidade e nômade por opção profissional, como ele mesmo se auto-intitula, falou da importância de um evento como este para a cidade de Macaé. Há 9 anos atuando como skatista profissional, disse que fica feliz em ver um evento multicultural como este em Macaé. – Conheço parques municipais no Brasil sendo usados de forma adequada e para mim era muito triste ver o parque abandonado. Antes não havia nem promessas e hoje há esperanças – disse ele. O skatista foi consultado pela nova administração do município para acompanhar a construção da pista de skate – Ver numa tarde de sábado, o parque ser ocupado por punk, hardcore, rastafaris, skatistas e até crente é muito bom. A praça não tinha valor – completa ele, que acredita que cada pessoa que compareceu ao evento é formador de opinião. A ideia dele é criar um circuito com 4 etapas, para acontecer trimestralmente no parque, para ocupar o espaço. Sobre a Protesto Suburbano ele contou que a banda foi responsável por ele ir ao primeiro campeonato de skate em Niterói. – Eles foram tocar em Niterói e o Evandro voltou com um flyer de um campeonato. Eu fui e venci – disse ele. Para ele, a Protesto Suburbano é hardcore na veia, é som que ele usa no playlist pra competir. – Eu ganhei em Roma ao som de Protesto Suburbano. O skate depende mais da música do que o contrário – finaliza. A Las Calles, banda que tem como integrantes moradores da região dos lagos, está na estrada há 1 ano, mas conta com a experiência de quem já participou de outras bandas do cenário underground. Marcelo Fernandes, vocalista da banda, conhece a Protesto Suburbano da época em que os contatos eram feitos por carta e as músicas eram divulgadas em fitas demo. Por ter participado de diversas bandas encontrou varias vezes com o Protesto pelos shows na Região dos Lago. – O mais legal da Protesto Suburbano é que a banda está há 18 anos com discurso politico em suas letras – disse o vocalista da banda Las Calles. Para ele a banda tem a essência punk rock para produzir contracultura. Marcelo acredita que um evento como este pode desencadear em coisas maiores e que fazer uso da máquina pública criticamente é a melhor forma de imprimir a máxima do it yourself que permeia o punk rock. – Pra mim a palavra que define o Protesto Suburbano é punk e acredito que eles possam realizar outros eventos como este para expor a cultura underground – disse o vocalista da Las Calles. O paulista que vive em Macaé há alguns anos, Eduardo Pullga, participa do grupo Linhas Diretas. Ele considera que o trabalho do grupo é cantar punk em ritmo de RAP. – Procuramos falar dos problemas que nos incomodam, criticamos o estado e suas falhas – disse Pullga, que completou: – Nosso RAP tem conteúdo, procuramos levar mensagens que façam as pessoas refletirem. A ligação com a banda Protesto Suburbano não poderia ser de outra forma: – Conheci a banda num show e me identifiquei na hora. Protesto Suburbano não segrega, esse evento é o Protesto Suburbano, é cultura indepente e pronto – finalizou Eduardo. Produtor que atua na região dos lagos há cerca de 5 anos, Allan Hudson, da produtora Na Espinha, que atualmente organiza shows na Casa da Colina, em São Pedro d’Aldeia, conheceu a banda quando ainda organizava shows em Iguaba. Santuchi, vocalista da banda, entrou em contato com ele para mostrar o trabalho da banda e assim conseguir uma data nos festivais organizados pelo Allan. Deu certo: – Eles foram tocar num evento que organizei em Iguaba, inde também tocaram algumas bandas de Belo Horizonte e, quando voltei a organizar shows em São Pedro d’Aldeia, convidei eles novamente. Agora, que o contato ficou mais firme, a banda encomendou ao Allan – que é designer gráfico -, a nova logo da banda, que deverá ficar pronta em breve. – Estar nesse evento e ver a festa que foi organizada me deixa muito feliz. A banda merece. Pra mim Protesto Suburbano é verdade, sinceridade e independência. O skatista profissional Alessandro Ramos, foi convidado para ser juiz no campeonato de skate amador. – Fiquei muito feliz em ser convidado, porque sempre acreditei que skate e música andam juntos e quando soube que o evento seria multicultural, aceitei vir na hora – disse o profissional. Para ele, o evento tem um peso muito grande, por juntar hip hop, rap, rock, skate, bike e graffite. – O festival ficou muito atrativo porque incluiu várias vertentes do mundo alternativo e pra quem é novo e vive na internet, essa foi uma oportunidade de presenciar as coisas ao vivo e a cores – disse Alessandro Ramos, que gosta de ouvir hip hop e que define a Protesto Suburbano como sendo a voz do povo, a voz do subúrbio. Entre sprays, gaps e microfones, recheados de guitarras, baterias e muito pogo, até o hip hop fez o público agitar. Assim a maioridade chegou para a banda Protesto Suburbano, reforçando seu compromisso em protestar, questionar e soltar as amarras, para gritar e mostrar a realidade e a força que vem da contracultura. No mínimo, a comemoração de 18 anos da banda Protesto Suburbano foi catártica. Compartilhe!!