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Despedida em grande estilo: Muzzarelas relembra a história e comenta último disco

Com quase 30 anos de trajetória e uma discografia de peso, a banda lançará “Beer n’ Destroy” em janeiro de 2021

Com o fim anunciado e bastante próximo, a banda Muzzarelas tem muita história para contar. Até chegar no lançamento do último disco “Beer n’ Destroy”, marcado para janeiro de 2021, o grupo galgou espaço entre os mais reconhecidos do som pesado alternativo.
Formada  atualmente por Alexandre (no vocal), Stenio (guitarra), Flavio (guitarra), Marcel Lobisomen (bateria) e Daniel E.T.E (baixo), a Muzzarelas começou a carreira há muito tempo. A cidade era Campinas (SP). O ano era 1991. Foi quando cinco amigos formaram uma banda para tocar as canções do Ramones.
Não levou muito tempo para eles começarem a compor suas próprias músicas – regados a rock, pizza e cerveja. Isso porque outras influências de gêneros como thrash metal, hardcore e até hard rock, logo somaram-se com a atitude totalmente irônica do grupo.
Conhecidos pela intensidade ao vivo, logo eles começaram a abrir shows para nomes como Ratos de Porão, Marky Ramone, Fugazi, entre outros. O primeiro contrato com uma gravadora foi em 1995,  com “Jumentor” – que tem produção de João Gordo e foi lançado no Brasil pela Devil Discos e em Portugal pela Fast and Loud Records.
Como consequência de muito trabalho (e diversão), tocaram em todo o Brasil e até na Argentina. E, além de tudo, essa agenda deu bagagem para que eles produzissem muito material.
Lançaram 07 álbuns de estúdio, além de singles e de participações em compilações – formando a discografia que abarca: “Watchin´ The Birds Shit On My Head” (1993),  “Jumentor (1995/6), “Gorgonzulah!” (1999), “Dellmonicus” (2000), “Lotus Rock Ad” (2002), “Live at Your Ozz” (2004), “Demorroid” (2005), “Beergod” (2007) e “We Rock You Suck” (2010). Isso tudo até 2020.
Como esquenta para “Beer and Destroy”, disco que marca a despedida da Muzzarelas, há dois singles:”Teenage Antichrist” e a faixa homônima ao álbum.
Confira um bate-papo com Daniel E.T.E, sobre a carreira e as novidades desse último trabalho em estúdio.

Entrevista por Willian Schütz

Olá! Muito obrigado por toparem a entrevista. Já é quase no clima de despedida que eu logo pergunto e peço: contem um pouco como foi manter esse grupo firme por quase 30 anos? Quais as principais dificuldades e quais as maiores alegrias?
Obrigado pelo espaço e pelo interesse pela nossa história. Vamos lá: em primeiro lugar estamos no Brasil, um país onde trabalhar com música, arte ou cultura em geral sempre foi um tanto quanto difícil – imagina então para uma banda que insistiu em fazer as coisas à sua própria maneira desde os primeiros ensaios. Mas, basicamente, a grande dificuldade é conseguir fazer a coisa se sustentar. Sempre foi. A maior alegria é a hora que o barulho começa… além de escrever as canções; criar tudo do zero; ralar até ficar do jeito daquela música que gostaríamos de ouvir; gravar e finalmente tocar isso ao vivo. Esse sempre foi o nosso pega.

Sem dúvidas, ao longo da carreira foram muitas emoções. E vocês terem construído uma carreira que, de certo modo, atravessou continentes é impressionante. Comentem um pouco sobre os shows fora do Brasil e sobre as coletâneas que foram lançadas lá fora.
O único lugar onde tocamos fora do Brasil foi na Argentina. Posso falar por mim: viajar para tocar é sempre uma experiência monstruosamente deliciosa. Devíamos olhar mais para a cena musical dos nossos vizinhos. Temos muito o que aprender com eles.
A parada das coletâneas tinha um peso bem maior antes da internet: era um ótimo canal para a divulgação do som, fazer contatos e tudo mais. Tudo feito via correio, desde os primeiros contatos. Participamos de coletâneas em Portugal, EUA, Alemanha, Espanha e tivemos discos lançados e distribuídos pela Europa e até no Japão.

Vocês têm uma discografia que impõem respeito. Por quais selos e gravadoras passaram ao longo desses anos?
Começamos tendo o primeiro disco inteiramente bancado pela Devil Discos de SP, que tinha um catálogo muito foda na época… com bandas como RxDxP, Korzus, S.A.R e Cólera. Esse foi nosso único disco lançado e produzido por um selo. Todos os outros foram auto produzidos e lançados em parceria com selos como Ataque Frontal, Thirteen Records, Laja Rex, Hollyday Records. Agora quem vai cuidar do nosso catálogo é a Monstro.

A identidade visual da banda traz um clima descontraído, mas com toques carregados e remete aos quadrinhos e até ao grafite. Foram sempre os mesmos artistas? E sobre “Beer n’ Destroy”: quem assina a arte?
Eu sempre cuidei da identidade visual da banda – desde a criação dos primeiros logos, até hoje. Só não fiz a capa do Jumentor e do Gorgonzzulah!. E sobre o “Beer n’ Destroy”: vai ter tudo o que se pode esperar de um disco dos Muzzarelas: tanto no som quanto na arte. É o nosso presente para quem sempre esteve ao nosso lado.

E “Beer n’ Destoy” é o último álbum do grupo – a despedida. Como chegaram nessa decisão depois de tantos anos tocando juntos?
Como disse lá na primeira pergunta, é bem difícil de fazer música aqui no Brasil. Ainda mais cantando em inglês: aí é praticamente um suicídio financeiro (risos). Mas o que rolou é que era muito difícil conciliar a agenda e a disponibilidade de todos para dar a atenção que a banda precisava. Mas, pelo menos para mim, é uma sensação de missão cumprida. Fizemos as coisas do nosso jeito; fizemos as músicas que gostaríamos de ouvir; fizemos os shows que gostaríamos de ver e fizemos os discos que gostaríamos de ter em nossas discotecas. Pudemos conhecer muita gente e lugares legais… e isso tudo fazendo muita festa e bebendo muita cerveja.

Algum de vocês pretende continuar no meio da música após o fim do grupo?
Todos sempre tivemos outras bandas paralelas aos Muzzarelas. Então, eu acredito que todos vão continuar fazendo um som de uma maneira ou outra. No momento estou com o Drakula e Bong Brigade.

Pretendem fazer algum show de despedida? Creio que por conta da pandemia, vocês não tocam ao vivo já faz algum tempo. Onde e como foi o último show?
Não temos planos para um show de despedida. Até porque, nesse momento de pandemia não seria apropriado. Nosso último show foi em 2019. Foi bem legal… foi uma homenagem ao nosso amigo Caio Ribeiro, quem nos convenceu a entrar num estúdio e gravar pela primeira vez. Ele quem produziu nossas primeiras demos. Foi a primeira pessoa a acreditar na gente – bem antes da gente inclusive. Ele também gravou o Lotus Rock A.D, Beergod, Dellmonicus e o Beer n’ Destroy… mas infelizmente faleceu antes do disco ficar pronto.

A banda compõe principalmente utilizando o inglês. Nesse último disco, terá alguma faixa cantada ou com partes em português?
Não, nenhuma música em português nesse disco.

Já aproveito a pergunta anterior para puxar um gancho e questionar: conseguem já adiantar qual será a tracklist do álbum?
1-  Beer N’ Destroy
2 – Teenage Antichrist
3 – Beer Before Dishonor
4 – Shit Figth
5 – Stage Invader
6 – Ratburger King
7 – Everyday Is A Holiday
8 – In The Beak Of The Crow
9 – I Dont Wanna Be With You Tonight
10 – Chocolator
11 – Fuck You, Gimme Beer, Let’s Dance!
12 – Smegma Boy
13 – SxWxTxBxSxOxMxHx (Still Watchin’ The Birds Shit On My Head)
14 – Arriba Cerveja!

Ouvi dizer que o single “Teenage Antichrist” é inspirado em uma história real (risos). Que história é essa?
É autobiográfica (risos). Eu era um adolescente virgem, fã de heavy metal, que adorava o satanás e detestava tomar banho. Ainda bem que essa fase passou.

Como a banda está há anos sem lançar um álbum, é cabível fazer uma série de perguntinhas: como foi o processo de composição e seleção das faixas para esse disco final? Aproveitaram algum material engavetado? Quem produziu “Beer n’ Destroy”… e como foi esse processo todo?
Começamos a pensar nesse disco no final de  2016, mais uma vez por insistência do Caio. Só tínhamos 3 músicas prontas: Chocolate, Stage Invader e Fuck you, Gimme Beer, Let´s dance. Todo o resto foi composto durante 2017 e gravado em dezembro. Gravamos todas as baterias, baixos e guitarras base ao vivo, no estúdio, durante um fim de semana e todas as vozes e solos de guitarra alguns dias depois. Sempre achei que essa era a melhor forma de gravar a nossa banda. Quem gravou a bateria nesse disco foi o Marcel, que entrou para a banda em 2015. De resto, a formação sempre foi a mesma desde 1991.
Mas o Caio adoeceu e veio a falecer em 2018. Foi uma parada muito triste perder esse amigo, mas ele nos pediu que terminássemos o disco. Então, retomamos a mixagem durante 2019, com o Eurico Miranda – que era sócio do Caio no Stage Records, o estúdio onde gravamos o “Beer n’ Destroy” e resolvemos lançar o disco mesmo após a banda ter encerrado as atividades. Esse disco é nossa homenagem para ele, nosso presente para a gente mesmo e para quem sempre nos apoiou, seja da maneira que for. Acreditem é um disco legal. Não é oSgt. Peppers, nem o Rocket to Russiae muito menos o Reign in Blood, mas cai bem com cerveja.

O disco será lançado em que dia de janeiro? O lançamento será tanto em mídia digital, como em mídia física, certo?
Ainda não sei exatamente a data do lançamento. O single saiu agora em dezembro, já pela Monstro, mas sai agora no começo de 2021. Provavelmente terá uma edição física em CD e K7.

Quais as expectativas para o lançamento desse último trabalho em estúdio? E, para encerrar, fica aberto o espaço para uma mensagem final. Uma despedida. Muito obrigado pela entrevista!
Esperamos que as pessoas se divirtam com esse disco. Ele foi feito para isso: para cantar junto no chuveiro, dançar sem roupa bebendo cerveja na cozinha e para quando for possível e seguro ouvir junto com um monte de gente legal em volta. É um disco para comemorar, independente do que for. No nosso caso, é a comemoração de fazer um som que gostamos desde 1991. Afinal de contas, posso dizer por mim e por todos os que já passaram pela banda, que realmente valeu à pena fazer essa barulheira toda – cada ensaio, cada gravação, cada viagem, cada show, cada solo farofa, cada refrão, cada música, cada treta, cada calote, cada roubada e, acima de tudo isso, cada cerveja. Ter banda é muito massa, todo mundo deveria tentar.

Confira o single “Beer and destroy”:

Para conhecer:

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Para ouvir:

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Willian Schütz
Willian Schütz é poeta e contista - autor dos livros "Insânia Mundana" e "Saudades do que não foi e voltará". Formando em Jornalismo, atualmente colabora no site Guia Floripa, na Assessoria de Imprensa da Fundação Cultural Badesc e no Portal CLG. Já passou pelo IFSC e pela SST. Além disso, é cineclubista de carteirinha e acompanha de perto a cena musical alternativa de Florianópolis.
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