You are here
Home > Entrevistas > SNOW: rápido e pesado, alto e lento

SNOW: rápido e pesado, alto e lento

Idealizado por Rodrigo Neves, o projeto ganha proporção com o lançamento do primeiro álbum – “Fast N´Heavy Loud N´Slow”

Crédito da imagem: Rodrigo Neves/Divulgação

Não por acaso, um dos maiores nomes da história do rock, Paul McCartney descreveu o lockdown por conta da pandemia de  Covid-19 como “rockdown”. Nesse período, diversos projetos de artistas e bandas ganharam forma, cada qual com sua peculiaridade. Esse é o caso do SNOW,  projeto encabeçado por Rodrigo Neves (da banda Tigersharks, gravando guitarras, vozes e bateria), com participação de Andrez Machado (guitarra) e Rodrigo Borba (baixo), cada qual contribuindo com uma parte da sonoridade gravada à distância. 
Com influências que passam por nomes como Black Flag, Eyehategod, e flertam com Revolution Mother, Nebula e The Shrine, o grupo desenvolveu uma trilha sonora perfeita para um rolê de skate embalado por muita fumaça. Esse material foi inteiramente gravado e executado durante a quarentena.
Com forma e proporção tomadas, no dia 20 de janeiro de 2021, o SNOW lança seu primeiro álbum de estúdio, “Fast N´Heavy Loud N´Slow” – em premiére exclusiva nos meios da revista Decibel Magazine. 
O álbum conta com oito faixas de uma sonoridade dividida entre a freneticidade pesada do hardcore e do skate punk, com a desaceleração e o denso compasso gradual do stoner. Tudo isso se mistura aos toques de sludge.
“Fast N´Heavy Loud N´Slow” fica disponível nas principais plataformas digitais, bem como para audição exclusiva no site da Decibel Magazine… e o bate-papo com o idealizador do projeto fica disponível a seguir.

Entrevista por Willian Schütz 

Primeiramente, muito obrigado pela entrevista. Você tem uma trajetória no mundo da música antes de finalmente realizar o projeto SNOW. Conte um pouco sobre essa bagagem e como toda essa experiência contribuiu para que hoje você realizasse esse novo projeto. 
Eu que agradeço pelo espaço! Então, a minha trajetória no mundo da música começou quando eu era criança e sempre pirei em guitarras, então comecei a fazer aulas. Continuei fazendo por algum tempo, mas perdi o interesse. Depois virei baterista, e toquei bateria durante toda minha adolescência mas era um lixo hahaha. Fiquei um tempo sem tocar e só voltei quando, já na faculdade, montamos o que viria a ser a Tigersharks. Nessa banda eu só cantava, até que decidi retomar a guitarra, mudamos o nome pra Tigersharks e viramos um power trio. Ali foi a primeira vez que eu levei a sério o esquema de banda e tal e aprendi muito. Acho que ter tocado bateria por algum tempo (mesmo que mal) me ajudou a pensar em riffs mais dinâmicos que funcionam com essa mudança entre rápido e lento nas músicas. 

Nessa nova empreitada, quem te acompanha são os habilidosos Rodrigo Borba e Andrez Machado. Como você convocou essa dupla para compor o time? 
O Andrez é um amigo meu de muito tempo já, antes mesmo de ele produzir os sons da Tigersharks e tudo mais. A gente já gravou duas vezes com ele com a Tigersharks e sempre foram experiências muito iradas. Então quando veio a ideia de lançar a SNOW e fazer esse esquema remoto, foi o primeiro nome que me veio à cabeça. Ele pirou quando mandei as demos e se empolgou pra gravar umas guitarras em cima. Ele também sugeriu chamarmos um baixista pra gravar junto e indicou o Rodrigo, que é um amigo dele que grava direto lá no estúdio. E assim, montamos esse time que gravou o disco.

Quanto tempo demorou desde a idealização até o início das gravações? Como a ideia amadureceu até finalmente se concretizar? 
A idealização do disco surgiu lá em Abril de 2020, com a pandemia a Tigersharks acabou ficando um pouco parada e eu comecei a compor algumas músicas pra SNOW. Se não me engano, as gravações foram até o final de julho e em Agosto a gente já tava mixando. Ali pelo começo de setembro o disco já tava gravado e masterizado. Mas como diz o ditado “casa de ferreiro, espeto de pau“ então a parte visual foi mudando até o último momento, a capa foi a última coisa a ficar pronta hahaha.

Além disso, é interessante saber: as músicas já estavam compostas e você refinou nesse momento de isolamento social, ou você orquestrou tudo praticamente do zero em 2020? 
Nesse disco só uma música já tava composta, “Prensado“ mas ela era bem diferente, mais acelerada, então rolou uma reformulação dela e regravamos. As outras foram todas criadas já nesse momento de isolamento social. 

A SNOW bebe de muitas fontes. Do punk ao hardcore, do stoner ao bom e velho rock n’ roll… e por aí vai. Como é para você externalizar todas essas referências dentro de um único projeto? 
Pra mim é muito irado! Eu sempre curti bandas que fundiam referências diferentes pra criar um som característico e sempre foi o meu objetivo. Além disso, acho que a SNOW é um projeto que tinha essa função desde o começo, de ser mistura com todas as minhas referências juntas pra fazer um som diferente. Então era parte do objetivo mesmo, unir esses dois “mundos“ que eu gosto tanto, o Punk/Hardcore nas partes aceleradas e também o Stoner/Sludge/Doom nas partes lentas e fazer isso tudo conversar entre si. 

Quando e de que maneira começou a produção e gravação do primeiro álbum, o “Fast N´Heavy Loud N´Slow”?
A produção e gravação do disco duraram mais ou menos uns três meses e foram rolando quase no paralelo, ali por maio eu já tinha composto as demos de todas as músicas e começamos a gravar os instrumentos finais em cima das bases.

Como esquenta para o lançamento do primeiro álbum, vocês lançaram os singles “Skate Fast Die Hard”, “Escape From Brasil” e, no YouTube a faixa “Prensado”. As versões dessas músicas terão diferenças no álbum? Por quê?
A única música que tem uma versão diferente é a “Escape From Brasil” que tem uma versão estendida, com uma intro mais comprida. A ideia surgiu porque queríamos lançar ela como single, mas achávamos muito comprida. Então pensamos em “cortar“ a introdução pra versão do single e deixar a versão estendida quase como um “bônus“. Essa versão vai ficar meio escondida por aí…

Essas faixas acima citadas são as que mais representam a pegada do álbum? O que o público pode esperar?
Sim e não hahaha. Tentei escolher como single músicas que representam as diferentes facetas do projeto e por isso, escolhemos as músicas que mais representavam a SNOW pros ouvintes entenderem do que se trata o disco. Mas essas músicas são só um gostinho do restante do material. O disco é bastante dinâmico e fica oscilando entre velocidades altas e baixas, sem nunca abandonar o peso. 

Comente um pouco sobre o teor social e político da faixa “Escape From Brasil”. E no álbum terão outras músicas que, de certa forma, abordam essas temáticas? 
Essa música é uma das minhas preferidas do disco porque acho que ela tem um significado muito forte. Eu escrevi ela junto com meu amigo Rodolfo Heck lá no começo da pandemia, quando assisti pela vigésima vez o clássico “Fuga de New York“ do John Carpenter e pensei no paralelo da nossa situação, como o desgoverno atual desse país nos abandonou, nos deixou soltos aqui, sem nenhuma ajuda, com auxílio pífio e com pouquíssima informação, deixando a população morrer, espalhar o vírus e ainda incentivando isso. O Bolsonaro é um genocida e que tem nas mãos dele sangue dessas mais de 200 mil pessoas que morreram. 

Como foi produzir e gravar o primeiro álbum em plena quarentena? Quais as vantagens e desvantagens desse processo? Houveram ensaios entre vocês?
Apesar de ser um momento horrível e assustador, como tenho o privilégio de trabalhar de Home office, a quarentena me proporcionou muito mais tempo em casa e por isso foi bem produtiva, então a gravação foi um processo bem legal e o resultado nos surpreendeu. A gente não ensaiou e nem tocou junto em nenhum momento, todo mundo gravou em cima das bases e depois juntamos tudo pra mixar e masterizar. Eu gravei as demos e também as bases, aí o Andrez e o Rodrigo Borba gravaram as partes deles no estúdio Red Garage e paralelamente eu gravei as guitarras em casa e vozes no estúdio dos meus amigos da Menace, com o Oppitz aqui em Florianópolis. Aí depois mandei tudo pro Andrez fazer a mágica dele hahaha

Você também produziu as artes de todos os materiais lançados pela SNOW. Como chegou nessa identidade visual para o projeto? 
Assim como a nossa música, o visual da SNOW é um pouco de todas as minhas referências. Trabalho como diretor de arte e ilustrador há alguns anos, mas desenho desde moleque e sempre pirei nas artes de shape de skate, capas de disco, tatuagens, filmes trash e por aí vai. Quis passar isso nessa identidade visual da SNOW. Tem alguns elementos que eu curto muito e sempre tento incluir como as caveiras, linhas diagonais, teias e fogo. E sempre usando bastante vermelho, pra ficar registrado na mente das pessoas.

Por que o título “Fast N´Heavy Loud N´Slow”?
Essa frase surgiu como uma piada com um amigo, quando eu tava tentando resumir como era o som da SNOW, e no fim das contas, acabei curtindo muito a sonoridade e também acho que define bem o nosso som. Como é nosso primeiro disco, queria algo que fosse impactante mas que também já passasse um pouco de como é o som da banda. 

Quais as expectativas para o lançamento? 
Eu tô bem empolgado com o resultado positivo que os singles vêm tendo desde o ano passado, então tô torcendo pro som da SNOW chegar no maior número de pessoas que curtam e se identifiquem com o som.

De que maneira a Decibel Magazine chegou até vocês? Como funciona a premiére?
Foi uma surpresa muito foda! Quem teve o contato foi o Matheus Jacques, da Bruxa Verde, que é quem tá fazendo toda a parte de assessoria da SNOW, quando ele falou pra mim eu quase caí da cadeira, achei que era brincadeira hahaha Mas vai rolar essa premiere, eu to muito animado porque desde adolescente sempre li matérias na Decibel, pra mim é um sonho sendo realizado! 

Depois desse lançamento, quais os planos para a Snow?
Os planos pra 2021 incluem gravar nosso primeiro clipe e também lançar mais músicas (já estamos compondo o segundo disco). Claro que se a vacinação rolar bem e a situação voltar ao “normal“ também vamos montar a banda pra fazer shows e meter o pé na estrada assim que der. 

Por último, fica aberto o espaço para uma declaração de encerramento. Obrigado pela entrevista. 
Queria mais uma vez agradecer a vocês do Revoluta pelo espaço! É muito importante a gente manter o underground unido em momentos turbulentos e sombrios como estamos vivendo. E pra não perder o costume FORA BOLSONARO e todo seu clã nazifascista. 

Para conhecer: 

Facebook
Instagram

Para ouvir:

Bandcamp

Para assistir:

Willian Schütz
Willian Schütz é poeta e contista - autor dos livros "Insânia Mundana" e "Saudades do que não foi e voltará". Formando em Jornalismo, atualmente colabora no site Guia Floripa, na Assessoria de Imprensa da Fundação Cultural Badesc e no Portal CLG. Já passou pelo IFSC e pela SST. Além disso, é cineclubista de carteirinha e acompanha de perto a cena musical alternativa de Florianópolis.

2 thoughts on “SNOW: rápido e pesado, alto e lento

Comments are closed.

Top