You are here
Home > Entrevistas > A volta dos que não foram

A volta dos que não foram

Hoje em dia qualquer adolescente pode montar sua banda, gravar seu som, clipe e espalhar pelo mundo afora. Há vinte anos, o cenário era o mesmo, porém, tudo era mais lento, caro e difícil. E foi nessa época que Andre? Nisgoski (guitarra, vocal), Carlos “Piu” Schner (baixo) e Fred Duba (bateria) iniciaram a vida dentro da música, nas bandas Resist Control e AMF.
Em 2014, eles já não são mais adolescentes mas resolveram juntar os trapinhos e montar uma nova banda, usando e abusando das facilidades que os mesmos jovens de hoje utilizam para lançar as suas bandas. Porém, com um diferencial: uma bagagem gigantesca nas costas, com objetivos bem mais claros e com os dois pés no chão.
E essa brincadeira de gente grande se transformou no Macumbazilla, que já apareceu com um EP, video clipe e merchandising de primeira. Estão prestes a lançar um disco completo, com o que eles chamam “melhor estilo rock de bêbado”. Não entendeu? É só dar uma conferida nos vídeos das gravações e perceber alguma garrafa de cerveja por perto.
Parte do contato feito para a entrevista foi via correio, relembrando como trocávamos materiais na época analógica, mas a entrevista foi feita mesmo por e-mail: aproveitando todos os recursos que os jovens músicos iniciantes têm hoje. E os velhos também!

por Márcio Sno

Depois de vinte anos, como é voltar a tocar em uma banda?
Piu: Eu saí do Resist Control em 2000, meu último show com eles foi abrindo para o GBH aqui em Curitiba. Nesse meio tempo, tive alguns projetos sem expressão para não ficar parado e dei uma força ao pessoal do Choke em alguns shows. Eu conhecia o André e o Fred há algum tempo, eles tocavam no AMF, então sempre nos encontrávamos nos shows aqui em Curitiba.
Em 2010 eu queria montar uma banda, então chamei alguns amigos, entre eles o Bruno Hoffmann e o André. Queríamos tocar stoner, tanto que começamos tirando um cover do Fu Manchu, se não me engano! A banda se chamava Winterbolt. Trocamos de batera umas duas vezes, então chamamos o Fred. Este projeto acabou não vingando.
Já em 2012, nos reunimos novamente como um trio e resolvemos começar as composições próprias mesmo, tocar o que queríamos, sem ficar muito presos a um pensamento de qual onda seguir, acabou virando a mistureba sonora que é hoje.
Sobre o nome Macumbazilla, só a cerveja poderia explicar melhor!!! Mas basicamente é uma mistura de Macumba com Godzilla.

Qual a diferença em tocar nos anos 90 e hoje?
Piu: São épocas muito distintas. Nos anos 90, era tudo mais difícil em termos de produção, tínhamos que nos virar com instrumentos ruins e estúdios caríssimos. A mídia utilizada era a fita cassete, então tínhamos que nos virar para gravarmos estas fitas em casa, me lembro de ter gravado mais de 1500 fitas do Resist Control em casa, uma por uma e depois enviá-las pelo correio, escrevendo manualmente cada carta. Éramos 100% dependentes dos Correios. Tinha esse lance do material físico: fita, capa, release, foto, flyers, etc… Tudo o que coubesse dentro de uma “Carta Social”. Eu, particularmente, tenho saudades de receber em casa essas cartas.
Hoje em dia, a produção e gravação das músicas é absurdamente mais fácil, podemos gravar aqui, mixar e masterizar fora do país. A velocidade de divulgação e, consequentemente, o alcance do seu trabalho chega a ser exponencial. Por outro lado, toda essa facilidade tem um preço: a quantidade de bandas ruins, abaixo da linha da mediocridade é gigantesca. Ainda temos que aprender como realmente tirar vantagem de toda essa tecnologia, não existe um modelo definido.

E como é iniciar uma banda com uma bagagem bem maior (musical e pessoal) que naquela época?
Piu: Quando começamos a tocar, lá no início dos anos 90, não fazíamos outra coisa a não ser estudar/trabalhar, ensaiar e fazer shows, vivíamos pelo e para o Rock, ninguém dependia da gente.
Iniciar uma banda na nossa situação atual foi um pouco mais complicado. Esposa, filhos e trabalho: conciliar tudo isso e ainda tocar em uma banda, todo e qualquer passo precisa estrategicamente calculado, aí é que entra a nossa bagagem. Já sabemos onde queremos chegar e como, então é colocar em prática o que aprendemos em anos e anos de acertos e erros com nossas bandas anteriores e fazer esta banda vingar.

Apesar do som “direto e reto, sem frescuras”, no EP de estreia vocês contaram com nomes importantes na mixagem e masterização. Por que optaram trabalhar com eles e como foi a experiência?
André: Direto e reto não se refere a um nível de composição das músicas, nós deliberadamente não ficamos enchendo as músicas de firulas e montagens com tempos estranhos, não necessariamente dita que devemos optar por ter uma produção tosca. Foi um prazer poder trabalhar com pessoas que entendem de rock e vivem do mesmo. O Mike Supina (guitarrista do A Wilhelm Scream) foi uma opção meio natural, somos amigos desde 2010, e quando ele ouviu as prévias das músicas ele cogitou a ideia de mixar, e assim começou nossa parceria. Parceria essa que continua na realização do nosso álbum que está sendo mixado por ele também. Quando estávamos procurando alguém para masterizar o EP, o André Hernandes (guitarrista do André Mattos), indicou o Roy Z, que por sorte estava vindo ao Brasil trabalhar com outras bandas, e acabamos por nos conhecer em um churrasco, daí pra frente, fluiu com naturalidade.

Que loucura foi essa de numerar manualmente as 666 cópias do EP?
André: (risos) Falou bem, loucura mesmo! Na verdade, queríamos lançar um número limitado de edições do EP. O primeiro número que veio na cabeça foi 666. Já o esquema de numerar manualmente, é porque sai mais caro fazer em gráfica! E todo mundo que adquirir um EP sabe que ele passou pela mão da galera da banda mesmo, ou seja, tivemos envolvimento com qualquer coisa que chegar a uma pessoa que comprou um material nosso.

O que seria exatamente fazer um som “no melhor estilo rock de bêbado”?
Fred: (risos) Isso é coisa do nosso RP, o André Smirnoff! Além dele ter um mundo de contatos, tem o dom da palavra pra ser escrachado. E como nosso som é sem frescura – é porrada, redondo, na cara… É rock de verdade – ele encaixou essa frase. Talvez pelo lance do stoner e tal. Minha interpretação pessoal é a seguinte: Não importa se a nossa música vá te servir como coadjuvante, de som de fundo, pra uma noitada com a galera no bar, ou como protagonista pra você relaxar em casa escutando um puta som pesado de qualidade e pirar nos timbres, melodias e o caralho… a gente taí pros dois.

Na música “Blood, Beer and Broken Teeth” tem a participação de Tiago Martins na harmônica. Como foi inserir esse instrumento na música?
Piu: O Tiago fez uma participação especial na gravação do vídeo desta música para o Estúdio Tenda. No EP foi o André quem gravou as harmônicas. Nós adoramos blues, Hank Williams e Johnny Cash, então inserir este tipo de instrumento foi um lance natural.

O clip de “The ritual” é um dos mais bem produzidos dos últimos tempos, lançado por uma banda independente. Como foi o conceito do clipe, as gravações, direção e edição?
André: Em primeiro lugar, obrigado pelo seu comentário, Sno! Na verdade, fizemos o clipe de maneira tão simples que ouvir de você que é um dos mais bem produzidos, nos deixa muito felizes! Cara, começamos a ideia do clipe com um mega roteiro animal, lá no começo, mas nos deparamos com a dura realidade de que não tínhamos dinheiro para a produção!! (risos) Daí em diante optamos por estudar referências que focassem mais na banda tocando. Conseguimos um galpão emprestado com um grande amigo nosso que é músico também, por sinal baterista da banda Brave Heart, aqui de Curitiba, e chamamos o Rafael Forte, que fez a direção de fotografia também, e o Rafael Burgos para filmarem. São dois excelentes fotógrafos, daí fica fácil conseguir bons takes! Mas foi tudo bem na raça mesmo. Duas câmeras, dois pontos de luz e rodando!!! Óbvio que a filmagem terminou em churrasco, pizza e bebedeira. A edição foi feita aqui em casa mesmo, começamos a editar e o Rafael Forte deu mais pitacos na edição, acabou dando tudo certo.

O clipe passou dos 1.000 views em menos de um dia. O que fizeram para atingir tanta gente?
Fred: Cara, isso é culpa, basicamente, do histórico do André e do Piu, lançando material de qualidade e permanecendo na cena rock da cidade por anos a fio, de uma forma ou outra. Esses dois fazem parte da cara e história do rock pesado de Curitiba. Se você conhece o som porrada daqui, você sabe quem são eles. Aí eles resolvem montar um banda juntos. Claro que a galera foi atrás! Falo isso como fã!

Já pensam na próxima música para um novo clipe?
André: Pensamos em várias, com a gravação do disco, mas não temos uma escolha definitiva ainda. Hoje em dia o clipe acabou se tornando um meio muito bacana de divulgação, esperamos que para o disco possamos fazer mais do que um ou dois.

Antes mesmo de gravar o disco full, vocês investiram pesado no merchandising. O que vocês têm de material e como é possível adquirir?
Fred: Nós temos o EP com nossas primeiras 3 músicas, adesivo da logo, bottons com 3 artes diferentes, o patch, a camiseta e o poster com a ilustra fodástica do Marco Donida. Quem curtir a banda e quiser nos apoiar, basta entrar em contato conosco no inbox do Facebook ou mandar um email pra gente no macumbazilla@gmail.com. Tudo completamente independente ainda, sem intermediários. Em breve, teremos a “lujinha” online (risos).

No que a venda desse material pode contribuir para a banda?
Fred: Contribui com o óbvio! Ou seja, investimento total na banda. Não vendemos a camiseta a 35 pila pra tomar bera depois. Pegamos essa grana e fazemos mais 2 camisetas, por exemplo. O negócio é divulgar, porque acreditamos na nossa música! Queremos que o roqueiro da terra ouça falar da gente, vá escutar o som, e tenha sua bunda chutada!!!

Vocês acabaram de gravar as 10 faixas do disco full. Como foram as gravações e a produção?
Piu: Nós mesmos produzimos tudo. Quando lançamos o EP em setembro de 2014, já tínhamos 80% destas músicas prontas e já vínhamos ensaiando, então em dezembro a gravação foi bem tranquila. Nós acreditamos na máxima: “Em time que está ganhando, não se mexe!”, gravamos no estúdio Seko Audioworks aqui em Curitiba, a mixagem deve estar começando nas próximas semanas, pois a banda do Mike está em tour com o Pennywise no momento. A masterização vai ser do Roy Z. Serão 10 novas músicas e elas estão mais pesadas e rápidas que as músicas do EP, estamos muito felizes com o resultado das gravações.

Há previsão para o lançamento? Sairá de forma independente ou por algum selo?
Piu: Se tudo der certo e o dólar não subir demais, devemos lançá-lo no final de maio/junho deste ano. Será de forma independente, não fomos atrás de gravadoras ou distribuição (ainda!), mas estamos abertos a negociações.

Pelos vídeos das gravações em estúdio, a cerveja foi o combustível da banda. Quais foram as marcas top dessa gravação?
Piu: Ultimamente surgiram muitas cervejas boas produzidas no Brasil, algumas delas premiadas internacionalmente. E Curitiba é a cidade com o maior número dessas cervejas, então temos muita sorte! Destacar somente uma marca seria uma injustiça!

Lembro que nos anos 90 a cena roqueira de Curitiba era muito efervescente. Como está hoje em dia?
Piu: Curitiba continua sendo uma usina musical criativa e diversificada, sempre nos brindando com excelentes bandas, tais como Semblant, Imperious Malevolence, Corram para as Colinas, Brave Heart, Kingslayer, Os Transtornados Do Ritmo Antigo, Livin Garden, .50, Audac, Uh La La, etc… Tem pra todos os gostos, eu particularmente gosto é da diversidade e da qualidade das bandas locais.

Com o lançamento do disco, qual será o roteiro do Macumbazilla?
André: Creio que o “roteiro” é aquele básico, tentar alcançar o máximo de pessoas, participar de festivais e fazer som, não temos nenhuma expectativa fantasiosa. O que importa é subir no palco para tocar o mais pesado possível!

Top