Split: Galinha Preta / Terror Revolucionário Räskuño by Deise Santos - junho 27, 2016janeiro 30, 20180 Galinha Preta / Terror Revolucionário – Live Conic Split (Karassu Killer – 7”EP/2016) Por Pedro Poney O Conic em Brasília foi o lugar que as bandas Terror Revolucionário e Galinha Preta escolheram para fazer e registrar um show em outubro de 2015. São poucos mais de cinco minutos de cada lado registrados com impecável qualidade de produção, além de trazer cada grupo fazendo uma versão da outra. Se rock é precisão de corpo e espaço, o hardcore-punk é a versão mais radical desse processo intenso de sentir a música na carne. Quem sabe disso melhor é quem já sentiu a guitarra do Bones como uma motosserra na barriga. E de alguma maneira as duas bandas aqui transitam nesse universo dos filhos legítimos e bastardos do Discharge. O Galinha Preta soa cada vez mais como a atualização do século XXI das bandas da primeira geração do punk brasileiro. Sabe aquela simplicidade cativante do Fogo Cruzado, Psycóze, aquela abordagem crua sobre o cotidiano mais banal que acaba revelando muito mais sobre o mundo que vivemos do que a aparente simplicidade dos versos. A diferença talvez esteja no bom humor do mestre-do-som Frango, que sabe que uma boa piada é uma grande arma. O Terror Revolucionário soa muito mais violento. O crustcore de bandas como Doom e Extreme Noise Terror são as principais referências aqui, mas há muito mais. Com uma trajetória de 17 anos de produtividade incessante no underground, o Terror vai acumulando influências do punk brasileiro dos anos 80, do grindcore mais podre e mesmo do crossover/thrash. A música “Morrer/Partir” (que nome!) mostra a genialidade do Capitão Barbosa em transformar a guitarra em instrumento de violência. As referências externas são muitas e bem-vindas, mas o que talvez torne as músicas deste registro mais especiais é que para além do “hardcore kaos” ou do “hardcore livre” praticado e autonomeado pelas próprias bandas, há algo de tipicamente brasiliense no som que escutamos aqui. Algo difícil de definir com palavras, talvez a melhor dela seja “peão”, no melhor dos sentidos que essa expressão jamais possa ter. O importante é o seguinte: quando nos aproximamos realmente do local é quando podemos ter acesso ao que há de mais universal. E como o melhor do underground é quando se mistura a produção com a própria vida, a escolha do Conic para ser o espaço de registro desse material não poderia ser mais acertada. A história de vários membros das bandas está imbricada com o Setor de Diversões Sul, simplesmente porque são trajetórias que são inseparáveis da própria produção underground do Distrito Federal. Fellipe CDC trabalhou na extinta Head Collection. Frango começou a mexer com som experimentando no antigo estúdio Caustico Lunar (lugar de registro de vários clássicos esquecidos da nossa cidade). Barbosa foi balconista da RVC Discos e por muitos anos foi o cabeça – e mente maligna – do Caga Sangue Thrash, que transformou o underground brasiliense na década passada. Hudson também ajudou a vender discos na Berlin por um tempo. Adriana Maria frequentava o encontro dos punks no começo da década de 90 na praça central do Conic. E todos eles passaram muitas vezes por ali e continuarão a passar. A cidade está viva, nós estamos vivos. E o underground é o puro fluxo e troca dessa duas instâncias. Vida longa ao Terror, ao Galinha e ao Conic. Vida longa ao underground. Compartilhe!!