Por Márcio Sno

Quando se está envolvido no punk, prega-se a liberdade de expressão, a não-autoridade, o desrespeito de normas, fazer tudo do seu jeito. Isso funciona perfeitamente na adolescência, época mais comum de rebelar contra tudo e todos.
Para Jim, vocalista do Pennywise e que prega tudo o que foi dito no parágrafo anterior, tudo vai caminhando conforme manda a cartilha punk, até que sua companheira Jennifer o surpreende com um exame de gravidez positivo. A partir desse dia sua vida muda, pois tudo passa a girar em torno da criação de suas três filhas.
Muitos dilemas começam a povoar sua cabeça, como programar shows e turnês levando em consideração sua agenda doméstica, a relação com os vizinhos e pais dos coleguinhas da escola que têm vidas “normais”, as aventura de cuidar das crianças sozinho e, o mais complexo, como educar sem entrar em contradição com aquilo que defende nas letras de sua banda e no seu estilo de vida. Afinal, como impor autoridade quando se tem em seu set list uma canção chamada “Fuck Authority”?
Além dessas angústias que acompanham a narrativa durante todo o livro, é possível também conhecer os bastidores nada glamourosos de turnês de bandas punks (nada de hotéis 5 estrelas, banquetes e jatinhos fretados: o negócio é van apertada, alimentação nutricionalmente incorreta e odores nada agradáveis de pés e axilas), conflitos de gerações, o quanto as letras das músicas ficaram menos agressivas após a paternidade, a relação com fãs nos momentos das obrigações familiares (importante essa parte para você que encontra seu ídolo em um dia ruim e acha – e espalha – que ele é arrogante), os macetes para ser bem atendido na maternidade durante o trabalho de parto e as dificuldades em lidar com as personalidades distintas de suas filhas.
A forma como Jim conta a história é muito agradável, dando a impressão de estar sentado com ele em um boteco trocando ideias. E isso faz com que a leitura flua bem.
O prefácio fica sob responsabilidade de Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish,  que não pode acompanhar o parto de sua filha, pois estava em outro estado com sua banda. Na versão e-book tem depoimentos de algumas personalidades da cena punk nacional, incluindo esse que vos escreve.
Um ótimo guia não só para quem está no meio do rock, mas para quem resolveu (ou foi envolvido) nessa vida de responsabilidade vitalícia de ser pai.

TÍTULO: Papai Punk – Sem regras, só a vida real
AUTOR: Jim Lindberg
EDITORA: Belas Letras
LANÇAMENTO: 2018