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J.M.K.E. – Tere Perestroika

J.M.K.E. é minha banda favorita, e não poderia ficar de fora do PunKontexto.

Külmaale Maale (1989) é o primeiro álbum da banda, e Tere Perestroika é a música mais conhecida do disco. Aqui no Brasil, J.M.K.E. ficou conhecida por causa de uma fita VHS com vídeos de bandas finlandesas como Lama, Riistetyt, Kaaos e Bastards.

créditos da imagem: suomipunk.blogspot.com

Sua presença ao lado de outras bandas finlandesas e as legendas em finlandês, idioma parecido com o estoniano, fez muitos acreditarem que a banda também é da Finlândia, quando na verdade é da Estônia.

A gravação de J.M.K.E nessa fita foi tirada de um programa de TV estoniano que promoveu um concurso musical. Acredite ou não, Tere Perestroika foi a música vencedora.

Pretendo colocar mais músicas do J.M.K.E neste blog porque é interessante acompanhar pelas letras das músicas a transição da Estônia como parte da União Soviética para um país independente sob influência cultural do ocidente. Ou melhor… dos Estados Unidos.

Tere Perestroika é uma saudação sarcástica às novas políticas da União Soviética pouco antes de seu fim, como se fossem a solução definitiva para todos os problemas do país.

j.m.k.e. – olá perestroika

o céu está limpo, o mar está azul
agora todos respiram fundo
o martelo e a foice não estão machucando mais ninguém
agora eles significam para nós o trabalho feliz

olá perestroika, democracia
uma nação escapando das garras da ditadura
olá ditadura, olá pico de felicidade
a bandeira vermelha não parece mais tão terrível

o trator ara o campo, as árvores dão frutos
“rahva hääl” (“a voz do povo”, jornal estoniano) não mente mais
agora os filmes censurados são exibidos no cinema
agora bandas censuradas podem ser ouvidas

olá perestroika, democracia
uma nação escapando das garras da ditadura
olá perestroika, olá liberdade
agora as músicas dos escoteiros são cantadas por todos
auuu, auuu, auuu (cantarolando)

agora, o uniforme das milícias não te dá mais nojo
pode até se dizer que é feito de prata
olhe, a milícia e os punks
agora são amigos e dão as mãos

olá perestroika, “ta de ri de ra” (cantarolando)
agora a terra pertence à você e eu
e em cada aniversário – um grande outubro
as pessoas vão celebrar em júbilo, auuu, auuu, auuu (cantarolando)

nenhum poço irá secar em virumaa
(Virumaa é uma região da Estônia perto da fronteira com a Rússia)
um avião pousa em frente ao mausoléu
não há democracia tão grande quanto esta!
e você admira tudo isso boquiaberto

bônus I

J.M.K.E., principalmente pela figura de Villu Tamme, guitarrista e vocalista e único membro original, é muito conhecida na Estônia. No país, são muito populares os festivais de canto ao ar livre, e em 2008 Villu Tamme ajudou a organizar o Punk Laulupidu, um festival só com músicas punks.

O festival contou com a presença de Toomas Hendrik Ilves, então presidente do país, cantando Anarchy in the U.K. dos Sex Pistols junto com Villu Tamme.

bônus II

A Estônia é um país bem pequeno. Sua população em 2015 era de aproximadamente 1.300.000 habitantes. De acordo com o Censo de 2010, isso equivale à soma dos seguintes bairros de São Paulo: Grajaú, Jardim São Luís, Cidade Ademar, Jardim Ângela e Capão Redondo. O país não é nem a Zona Sul inteira de SP.

Pedro Padron
Baixista e vocalista da banda Weirduo, mantém a coluna PunKontexto onde publica traduções e interpretações de músicas de bandas punks em idiomas diferentes do português.
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