
O objetivo do PunKontexto é traduzir e interpretar letras de bandas punks em outros idiomas, mas nem sempre o resultado é agradável. “Ciganský Problem” do Zóna A é um desses casos.
Zóna A é uma banda da Eslováquia que surgiu em 1984 e continua na ativa até hoje. Meu primeiro contato com a banda foi o álbum V Životnej Forme (1996), uma maravilha de punk rock do começo ao fim. Pouco tempo depois, fui atrás do resto da discografia e ouvi o primeiro disco Potopa (1990) e encontrei uma música chamada “Ciganský Problem”. Por um bom tempo, imaginei que essa música falava de problemas enfrentados por essa população.
Ledo engano…
zóna a – ciganský problem
à escola e ao exército eles não vão, aqueles de pele escura
anéis e correntes de ouro que custam mais do que salário anual
recebem pensão por deficiência porque parecem estúpidos
estão se reproduzindo como coelhos, enchendo os noticiários policiais
problema cigano, é preciso resolvê-lo
um problema gigante, e é seu também
que situação estranha na qual estamos presos
o homem branco trabalha duro enquanto mais crianças ciganas nascem
você se fode com impostos, e o cigano dá risada e rouba
vivem de pensão para os filhos, um enorme gasto estatal
https://www.youtube.com/watch?v=wlh6xvU1CfU
Como se a letra não bastasse, aqui vão algumas outras ~curiosidades~:
- Não à toa, essa música foi regravada por uma banda nazi chamada Juden Mord, também da Eslováquia;
- Ciganský Problem estava presente na versão em K7 do álbum mas não foi incluída no formato LP. Anos depois, foi adicionada “escondida” como faixa bônus em um relançamento em CD;
- Recém-convertido ao catoliscismo, o vocalista Konýk (Peter Schredl) é figura carimbada em manifestações de extrema-direita;
Para quem quiser cavar esse buraco mais a fundo, deixo aqui duas referências de um site tcheco que já vem denunciando a banda há tempo:
- http://www.antifa.cz/content/zona-konykuv-coming-out
- http://www.antifa.cz/content/monsignore-schredl-trojsky-konyk-xenofobie-v-punku
Aparentemente, nada disso impede que a banda seja convidada frequente de festivais com outras bandas punks tanto na Eslováquia quanto na República Tcheca. Fica como exercício ao autor deste post, à leitora e ao leitor, refletir sobre casos parecidos aqui no Brasil…