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Punk rock canadense pra pura diversão

Uma banda composta por caras acima de 40 anos, que já são pais, querem sentir-se jovens e se divertirem no tempo livre, assim é a The Foul English, banda de punk rock e hardcore, formada em Alberta, no Canadá.
Num bate-papo descontraído, o guitarrista e vocalista Nick False falou sobre a formação da banda e o EP recém-lançado, além da cena underground canadense e o impacto da pandemia em seus planos.
Confira!

Entrevista por Marcelo Fernandes
Fotos por Mark Preston

Por que o nome The Foul English?
O nome vem de duas principais influências: a primeira é o clássico punk rock 77 de bandas como The Clash, Sex Pistols e Genetation X. Aquelas bandas inglesas bagunceiras. A segunda influência para o nome vem da minha mãe. Em 1971 e 1972 ela viajou para a Europa e se tornou uma guia de turismo em uma empresa de ônibus de excursão. Essa empresa levava muitos jovens turistas ingleses para a Itália e Grécia. Os turistas ingleses frequentemente se comportavam mal e a empresa de turismo se referia a eles como “os ingleses bagunceiros”. Minha mãe sempre entretinha a mim e a minha irmã com essas histórias durante o jantar e eu realmente gostava do nome.

Quem são os membros da banda? Vocês tocaram em outras bandas anteriormente?
Nós todos somos pais com mais de 40 anos e tocar no The Foul English é um momento em que nos sentimos mais jovens. Muitos caras de nossa idade escolhem beber cerveja assistindo um jogo de hóquei ou jogam golfe no fim de semana. É isso o que a banda representa para nós.
Eu sou Nick False. Toco guitarras e canto. Anteriormente toquei nas bandas Action Cats e Knifedogs. Stephen Rubletz toca guitarra e é o vocalista principal no Hold Fast. Ele tocou anteriormente na banda Dirtbag Deluxe. Davis Sereda toca baixo. Ele tocou anteriormente na banda Trapped Like Rats. Mike Semenchuck toca bateria. Ele tocou em várias bandas anteriormente, mas a principal foi a banda de rockabilly Rhythmaires. Recentemente nós adicionamos Aaron Booth na guitarra. Ele é muito talentoso e esteve em várias bandas. Ele tocou na Star City Lights, e ainda toca baixo com Chris Vail na banda Vail Halen.

A banda soa como bandas do início do punk, mas com ótimos sons de guitarra. Esse é o tipo de som que vocês buscam ou é apenas uma fase da banda?
Este é definitivamente o som que queremos fazer! Pegamos a sonoridade dessas bandas punk inglesas e o modernizamos. Eu sou fissurado em tocar guitarra e realmente tento fazer o meu melhor. Nós somos assim também com as letras. Crescendo por tocarmos juntos. A maioria das letras do primeiro disco foram escritas unicamente por mim. David e eu escrevemos “Dadcore” e “New Brothers” juntos e nós realmente nos conectamos trabalhando juntos. Nós temos cerca de 12 músicas novas, prontas para gravar para o novo disco, mas a pandemia e o lockdown colocaram um freio nos nossos planos.

Vocês são de Alberta, no Canadá. O que podem nos dizer sobre a cena underground na sua cidade? Nos dê os nomes de algumas boas bandas locais:
Infelizmente parece que música ao vivo e o interesse em música está em declínio, mesmo antes da pandemia. Nós perdemos alguns dos poucos bons espaços para shows em 2019 (antes da pandemia) e eu temo que as coisas ficarão ainda piores. Eu acho que os jovens canadenses não curtem tanto música e shows quanto eu curtia quando tinha 25 anos. Eu não vejo muitos jovens montando bandas ou indo aos shows.
Há ainda ótimas bandas na nossa cidade e nos arredores que devem ser conhecidas. Nós particularmente gostamos das bandas  The Pagans of Northumberland e Territories, ambas com membros da banda lendária de Calgary Knucklehead, assim como da banda de hardcore Citizen Rage, da banda de surf music instrumental The 427’s e da banda de garage rock Thee Primitive Sound, de Red Deer, uma pequena cidade a cerca de uma hora e meia distante de nós. E Raygun Cowboys, que é uma banda de psychobilly com uma parte de metais. Eles são de Edmonton, Alberta.

Vocês têm um disco autointitulado de 2016 e lançaram, recentemente o “One More Day”. O que vocês podem nos dizer sobre estes discos?
O nosso disco autointitulado foi gravado em cerca de 5 dias no porão de uma feira de produtos usados, que era usado como matadouro. Nós gravamos tudo ao mesmo tempo e de uma vez só. Nosso grande amigo Scott Nickless fez toda a gravação e mixagem. Nós queríamos muito que soasse como um disco de 1981, e eu acho que nós conseguimos. O som é raivoso, sujo e cru, muito influenciado pelo disco “How Could Hell Be Any Worse”, primeiro disco do Bad Religion , e acho que nós chegamos muito perto disso.
O EP “One More Day” era parte de uma sessão de gravação de cinco músicas que nós fizemos em um dia livre entre os shows que fizemos com os australianos Dune Rats. Eu negociei alguns equipamentos por tempo no estúdio com meu amigo Graham Riddle. Nós entramos no estúdio por um tempo e decidimos lançar o “One More Days” como um EP de 7” e incluímos a cover do clássico punk “Your Generation”, do Generation X. Foi gravado principalmente ao vivo, mas agora fizemos uma pós-produção, numa abordagem um pouco mais profissional. O selo californiano Pirate Press prensou os discos para nós na República Tcheca e nós lançamos em fevereiro de 2020 com um grande show em uma cervejaria. Nós ainda não sabíamos que tudo seria fechado duas semanas depois. Nós não fizemos mais shows depois disso.

Alguns de vocês estiveram recentemente no Brasil. Quais as melhores e piores memórias vocês têm dessa viagem?
Stephen e eu viajamos pelo Brasil por 46 dias, em 2000. Nós fomos para o Brasil após conhecer um brasileiro chamado Robson Lemos, que cursava ciência da computação na Universidade de Calgary. Nós compartilhamos o amor pelo skate e ele nos convidou para visitá-lo quando ele fosse ao Brasil ver os parentes e amigos. Nós primeiros fomos a São Paulo e ficamos na Mooca. Nós tivemos muitas aventuras com nossos amigos Robson e Edu. Nossa música “Save our City” é sobre a nossa passagem por São Paulo. Nós então fomos para Florianópolis e ficamos em uma casa perto da praia em Canavieiras e surfamos todos os dias. Uma vez, durante uma sessão de skate, Robson caiu e quebrou o pulso, tendo que voltar ao Canadá para fazer uma cirurgia. Stephen e eu decidimos ir a Curitiba, pois haveria um show do Motorhead. Acabamos assistindo também os incríveis shows do Ratos de Porão e dos Catalépticos, não me lembro do nome do lugar dos shows.  Andamos bastante de skate no skatepark da Drop Dead.
Nós achamos incrível como todos são receptivos no Brasil. Antes de nós irmos, várias pessoas no Canadá nos diziam que o Brasil era perigoso e assustador, e nós achamos que seríamos roubados e mortos logo no primeiro dia. Isso não aconteceu. Sempre que viam nossos skates ou camisas de bandas punk éramos tratados como amigos. Nós fizemos muitos amigos e tivemos ótimos momentos aí.

Como vocês analisam o impacto da internet na cultura underground?
Eu acho que há impacto positivo e negativo na cena underground. Ela impactou positivamente por facilitar o acesso a música do mundo inteiro. Nós podemos facilmente nos conectar com bandas e músicos do mundo todo. Essa entrevista é um exemplo disso! Pelo lado negativo, há acesso a tanta informação que causa uma saturação. Como há abundância de músicas, isso acabou fazendo com que a maioria das pessoas não deem o valor devido. O trabalho duro e a paixão se tornaram dispensáveis para a maioria das pessoas.
A internet também trouxe junto ideias extremas e permitiu que pessoas com ideias terríveis encontrasse outras iguais, amplificando suas mensagens negativas. Nós devemos ficar juntos e eliminar as ideias de extrema-direita que estão crescendo na cena underground e na internet em geral.

Por favor, deixe algumas palavras finais para os nossos leitores:
Obrigado Marcelo por essa oportunidade de ser conhecido no Brasil. Por favor ouçam The Foul English no Bandcamp, AppleMusic, Spotify e no YouTube. Muito amor para nossos amigos no Brasil e muito amor para Las Calles.

Para conhecer e acompanhar:

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Para ouvir:

Marcelo Fernandes
Professor de Geografia na rede estadual do RJ e faz parte das bandas Solstício, Las Calles e Bulldog Club.
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