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The Ratz: renovando a velha escola

Guitarras sujas, baixo pesado e cadência na bateria entregam as influências que esse quarteto carrega e que reconfigura com muita destreza sonora no século XXI. Enfim, formada em 2016, em Connecticut, a banda The Ratz parece ter vindo de alguma garagem dos idos anos 1980.
Num bate-papo curte e direto, como o hardcore e o punk costumam ser, Jeffrey e Ines, guitarristas e vocalistas, falaram um pouco sobre a formação da banda, o punk conservador na cena underground norte-americana, a mulher na cena punk/hardcore e os planos pós-pandemia. Confira!

Entrevista por Marcelo Fernandes

O que vocês podem nos dizer sobre o início da banda? Vocês já se conheciam antes de formar a The Ratz?

Jeffrey: Do início até o nosso primeiro show foram duas semanas. Eu tinha um compromisso marcado em um clube e a banda cancelou, então ao invés de arranjar um substituto, comecei uma banda completamente nova. Eu já tinha uma quantidade grande de músicas escritas, então, por duas semanas nós trabalhamos em uma dúzia de músicas. Até gravamos nossa primeira demo nesse período. Matt e eu (Jeffrey Thunders) estávamos em outra banda na época chamada The Lost Riots, e Elvis e eu estávamos em uma banda que durou pouco tempo chamada Detroit 77 alguns anos antes. A química foi inexplicável. Nós realmente começamos a trabalhar. Depois que Ines entrou na banda, realmente decolou. Ela tem sido a força por trás da The Ratz desde o segundo em que começou conosco. Uma lufada de ar fresco e o chute na bunda que precisávamos.

A música de vocês mistura muito bem o punk rock com a agressividade Hardcore. Isso foi proposital? Quais bandas mais influenciaram vocês?

Jeffrey: Nós sempre dissemos que nós temos um som old school. Hardcore/punk da Costa oeste do início dos anos 80. Nós não planejamos ter um som específico. O que surge é o que você ouve. Nós não estamos pensando em ganhar algum prêmio ou sermos estrelas do rock. Nós apenas queremos nos divertir fazendo o som que amamos. Obviamente fomos influenciados por Black Flag do início, The Adolescents, Seven Seconds, Jerry’s Kids, Necros, Bad Brains, The Germs, Minor Threat, Circle Jerks, Dead Kennedys, Gorilla Biscuits, Cro-Mags, Youth of Today, Sick of it All, SSD e muitos outros.

Connecticut é o berço de ótimas bandas, várias inclusive conseguiram projeção mundial. O que vocês podem nos contar sobre a cena underground na sua área?

Jeffrey: Nós estamos em uma boa localização aqui em Connecticut. Estamos tão perto de Nova Iorque, Boston e Filadélfia. Apenas algumas horas de distância. A cena punk que temos aqui é muito unida e se apoia. Basicamente todo show é cheio de membros de outras bandas. Quando as bandas têm sessões de fotos, todos usamos camisas das bandas amigas. Inclusive participações especiais nos álbuns uns dos outros. É um grande festival de amor não-hippie! Algumas bandas da nossa cena musical para você conferir:
Killer Kin
Damn Broads
Cry Havoc
Easy Killer
The Lost Riots
Zombii
The Hempstead’s
The Screw Ups
Sonorous Rising
White Thrash
Productive Member
Down With Rent
Ditch Boys
Johnny Cab
The Pist
Copyright Chaos
Chem Trails
Nightmare Solution

Em uma conversa recente com um de vocês (não sei exatamente com quem!), falamos sobre o apoio de algumas pessoas ligadas a cena Punk/Hardcore ao governo Trump. E na torcida pela sua reeleição. Na opinião de vocês, o que pode ter causado isso?

Ines: Era comigo que você estava falando. Para ser sincera eu não entendo o apoio que os punks conservadores dão ao Trump. Ele já provou que é racista, xenófobo, sexista e homofóbico, o que é totalmente contrário ao que é o punk. Para ser honesta, eu não considero punks conservadores como punks! Eu não estou dizendo que todo mundo tem que ser democrata, porém você não pode se autoproclamar punk e seguir alguém como ele. Punks sempre foram os marginais e esquisitões da sociedade e nós não seguimos normas sociais e essa é a beleza do punk. E a beleza do punk significa ser corajoso e sujo, mas seguir suas emoções. Punks conservadores se ajustam às normas sociais ao invés de se rebelarem e não têm nenhuma ideia do que é união. Os punks conservadores são os punks do mal, para ser honesta. O Estado vai sempre nos ferrar, mas não podemos permitir que se crie divisões entre as pessoas. Nós deveríamos ser unidos e lutar contra o inimigo real. É por isso que nossa música é o que é, e algumas pessoas irão entender e outras não, mas nós não nos envergonhamos de nada!

Esse ano tem sido marcado pela ampla cobertura dos assassinatos de pessoas negras pela polícia em diferentes lugares dos EUA. O racismo da sociedade se refletiu na cena Punk/Hardcore? Ou o underground é um lugar seguro para minorias?

Ines: Eu só posso falar por Connecticut e o que eu concluo é que nós não permitimos nenhum tipo de racismo ou intolerância de qualquer natureza em nossa cena. Nós nos protegemos e não permitimos que ninguém mexa com nossos amigos. Eu sou porto-riquenha e recebi muito apoio ao entrar na cena. Nós cuidamos uns dos outros! Ódio ou ignorância não são permitidos nos nossos shows e os verdadeiros punks de Connecticut sem dúvida desprezam os nazistas.

Ines, como mulher, como você vê a cena Punk/Hardcore? Você acha que ela aceita bem as mulheres ou há muito a melhorar?

Ines: Estando há dez anos na cena punk, eu vi uma quantidade grande de caras avaliando minha banda, Damn Broads, antes de tocarmos. Mas não demos atenção e apenas tocávamos. Nós não estávamos tentando ser sexy ou algo do tipo. Nós apenas queríamos tocar e escrever músicas. Existem caras assustadores, mas na maioria das vezes eu que os assustava!
Em relação às minhas duas bandas (The Ratz e Damn Broads), nunca foi hostil para uma mulher estar na cena punk. Eu conheci algumas das minhas melhores amigas em shows punks e nós apoiamos umas às outras. A melhor coisa sobre a cena punk é encontrar sua tribo e todos nós compartilharmos nosso amor pela música punk. Além disso, também conheci caras incríveis na cena punk, inclusive meus colegas de banda, então eu me considero uma pessoa sortuda e sou grata por isso!

Quais os planos da banda para o futuro pós-pandemia?

Ines: Nós esperamos escrever outro álbum e fazer mais shows. Nós adoramos fazer shows e sair por aí. Todos nós tocamos em bandas antes e todos nós compartilhamos do amor de estar no palco. Nós adoramos encontrar nossos amigos nos shows. Nós faremos uma grande festa assim que isso acabar, e vocês estão convidados. Muito obrigada e ouçam Las Calles HC!

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Para conhecer e acompanhar:

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Para ouvir:

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Para assistir:

Marcelo Fernandes
Professor de Geografia na rede estadual do RJ e faz parte das bandas Solstício, Las Calles e Bulldog Club.
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