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Mais que o mesmo de sempre: banda Soul Cream mescla soul e rock n’ roll


O quarteto palhocense estreou seu primeiro clipe em agosto e deve lançar um EP em setembro

Para experimentar o limiar entre criatividade e inspiração, quatro rapazes que já se conheciam, resolveram estreitar laços a partir de reuniões semanais no Octupus Soundbox, bem no Centro de Palhoça (SC). As primeiras reuniões, pouco antes do início da pandemia, trouxeram expectativas, junto com os primeiros ensaios. Assim, fazendo uma mescla de soul e rock n’ roll, Oliver Silvestre (baterista), Jorge Kloppel (baixista), Dierre Pichorz (guitarrista) e Renan Hänsch (vocalista), concordaram em formar a banda Soul Cream.
Inicialmente, o quarteto seguia com o plano de compor releituras hits dos dois gêneros norteadores da banda, sempre agregando uma identidade revigorada e, consequentemente, uma nova roupagem.
Mas conforme o entrosamento aumentava e arranjos surgiam de forma orgânica durante os ensaios, as composições completamente autorais começaram a surgir e a bagagem musical da Soul Cream foi aumentando junto com o crescimento do repertório.
Até que no último dia 25 de agosto, o grupo lançou seu primeiro videoclipe, da faixa autoral “Wolf Dress”. O debut ocorreu por meio da edição online do 5º Festival de Música da UFSC, promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Dado o início oficial aos lançamentos, a Soul Cream está organizando um calendário, que deve contemplar o lançamento de dois EPs. Um deles intitula-se “S.O.S – The Same Old Stuff” e deve sair digitalmente ainda no mês de setembro de 2021. O outro, por sua vez, já está planejado, assim como outras novidades que a “Soul” deverá adiantar a seguir.

Entrevista por Willian Schütz

Primeiro, por que o nome Soul Cream e de onde ele veio? Qual a origem desse nome?
Dierre: Acho que nome bom é um nome que tem trocadilho. E esse nome faz referência ao estilo de música que a gente tem como norte, que é o Soul, a música negra americana. Já o “Cream” faz uma referência ao Cream direto, porque é uma banda que fazia aquele rockão dos anos 70, que a gente gosta tanto.
Mas o nome também é um trocadilho com “sour cream”, que é o “creme de cebola”. E daí tem uma explicação profunda por trás, que é a seguinte: A banda surgiu com a seguinte ideia: nós vamos fazer versões de músicas que são conhecidas (ou não), mas que façam parte desse universo entre o rock e o soul. A gente faz versões rock and roll de músicas que são mais soul, e faz versões um pouco mais groovadas de músicas que são rock. A gente tá naquele meio do caminho ali. E daí teve uma viagem meio filosófica que é a ideia de que o sour cream, o creme de cebola, ele tem a cebola como base, mas ele não é a cebola, ele é um derivado da cebola. Ele é uma abstração a partir da cebola. E a gente pirou nessa coisa de que a gente faz rock, mas não é rock. Fazemos soul, mas não somos soul…. nós somos mesmo é uma derivação.

E a partir disso, que vocês são uma banda que fazem versões, qual é o limiar da criatividade? Até que ponto vocês se permitem ser autorais em cima de uma música que já existe?
Oliver: A gente começou a perceber o limite da criação e da versão principalmente na pandemia, onde não fazia muito sentido se esforçar em algo que tinha o objetivo de ser tocado em um show ao vivo. Foi dessa forma que, durante a pandemia, percebemos que nós poderíamos explorar outros lados da nossa criatividade e colocar esses nossos esforços na criação musical das versões em músicas autorais. E foi assim que surgiu a nossa ideia de começar a tentar compor as nossas próprias criações.

Dierre: Têm alguns elementos na música original que a gente pensa: “Esses elementos são obrigatórios que a gente mantenha, para que se tenha algum tipo de reconhecimento da canção, mesmo que isso seja algo bem subjetivo”. Mas, a gente tenta ser o mais original que possível. As músicas, as versões que a gente está fazendo, elas são nossas.

Como vocês trazem para a mesa quais músicas vocês vão tocar e como é esse processo criativo de fazer uma versão delas?
Renan: Cada um tem uma escola diferente, cada um veio de um estilo diferente de música que gostava. Então desde o princípio, a gente resolveu escolher músicas que tinham um sentido dentro desse contexto da banda. Uma música que é importante para um, outra música que é importante para outro… e trabalhar em cima disso, tentando fazer algo que seja o mais criativo possível em cima de cada música.

E como esse grupo foi formado? Como vocês chegaram nesses quatro nomes para integrar a Soul Cream?
Dierre: Cada um deles veio com um projeto diferente, eu fui conhecendo eles por motivos diferentes, com bandas diferentes, e a gente acabou se aproximando. Então para além da necessidade musical, têm uma questão de aproximação pessoal. E como eu já tinha feito algumas ideias de versão, apresentei as propostas para o pessoal, querendo saber o que eles achavam e se topavam. Precisava de um baixista parceiro que soubesse tocar baixo, um baterista parceiro que soubesse tocar bateria, um vocalista parceiro que soubesse cantar, e a galera topou. A banda se formou mais ou menos dessa forma. Eu fiz o convite e a galera comprou a ideia. E o resultado que a gente tá saindo hoje, já é muito diferente do que eu tinha idealizado.

Vocês acham que essa mudança surgiu de forma natural, vinda com as influências de cada músico que trouxe e foi modificando esse conceito até se tornar algo muito mais orgânico?
Oliver: Isso, e também porque o nosso o processo criativo se embasa principalmente com a criação que tem como base alguma ideia vinda de um dos membros. E a partir dessa ideia a gente tenta trabalhar em cima de algum conceito principal, que às vezes é criado apenas pelo primeiro riff, ou pelo riff do verso, ou até mesmo baseado em ‘riff em cima de refrão’… e a linha de vocal, a gente sempre tenta manter parecida com a original nas nossas versões.

E a banda ela surgiu durante a pandemia, durante esse período aí de 2020 ou foi um pouquinho antes? 
Oliver: A gente vinha tendo contatos e esses flertes com a ideia, acho que desde o finalzinho de 2019. Mas a banda começou a se juntar a partir de janeiro de 2020 e quando a gente tava começando a transformar a coisa em algo real, a pandemia ‘atacou’.

Qual a quantidade de músicas que vocês têm? Destaquem em algumas, das canções que vocês fazem versões, e a partir disso digam como foi selecionar entre essas músicas a “Wolf Dress”, que serviu para o primeiro clipe.
Júnior: Atualmente o repertório a gente deve estar com umas 12 músicas. Daí são quatro de versões, quatro autorais e quatro mais parecidas com a música original.

Renan: A escolha dessa música acho que foi muito por a gente denominar ela como música de trabalho. Acho que foi uma escolha unânime porque essa faixa é que mais agradou a todo mundo e ela é a que achamos que mais vai agradar ao público. Foi a primeira autoral que nós fizemos.

Foi a que vocês ficaram mais tempo trabalhando em cima, ou foi a que fluiu melhor?
Oliver: Eu acho que ela é uma das que melhor fluíram. A nossa paixão principalmente por ela vem do riff principal da música, extremamente cativante gruda na cabeça, e tem esse tom, essa energia que eu acho que a banda se tornou e tenta passar. É pesado, groovado, um pouco sensual e eu acho que ele representa muito bem o que a gente tá fazendo nos nossos primeiros trabalhos.

E a partir de qual momento vocês tiveram esse feeling de perceber que “estamos entrosados e agora vamos partir para a composição e deixar de fazer versões”?
Oliver: Foi natural. O Dierre apresentou a ideia do riff, pensando em versão. Tentamos achar em qual música esse riff poderia se encaixar e… eu olhei pro Dierri e falei que ele não podia ser versão, tinha que ser nosso. 

As músicas de versões… têm algumas que são em português ou são todas em inglês?
Dierri: Algumas em português.


E as composições?

Dierre: Todas em inglês no momento. Acho que o português é um pouco mais difícil. Eu pelo menos tenho essa sensação de que em algum momento a gente deveria explorar o português. Mas foi tudo muito natural, partindo das versões e começando a compor de forma muito orgânica. ‘Daí’, a partir do momento em que a gente viu que a banda poderia ir para frente, a gente resolveu esquematizar como iríamos fazer para lançar o nosso trabalho.

Pegando esse gancho: além da “Wolf Dress”, o que vocês pretendem lançar em breve?
Dierre: Nós selecionamos quatro das versões que já tocamos: duas em inglês e duas em português. Com isso, nós decidimos lançá-las em um EP, que deve ser lançado, muito provavelmente, no mês de setembro.
Ao mesmo tempo, já está engatilhado e esquematizado há alguns meses que, assim que o EP de versões sair, a gente vai lançar o EP autoral.

E o EP vocês estão planejando lançar em todas as plataformas digitais? Como vai ser?
Dierre:
Em todas. Tudo que for “assistível”, através do serviço que a gente conseguir pagar (risos).

Para esse lançamento que está chegando: vocês já têm um nome ou alguma arte?
Oliver: Temos uma arte em progresso e o nome foi inteligentemente escolhido pelo Dierre como: “S.O.S – The Same Old Stuff”. A mesma coisa de sempre. O EP tá bem encaminhado. Tá quase saindo do forno, é só uma questão de tempo.


Dierri: Fazemos versões, mas ao mesmo tempo a gente não faz as versões. Não é cover, nem é versão. Com isso, chegamos na simbologia do xerox, da cópia, do control+c-control+v. Porque pegamos alguma coisa de essência do material ‘copiado’ e criamos outra coisa. E a capa foi desenvolvida em cima disso, a fotografia que a gente fez para a capa foi desenvolvida através disso.

Oliver: E o S.O.S do rock tá virando mesmice né, de hoje em dia tudo ser uma cópia do que já foi lançado nos anos 70 ou 80.

Como foi gravado o clipe da Wolf Dress e quais foram os perrengues que vocês passaram para gravá-lo?
Júnior: Pensamos em usar o Festival de Música da UFSC para fazermos o nosso primeiro lançamento. Pegamos a “Wolf Dress” que era a música que tava mais adiantada… e como estava meio em cima da hora para atingir o prazo de inscrição, a gente teve que fazer uma ‘parada’ um pouco mais enxuta. Por isso nós tivemos que nos virar com o que tínhamos.  A gente fez a gravação ao vivo mesmo e posicionamos quatro celulares, cada um deles filmando um dos integrantes. Pegamos a iluminação que a gente tinha ali mesmo e tentamos fazer do melhor jeito para que ficasse legal e ainda representasse a banda… tudo da maneira mais rápida possível. No fim, deu tudo certo. Acho que a galera curtiu o resultado.

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Willian Schütz
Willian Schütz é poeta e contista - autor dos livros "Insânia Mundana" e "Saudades do que não foi e voltará". Formando em Jornalismo, atualmente colabora no site Guia Floripa, na Assessoria de Imprensa da Fundação Cultural Badesc e no Portal CLG. Já passou pelo IFSC e pela SST. Além disso, é cineclubista de carteirinha e acompanha de perto a cena musical alternativa de Florianópolis.
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