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Deranged Insane: insanidade sonora nascida no Japão com DNA brasileiro

Deranged Insane foi a primeira banda de grindcore formada no Japão no ano de 2000. Devastaram mais que tsunami por lá até 2004, quando voltaram para o Brasil e até nos dias de hoje continuam despejando a total desgraceira brutal com seu grindcore noise sujo e insano!

Entrevista por Rafael Yaekashi

1 – Vou avisar seus amigos de Nagano sobre sua entrevista, eles irão gostar de ler sobre o Deranged Insane! Olá Kiko como você está?
E aí Rafael. Aqui tudo na paz. Eu ainda tenho contato com alguns amigos de Nagano, Sapporo, Nagoya…

2- Vocês foram os primeiros brasileiros a tocar música extrema no Japão. Fale um pouco da história da banda, discografia e primeiros shows.
A banda nasceu de uma frustração. Eu e a Cynthia éramos casados e em 2000 decidimos ir pro Japão pra viver e trabalhar lá sem data pra retorno. Ela tinha uma banda de punk rock e eu tocava em duas bandas de grind/noise aqui (Trauma Acustico e Rotten Anger). Ia ser muito frustrante ir pra lá e simplesmente parar de tocar. Por isso a gente montou o Deranged Insane. Gravamos uma demo em 2000 e em janeiro de 2001 fomos morar no japão. Já no primeiro mês comprei uma bateria de treino, a Cynthia comprou uma guitarra e um cubo. O Trauma Acustico tem um LP split com o Unholy Grave. Entrei em contato por carta com o Takaho, vocalista do Unholy Grave que por coincidência tocaram um mês depois próximo de onde morávamos. Fomos ao show, conhecemos toda a galera da cena grindcore local. Distribuímos várias demos nesse dia, que já rendeu um show com o My minds mine em Nagano e vários outros com bandas como Muga, Idiocy of Grothesque, Power of idea, Unholy Grave, d.i.e, Melt Banana, Flash Gordon. Um ou dois anos depois a gente chamou o Takemae do Zaghio Evha Dilejg pra fazer os vocais. Lá gravamos uma split tape com o Muhammad Ali Campaign de Sapporo, um split CD com o Antigama e alguns sons pra uma coletânea chamada “Blast nights”. Voltando pro Brasil chamamos o Fernando Carcaça pra fazer os vocais e gravamos um split 7″ep com o Little Bastards, uma das melhores bandas japonesas que tive o prazer de conhecer. Depois o Carcaça saiu, entrou o Kid, também ex-Trauma Acustico e gravamos o split 7″ep com o Unholy grave. Depois com essa mesma formação gravamos um split CD com o Intumescenceda Holanda, e um 3 way CD com o Patisserie e o Archagathus.

3 – Quem forma o Deranged Insane hoje em dia? Conte-nos sobre o line up atual.
Da formação original sou só eu. A Cynthia se mudou pra curitiba faz alguns anos e saiu da banda. Ela toca hoje com o Crotchrot. Hoje somos eu na bateria, o Kid nos vocais, Gustavo (Pactum, ex-Psicodeath) na guitarra e Tiago Bergman no baixo. Com essa formação gravamos o split 7″ep com o Subcut e o CD Armageddon cantuum.

4- Do que se tratam os temas abordados em suas letras? Como é o processo de composição?
As letras são todas do Kid (vocal). Eu sempre me identifiquei muito com as letras dele desde os tempos do Trauma Acustico. Os temas não mudam muito de uma letra pra outra, sempre expondo a miséria humana, valores invertidos, sempre falando dessa doença que é o ser humano. Com a formação nova o som mudou também, com bastante influência de death metal, mas sempre voltando pro grindcore!

Impossível viver da banda, gastamos pra ensaiar, pra gravar, viajar…

5 – Nos conte mais sobre o álbum e “Armageddon Cantuum” lançado recentemente.
Armageddon Cantuum é o primeiro full lenght da banda. A maioria das músicas são da formação antiga, já lançadas em splits no passado. Apenas 3 são novas. A capa é do Augusto Miranda. A gravação é de 2013. Desde lá a gente está tentando lançar, mas ninguém que eu procurei se interessou, muitos falaram que lançar CD era besteira mas a gente precisava desse registro e vinil é muito caro.
Só agora em 2015, com a ajuda dos selos Karasu Killer, Rotten Foetus, Intervenção Cultural e Cipreste Negro é que foi possível o lançamento do CD.

6 – Vocês vivem da banda ou cada um têm um “real job” ? Qual é a maior dificuldade de se ter uma banda no Brasil?
Impossível viver da banda, gastamos pra ensaiar, pra gravar, viajar… E todos trabalhamos sim. Hoje é muito fácil ter uma banda. Pra gente que teve banda nos anos 90, saber que hoje com estúdio de ensaio, instrumento acessível, internet. São poucas pessoas que levam isso com honestidade e não como algo banal.

7 – A banda têm feito shows ultimamente? Há previsão de turnê brasileira ou até mesmo gringa?
Fizemos um show de lançamento aqui em Londrina de graça no Barbearia. Alguns sons foram registrados em áudio e vídeo pela galera do Cine Guerrilha aqui de Londrina. Estamos no aguardo pra ver e soltar essa edição.
Fizemos dois shows em São Paulo recentemente, um no Zapata com o Cruel Face, Hutt e Bandanos, só banda fudida diga-se de passagem e no dia seguinte no Clash Club junto com o também fudido Cemitério, abrimos o show das bandas Nile e Satan. A ideia é continuar tocando aqui no Brasil, divulgando o CD. Sobre a gringa vai rolar, mas vai demorar um pouco ainda.

8 – E a atual fase da cena independente brasileira, o que tem de bom e o que tem de ruim? Existe um apoio?
Eu sempre achei que uma cena independente devia ser algo imparcial, sem regras ou atitudes convencionais. Não quero nem posso generalizar, mas essa cena independente está cheia de senso comum cara, gente que fica te medindo e falando mal de você igual numa novela. Mas existem pessoas legais que estão sempre tentando ajudar, amigos de longa data, pessoas de bom senso que tão aí pra somar. Apoio rola sim, mas podia rolar mais. Eu vejo selo relançando coisa batida já e cagando pra banda nova. Tipo panelinha mesmo.

9 -Nesses últimos anos tem surgido uma nova safra de bandas de Grind no Brasil. Como você enxerga essa renovação? Quais você considera como destaques?
Eu to achando tudo isso lindo! Além das bandas antigas que ainda estão na ativa ou que estão voltando, tem uma pá de banda nova muito boa. O nível das bandas no Brasil tá foda em geral. O Cruel Face eu vi ao vivo recentemente e me impressionou muito!

10 – Nos conte um pouco sobre o que você tem acompanhado fora do Brasil? Alguma sugestão?
To ouvindo bastante o Brutal Blues, é uma banda do cara do Parlamentarisk Sodomi.

11 – Você gostaria de voltar a viver no Japão? Sente saudades?
Sinto falta dos roles de lá. Das casas de show que só tinham equipamento fudido! Dos amigos. De trabalhar não, trabalhava demais cara. Doze horas por dia era pouco. Se eu pudesse voltar, ter um trampo mais tranquilo, acho que eu voltaria fácil.

12 – Qual é a mensagem que você tem para nossos leitores?
Eu vou usar o espaço pra agradecer muito a você e a Karasu pela atenção e força no lançamento. E claro os demais selos envolvidos, Rotten Foetus, Intervenção Cultural e Cipreste  Negro. Sem vocês não seria possível. Valeu mesmo!

Contatos: punknoise@hotmail.com

 

 

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
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