You are here
Home > Räskuño > DVD > Documentário Headbanger Voice narra a história da revista Rock Brigade

Documentário Headbanger Voice narra a história da revista Rock Brigade

Quando se comenta a respeito das mudanças de paradigmas ocorridas no panorama cultural do Brasil dos anos oitenta do século passado pouco ou quase nada em relação às subculturas underground é dito.
Os headbangers apesar do barulho que faziam sempre tiveram seu papel minimizado quando se avalia a produção cultural do período. Talvez isso se explique por não possuírem um discurso político articulado e se ligarem mais na curtição ou prazer do estilo de música e vida adotado que em estabelecer canais de comunicação com a sociedade organizada.
Não eram descolados, usavam jeans e couro, ouviam heavy metal e podiam ser descritos pelo título do livro de Marc Weingarten, pois formavam sem dúvida “A Turma Que Não Escrevia Direito”.

“Não era jornalismo era manifestação de amor”

A história do informativo de fã clube que viria a se tornar a mais importante publicação heavy metal da América Latina é narrada no documentário “HEADBANGER VOICE – A HISTÓRIA DA ROCK BRIGADE”, recém-lançado em DVD pela Rock Brigade Records. Importante ressaltar que o lançamento em DVD além do filme, inclui depoimentos que não entraram no documentário e as capas da publicação desde os tempos de fanzine.
Costurando o depoimento de 21 pessoas, entre eles músicos, colaboradores da revista e, é claro, os criadores da revista ficamos conhecendo a gênese da publicação, o processo de amadurecimento editorial e as mudanças e desdobramentos das atividades da Rock Brigade até os dias atuais.
Vários são os temas abordados no documentário, tais como o amadorismo da fase inicial e o lento, mas consistente, processo de profissionalização. Também falam sobre a credibilidade conquistada com os leitores quanto ao conteúdo publicado, da amplitude da cobertura de eventos e lançamentos fonográficos relacionados ao heavy metal, “quase um catálogo de lançamentos” segundo um dos entrevistados, entre muitos outros assuntos.
Um dos momentos mais divertidos do filme é quando o estilo de redação adotado pela revista na sua fase inicial é referido. É unânime que não se tratava de manifestação de algum estilo narrativo escolhido a priori para se adequar a linha editorial da publicação, mas, sim, fruto da expressão de amor ao estilo musical que queriam enaltecer e divulgar.

“Toninho é um guerreiro do metal”

O documentário corrige a falha de estudiosos e jornalistas brasileiros tidos como sérios e respeitados e sempre prontos a combater todos os preconceitos alheios ao passo que não conseguem dar conta dos seus próprios em relação ao heavy metal, por exemplo, ao lançar luz sobre a importância da revista Rock Brigade e de seu editor para a formação de um mercado que contribui na movimentação da economia e gera empregos em diversos segmentos de atuação profissional relacionados à produção e divulgação desse subgênero de rock. Sem esquecer seu valor cultural. Isso mesmo: Cultural, sim senhor.

Walcir Chalas – foto por Wladimyr Cruz

Assim como Walcir Chalas, personagem de outro documentário de Wladimyr Cruz, “WOODSTOCK DISCOS: MAIS QUE UMA LOJA”, há um consenso sobre a importância e proeminência que Antônio Donizetti Pirani, o Toninho Pirani, ocupa na cena metal brasileira.
O documentário faz jus ao personagem e ajuda a recolocá-lo perante as novas gerações no lugar que lhe é devido por direito: o panteão dos grandes artífices da cena metal brasileira.
Seja atuando como editor, empresário, lançando LP’s/CD’s ou produzindo shows, a colaboração de Toninho Pirani para a criação e consolidação da cultura e de um mercado heavy metal no Brasil é de inestimável valor.
Ao registrar, com competência, a história da revista Rock Brigade, Marcelo Colmenero e Wladimyr Cruz dão enorme contribuição não só à cena metal, mas à cultura paulistana e, por extensão, brasileira. Os parabenizo por isso.

Para onde vamos?

Hoje contamos com um número considerável de biografias e documentários de bandas, lojas e cenas metal de regiões específicas do Brasil e ao menos um sobre a cena nacional, o “BRASIL HEAVY METAL” de Ricardo Michaelis. Parece que estamos prontos, dado o volume de material disponível para análise e a experiência acumulada por realizadores como os bravos Marcelo Colmenero e Wladimyr Cruz, para partir rumo a experiências menos narrativas e mais analíticas.

Krisiun por Wladimyr Cruz

Talvez algo na pegada do que faz San Dunn em seus documentários e debater as influências e reflexos culturais dos subgêneros do metal na cultura brasileira oficial.
Acredito que seria de grande valia que pessoas qualificadas e comprometidas como os realizadores deste “HEADBANGER VOICE” conseguissem recursos para discutir, por exemplo, se a maior popularidade e irradiação da estética heavy metal com seus timbres de guitarra mais pesados, levadas de bateria com dois bumbos e outros estilemas típicos desse subgênero foram absorvidos e incorporados à linguagem musical de compositores e músicos de outros estilos musicais.
Certamente há outros temas reclamando por aprofundamento. Apenas citei esse como uma das possibilidades de serem problematizados com resultados muito proveitosos.
No entanto, até que esse momento chegue devemos aproveitar ao máximo do excelente trabalho feito no documentário “HEADBANGER VOICE”, pois Wladimyr Cruz pulveriza as moléculas do ar com suas tramas letais na mesma medida em que o terremoto provocado pelas imagens de Marcelo Colmenero invocam a destruição.
Keep the Faith!

 

Por Lúcio Medeiros

Top