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Gods & Punks: produção criativa durante a quarentena

Com influências que transitam dos medalhões do rock setentista até bandas mais do que contemporâneas, passando pelo space rock e pelo doom soturno, a banda carioca Gods & Punks é uma das promessas da cena atual, com o seu stoner progressivo mais que original.
De 2017 para cá, o quinteto lançou três álbuns: “Into the Dunes of Doom”, “Enter the Ceremony of Damnation” e “And the Celestial Ascension” – todos com letras em inglês, instrumental de peso e artes desbundantes.
Um dos mais recentes trabalhos do grupo e que vem ganhando notoriedade, é o EP “Different Dimensions (The Quarantine Sessions)”, lançado em abril nas plataformas digitais. Com capa assinada por Bruno Kros e gravação da Abraxas Records, o EP conta com algumas das músicas do álbum anterior, mas em versão acústica, além da faixa bônus com a inédita “Time, Space and Love”.
Justamente com esse recente trabalho, a Gods & Punks entra no combate à pandemia de Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Isso porque 100% do dinheiro recebido com o download do disco vem sendo destinado para ajudar famílias com necessidade durante a crise econômica e social provocada pela doença que avança em todo o mundo. Confira a entrevista com o vocalista Ale Canhetti:

Entrevista por Willian Schütz


Onde, como e quando surgiu a Gods & Punks? 
Eu sempre fiz músicas pra mim mesmo. Sempre curti compor. Com o tempo, o Pedro, meu irmão, que estava aprendendo guitarra, também começou a compor riffs e músicas dele. Aí, tivemos a ideia de montar uma banda. Escolhemos o nome de uma música da Monster Magnet, que estávamos ouvindo bastante na época. Isso foi em 2013. Então chamamos uns amigos, incluindo o Psy, que hoje é nosso guitarrista “base”, mas na época era batera. Teve um entra e sai grande de membros da banda mas, em 2015, o Danilo (Oliveira, no baixo)e o Arthur (Rodrigues, baterista) entraram. Então, conseguimos finalmente nos organizar e gravar algumas dessas músicas no nosso primeiro EP.

Lançado em abril, o EP Different Dimensions (The Quarantine Sessions) foi uma iniciativa para beneficiar as famílias necessitadas durante a crise econômica e social provocada pela pandemia de Covid-19. Como surgiu essa ideia? Como começaram a colocar em prática?
A ideia surgiu quando uma vizinha minha enviou uma mensagem para o grupo do meu prédio, falando que estava arrecadando dinheiro para ajudar famílias necessitadas durante a pandemia – através de uma ONG, chamada Instituto Dharma. Aí, me deu a ideia de ajudar o projeto fazendo um EP acústico, que seria simples de gravar, com poucos custos, e doando o dinheiro que arrecadássemos. Então, falei com o pessoal por WhatsApp. Só faltava o cajon: o resto já tínhamos. Com isso, compramos o cajon e colocamos o plano em ação.

Capa do EP “Different Dimensions (The Quarantine Sessions)”. Crédito: Bruno Kros (@brunokros)

Esse processo foi bastante rápido, já que a quarentena começou em março e o lançamento do “Quarantine Sessions” foi no mês seguinte.  As músicas já existiam, mas tiveram que ser readaptadas para versões acústicas. Como foi o processo?
Foi bem simples. Combinamos de ficarmos 14 dias em isolamento total, e depois dois dias juntos para gravar, aqui em casa. Em um dia, ensaiamos as músicas. No outro, as gravamos. Basicamente, só tocamos elas uma vez cada antes de gravar a versão final.

Aproveitando a alçada do assunto: vocês já haviam experimentado o formato acústico antes?  
Nunca. Nunca havíamos usado um violão em sequer uma música da banda até agora. Foi bem legal. Pensávamos que seria mais difícil.

Como realizaram a gravação em meio à pandemia?
Como temos interface, monitores e microfones, foi bem simples. O baixo e violão foram ligados no DI (direct inbox), diretamente na interface, e o cajon foi microfonado manualmente. A voz foi gravada isolada, no mesmo dia, mas com a música já gravada.

A faixa “Time, Space and Love” era, até o momento  inedita. Ela já estava “engavetada”, ou decidiram compor justamente para integrar o novo material da banda?
Mais ou menos. As letras foram adaptadas de uma ideia minha, que não havia sido usada. Foi uma letra que tinha feito para uma faixa extra do “Enter the Ceremony of Damnation”, de 2018. A ideia era justamente uma música mais leve, intimista. Aí, quando o Danilo e o Psy vieram, depois de tocarmos as músicas e vermos que seria simples, tivemos a ideia de colocar mais uma faixa. Ela surgiu de improviso. Bem como foi gravada: primeiro a linha de baixo, depois a guitarra, etc… Assim, incorporei a minha letra guardada. Tocamos ela uma vez e depois gravamos.

Crédito da imagem: Rodrigo Freitas

Vocês ficaram em apenas um dia no estúdio para gravar todo esse material. Foram quantas horas de trabalho?
Foi um dia de gravação aqui em casa, mas foi o dia todo, basicamente. Começamos às 10h da manhã e terminamos lá pelas 20h. Isso só de gravar. Depois tiveram alguns dias de mix e master.

Os ganhos com o financiamento e venda do material digital do EP serão encaminhados para o Instituto Dharma, que tem distribuído alimentos e água a pessoas em extrema pobreza. Como conheceram e escolheram esse projeto?
Foi através dessa vizinha minha, a Debora. Ela faz parte ativamente do Instituto Dharma, e vai pessoalmente distribuir os alimentos.

Como está sendo a repercussão de Different Dimensions (The Quarantine Sessions)?
A repercussão foi ótima, tivemos muito apoio do público do Bandcamp, principalmente do nosso público gringo. Ajudaram bastante mesmo. O EP estava custando US$1 e o valor médio pago por download passou de US$4. Ou seja, pagaram mais de 4 vezes o valor mínimo, em média. Foi bem legal. Deu para ajudar bastante.

Vocês são uma banda prolífica! De 2017 para cá, fora os singles e EP’s, foram três álbuns. Planejam mais algum lançamento para os próximos meses?
Sim, acabamos de lançar um EP de B-sides e jams da época do “Enter the Ceremony of Damnation”, de 2018, para nos ajudar a arrecadar dinheiro para a gravação do próximo álbum. E temos planos de ter mais um lançamento, ainda esse ano – de uma gravação ao vivo nossa, de 2017. Também para arrecadar dinheiro para o álbum, como não podemos fazer shows. Por isso, o próximo álbum fica pro ano que vem, infelizmente.

Arte de Witness the Gatherings (Lo-fi Jams & Demos) – EP, disponível no Bandcamp desde 06 de julho. Arte: Cristiano Suarez

Que bandas da cena alternativa vocês mais curtem? Faremos um esforço para entrevistar as bandas queridas pelas bandas queridas por nós.
A gente curte muito a Blind Horse, que já tocou com a gente várias vezes. Eles têm um som bem voltado para os clássicos dos anos 70, de uma forma muito natural e autêntica. Vale muito a pena conferir os caras. Também nos amarramos na Stone House on Fire, banda de Volta Redonda, de stoner com uma pegada bem legal. Lançaram um dos melhores discos de stoner do Brasil, o Neverending Cycle. Excelente. Também já tocamos com eles algumas vezes. 

Agora fica aberto o espaço para uma mensagem final – vale agradecimento, depoimento e até aquele queridíssimo jabá. Muito obrigado pela entrevista e parabéns pela iniciativa.
Eu queria agradecer pela entrevista e falar para o pessoal que curte rock, e apoia o underground que agora, mais do que nunca, é a hora de apoiar as bandas que você curte. Muitas bandas precisam do “ciclo álbum-turnê-álbum” para manter a engrenagem rodando e para se auto financiarem. Mas com a pandemia, isso não acontece. A gente sabe que muitos estão “duros” e não têm condição de ajudar as bandas… e entendemos completamente quem não puder. Mas muitos músicos, diferentemente de nós, vivem disso. São artistas. Essa é a profissão deles. São esses que precisam do apoio de vocês agora. Acho que, para estes casos, quem puder, vale comprar uma camiseta, apoiar o artista pelo Bandcamp, ou de qualquer forma. Arte é o que tá fazendo a gente ficar mais tranquilo esse ano. Sem aquela série, aquela música, aquele escape, estaríamos doidos agora, em casa, sozinhos. Vamos apoiar os artistas, principalmente aqueles que ganham seu sustento da arte. Eles merecem nossa atenção e apoio.


 Para conhecer a banda:

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Para ouvir:

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Willian Schütz
Willian Schütz é poeta e contista - autor dos livros "Insânia Mundana" e "Saudades do que não foi e voltará". Formando em Jornalismo, atualmente colabora no site Guia Floripa, na Assessoria de Imprensa da Fundação Cultural Badesc e no Portal CLG. Já passou pelo IFSC e pela SST. Além disso, é cineclubista de carteirinha e acompanha de perto a cena musical alternativa de Florianópolis.
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