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“Renovar o Ar”: banda Imperdíveis comenta o novo álbum

Foto por Yuri Alexei

Com estilo único, que faz uma miscelânea inusitada, a banda Imperdíveis tem mais de 14 anos de uma história cheia de reviravoltas. O conjunto, que conta com Eduardo Anabela (vocal), Ale Marques (Guitarra), Davi Índio (baixo) e Guto Gonzalez (Bateria) está lançando o seu segundo álbum de estúdio: “Renovar o Ar”.
No repertório está expresso o que a banda chama de Rock Popular Brasileiro (RPB): uma combinação do rock com os questionamentos da Tropicália, o descompromisso da Jovem Guarda e influências da MPB. Tudo isso é harmonizado com uma pegada pós-punk e letras cheias de bom humor.
Foi essa a fórmula que fez render muitas histórias ao grupo: consagraram-se vencedores da edição de 2005 do Claro Rock; além já terem aberto shows de nomes como Iggy Pop, Sonic Youth, Placebo, Nine Inch Nails, The Flaming Lips, Charlie Brown Jr, Planet Hemp, IRA, Capital Inicial, Cachorro Grande, Forgotten Boys, entre tantos outros.
O novo álbum sucede “Roquenrou em Stereo” (2005). E este mais recente trabalho, lançado em 13 de agosto, chega acompanhado do clipe, para a música “Ratos de Asas”.
Além de tudo, o disco “Renovar o ar”, surge como o próprio título sugere, como uma renovação para a banda, com experiências incorporadas, mudanças estéticas e acarretando em alterações na formação – como o presságio para uma nova fase.
O guitarrista Ale Marques e o vocalista Eduardo Anabela bateram um papo sobre o novo álbum, com a nossa redação. Confira:

Entrevista por Willian Schütz

A trajetória do grupo soma mais de 14 anos de estrada. Como toda essa experiência influencia para a gravação do segundo álbum? O que mudou desde o lançamento de Roquenrou em Stereo?
ALE MARQUES: O álbum Roquenrou em Stereo foi gravado em 2005 e produzido pelo premiado produtor Tadeu Patolla que, entre tantos artistas, foi produtor da banda Charlie Brown Jr. Um cara que se tornou amigo e que entende bem de rock. Trabalhar com ele trouxe muita maturidade para a banda não só nos shows, mas também em estúdio de gravação.
Este álbum abriu muitas portas para a banda, que não parou de fazer shows. Tivemos também o apoio do Kid Vinil, personagem muito importante na história do rock brasileiro e que temos muito orgulho de tê-lo em nossa própria história. Tocamos com ele e sua banda Magazine em casas importantes de São Paulo na época, como o Hangar 110, e nossa música “de trabalho”, “Magnética”, passou a tocar com frequência na rádio em que ele era locutor, a Brasil 2000.
Participamos também de diversos programas da MTV, TV Cultura, Multishow, de entrevistas em grandes mídias como no Caderno 2, do jornal Estado de São Paulo e essas experiências também influenciaram muito nosso comportamento junto ao grande público. A cada passo que a banda dava conversávamos sobre como melhorar!
Passaram pelo grupo grandes músicos, como o Emerson Martins (produtor musical na Bamba Music) e o Marcelo Magal (atual baixista no Biquini Cavadão). Quando o Guto Gonzales assumiu a bateria e o Daniel Britta o baixo, a banda se viu preparada para novos trabalhos que resultou neste novo álbum, Renovar o Ar. São músicos muito experientes, os dois trabalham com produtoção musical, cheio de ideias que deram cara para as novas composições.
Com a entrada do Índio, o primeiro baixista de profissão (todos os outros baixistas que antes integraram a banda eram guitarristas), novas composições estão sendo trabalhadas já com sua pegada. Também produtor musical, as linhas de baixo dele, junto da bateria do Gutão,combinou muito bem. Em breve publicaremos uma nova composição, “Bora”, feita no esquema quarentena – cada um em sua casa!


Houveram mudanças recentes na formação, certo? Quem atualmente integra o grupo? Ainda falando sobre formação: Ao longo destes 14 anos, houveram muitas mudanças?

AM: Sim, hoje a Imperdíveis é formada pelo Anabela, no vocal, eu, na guitarra, o Índio no baixo e o Gutão na bateria. Já passaram pela banda vários baixistas, entre eles o Deh Rodrix, da primeira formação, o Emerson, o Magal e o Britta. Na bateria apenas dois: o Caju, da primeira formação e o atual baterista, o Gutão. Eu e o Anabela somos os únicos integrantes que sempre estiveram na banda.


“Renovar o Ar” representa um novo momento do grupo – uma renovação de ares mesmo. Como isto se traduz no novo disco?
AM: O Gutão e o Britta trouxeram muitas ideias novas para as músicas e isso, por si só, já revolucionou bastante. O Anabela trabalhou letras mais críticas, com pitadas de bom humor – mas sem deixar de serem sérias no que querem dizer. Eu procurei compor harmonias mais trabalhadas, utilizando influências da nossa MPB e experimentando associá-las à pegada do rock pós punk.
Mas para além das músicas, como o Gutão é dono do Estúdio Lamparina, ganhamos um lar! O lugar é muito alto astral, no bairro do Sumaré, em São Paulo, e é frequentado por músicos de diversos estilos. Um local para fazer música com excelentes equipamentos e estar com amigos. Agora, com o Índio, temos duas casas! Ele também é dono de estúdio, o Casa Azul, que fica também na região. São ambientes que trazem muitas ideias e a vontade de fazer sempre mais.


Vocês também estão lançando o clipe “Ratos de Asas”. Onde a galera pode assistí-lo?

EDUARDO ANABELA: O clipe está disponível em nosso canal no YouTube, em nossa página do Facebook e no Instagram (ambos @bandaimperdiveis). Poderá ser assistido também em outras mídias que divulgaremos conforme formos fechando cada parceria.

Crédito da imagem: Reprodução

Como foi a gravação do novo clipe?
EA: O clipe foi bastante planejado pelo Gutão, que convidou o videomaker Sóstenes e o operador de drone Yuri Alexei, para ajudá-lo nas questões técnicas e na gravação. Pedimos autorização para a prefeitura liberar um dia no Vale do Anhangabaú. Lá, fizemos as filmagens. Gravamos o clipe dias antes da reforma que o Vale está passando. Levamos equipamentos de som, montamos a bateria no meio do povo e dos pombos, que não poderiam deixar de aparecer no vídeo de “Ratos de Asas”.
Gravamos também pelas ruas do Centro. Foi uma experiência única: a galera ao redor prestando atenção, gente comentando, teve até fiscal querendo ver a autorização para a gravação…
Já havíamos tido esta experiência de gravar no Centro, com a primeira formação da banda, em um clipe da música “Esta música não sai da cabeça“, dirigido pela cineasta Ana Sardinha.
Com as imagens em mãos, o Sóstenes fez o trabalho de edição do clipe.


Renovar o ar foi produzido por Guto Gonzalez e Daniel Britta, no Estúdio Lamparina. Já a masterização foi no Canto da Coruja, e é assinada pelo músico e produtor Ricardo Prado. Como foi trabalhar com esse time?
EA: Foi muito bom porque, como o Gutão e o Britta participaram das músicas e como tivemos muito tempo de ensaio, a gravação saiu bem fácil. Tanto o Lamparina quanto o Canto da Coruja têm equipamentos excelentes! Com o Prado, que também é amigo da banda e já fez trabalhos em parceria com o Gutão, também foi um processo muito tranquilo. Na verdade foi muito bom porque o Canto da Coruja fica no meio das montanhas, na cidade de Piracaia, com um lago na frente do estúdio, gansos, vacas, um ambiente bem bucólico. Pareceu mais que a gente estava em férias do que trabalhando, inclusive com direito a cachoeira! Eu gostei tanto que me mudei para lá!

Das composições, oito músicas foram selecionadas. Havia mais material para integrar o disco e que foi cortado em seleção? Como foi esse processo?
EA: Eu e o Ale estamos sempre compondo coisas novas e também temos muitas composições feitas antes dos Imperdíveis, de quando morávamos em Ribeirão Preto, nossa cidade natal. Apresentamos esse material para a banda e também algumas ideias para versões de músicas que gostamos – como algumas composições dos Mutantes, dos Titãs entre outros artistas.
Gostamos de fazer versões. Em nosso primeiro álbum tem uma versão de “Fico Louco”, do Itamar Assumpção.
Mas por fim, as músicas que mais se encaixaram na construção de uma narrativa para o álbum, foram essas oito. Fechamos com elas.

Quanto tempo ficaram entre as idas e vindas ao estúdio até finalizarem o novo álbum?
AM: Ficamos por volta de dois anos trabalhando arranjos, incluindo músicas novas, retirando as que já não faziam mais sentido. Este álbum foi masterizado no fim de 2018. Fechamos com a distribuidora digital que o colocou nas plataformas digitais. O ano de 2019 foi de muitas mudanças para os integrantes da banda e o lançamento do álbum foi sendo postergado. Com a entrada do Índio, resolvemos gravar o clipe e finalmente o lançar. Novas composições estão sendo trabalhadas, já com sua influência no baixo e com ideias importantes que estão sinalizando novos caminhos para a banda.

Arte: Marcel Lisboa


A capa de “Renovar o Ar” é assinada pelo artista plástico Marcel Lisboa e traz a influência do movimento da pop art. Chegaram nesse conceito de que maneira?
AM: Vivemos em uma cidade que transpira pop art em todos os cantos. Eu vim para São Paulo cursar faculdade de artes plásticas na UNESP e aproveitar todos os mecanismos artísticos que a cidade promove. Quem apresentou o Marcel Lisboa para a banda foi o Gutão. E, de cara, gostamos muito do seu trabalho. E ele resumiu bem a essência do álbum, da estética da banda, das letras e da cidade na capa que idealizou.

Após a gravação do álbum, o baixista Daniel Brittadecidiu trabalhar seu lado multi-instrumental em outros estilos musicais e dar sequência à sua criatividade se aventurando em novos projetos. Em seu lugar, entrou o Davi Índio, um músico tão experiente quanto. Como foi essa mudança?
EA: Foi muito tranquilo. O Índio se adaptou muito rápido e com poucos ensaios já estávamos tocando no underground de São Paulo. Ele é muito amigo do Britta e da galera da banda. Na real, o Britta disse que ficou muito feliz em saber que era o Índio que o substituiria!

No início, a Imperdíveis fazia diversas intervenções, pode-se dizer, bem no estilo “faça você mesmo”: montando equipamento nas ruas movimentadas de São Paulo e fazendo som, além de se produzir e administrar por conta própria. Ainda é assim, depois de tantos momentos e uma história longeva?
EA: Sim, gostamos de fazer nossas coisas. Claro que sempre contamos com amigos e parceiros, mas continuamos no “Rock de Guerrilha”, como nos definiu a Renata Simões, que apresentava o programa Balada em Revista no Multishow. Assim que saiu nosso primeiro álbum, fazíamos blitz com as pessoas nas ruas pedindo que elas ouvissem nossas músicas e dessem seus depoimentos. Em uma delas participou Valeria Zoppello entrevistando quem parava para ouvir. Era divertido! Também tocávamos na Avenida Paulista – levando nossos equipamentos. Na época, a avenida não era aberta para essas atividades. Hoje, exceto pela pandemia, São Paulo recebe muitos artistas aos domingos na Paulista, no Minhocão, etc. Tocamos ano passado na Paulista, num domingo com um monte de coisas acontecendo. Foi muito bom.

Crédito da fotografia: Yuri Alexei

Como a banda está se organizando para trabalhar neste período de pandemia?
AM: Eu estou em casa. Só saio para o essencial. Fazemos nossas gravações em nosso home studio e mandamos para o Guto ou o Índio mixar. No momento, pretendemos compor, gravar novas músicas e escolher bem as que levaremos para o nosso público. Para o lançamento do segundo álbum e do clipe de “Ratos de Asas”, estamos contando com mídias, como a sua, que nos ajuda muito a divulgar o trabalho, e tentando descobrir formas de chegar nas pessoas, mesmo que de casa. Hoje em dia muitas lives são feitas, mas talvez já tenha saturado este movimento das bandas com seu público. Assim que lançarmos este trabalho, nos dedicaremos aos próximos passos – sempre respeitando muito as pessoas e o momento em que vivemos.

Aproveitando o gancho sobre o atual contexto, é cabível dizer que a situação do isolamento social foi um mal necessário que atrasou muitas coisas. Isto aconteceu com vocês em relação ao lançamento do disco, ou ele já estava planejado para este mês de agosto mesmo?
AM: A ideia era lançar no primeiro semestre deste ano, montar uma agenda de shows e estar próximo do público. Com a pandemia, tivemos que rever. O Índio pilhou a banda para fazer o lançamento e estamos agora nesse corre. Está todo mundo tendo que se adaptar. Para nós, seria diferente. O importante é estarmos em casa, ajudando no combate a esta pandemia – para que possamos sair de casa o mais rápido possível, saudáveis, respeitando as pessoas. Enquanto isso, vamos trabalhando com o que temos.

Tem algum evento de lançamento físico planejado? E quais os próximos planos da Imperdíveis?
EA: Estamos lançando o álbum nas plataformas digitais. A princípio, não faremos lançamento físico. Talvez mais pra frente, em vinil… vamos ver se rola. Vamos trabalhar, após lançamento e divulgação deste álbum e do clipe, em novas composições, ouvir opiniões e ir lançando para que elas componham no futuro um novo álbum como resultado.

Fica aberto o espaço para uma declaração final, jabá e/ou até indicações. Muito obrigado pela entrevista.
AM: Bom, não somos experts em redes sociais, youtubers, influenciadores… mas temos nossa página no Facebook, um canal no YouTube, para publicar nossos vídeos, e um perfil no Instagram. Estão super convidados a conhecê-los e participar com a gente do mundo da música. Hoje em dia, quanto mais seguidores, likes, inscritos, sininhos clicados, mais parece que as coisas vão bem para os donos das redes – mas buscamos estar próximos, também através delas, de pessoas que gostam de nosso trabalho, de música, de assuntos sérios com bom humor, de bom humor com responsabilidade. Também temos nossas músicas no Spotify, bem como em outras plataformas digitais. A história da banda está melhor contada em nosso site. Se quiserem saber mais sobre a gente, nossos corres, como trabalhamos, sugerir temas… Enfim, participar ativamente da banda, em nossas redes, serão muito bem recebidos. Esperamos muito que, em breve, em shows também! Obrigado!

Para conhecer:

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Para assistir:

Para ouvir:

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Crédito da foto do topo: Yuri Alexei

Willian Schütz
Willian Schütz é poeta e contista - autor dos livros "Insânia Mundana" e "Saudades do que não foi e voltará". Formando em Jornalismo, atualmente colabora no site Guia Floripa, na Assessoria de Imprensa da Fundação Cultural Badesc e no Portal CLG. Já passou pelo IFSC e pela SST. Além disso, é cineclubista de carteirinha e acompanha de perto a cena musical alternativa de Florianópolis.
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