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O hardcore ameaça o Estado

Foto por Paulo Barros

A pouca luz nos impede de ver e analisar o quadro todo, e o fluxo frenético de imagens torna nossa percepção ainda mais caótica e fragmentada. Será essa a grande alegoria que expressa o momento atual, onde pós-verdade, miséria, precarização e superexploração do trabalho por parte do ultraliberalismo condenam milhões de seres humanos a incerteza do dia seguinte?
Não há linearidade na história, como se fôssemos condenados ao progresso no futuro. Muito pelo contrário, para as classes (castas?) subalternas, que vivem à margem da sociedade de hiperconsumo, o amanhã muito provavelmente será pior que hoje. A denúncia desse estado de coisas é a ideia central de “Centelha”, o novo clipe da banda Controle, de Petrópolis/RJ.

Tenho um grande respeito pela trajetória desses caras e por seus trabalhos pois sempre há uma preocupação estética e, principalmente, ética com aquilo que eles produzem. Este caso não foge a esta regra. Há um esmero na produção do clipe, sob responsabilidade da Pavê Gastronomia Visual, e a direção precisa de Eduardo Souza mantém o ritmo das imagens e da música constantes, atingindo em cheio o espectador. O convite para dançar sobre as ruínas do Estado está feito, mas só aquelas e aqueles libertos da atomização/isolamento compreenderão este chamado,  pois como diz a letra “O real poder de um povo é aflorado quando nos tornamos plural”.
  O peso das ideias se equipara ao peso da música, e a coragem de propor a luta por uma vida melhor para todos, em um momento em que o hardcore parece se esforçar em representar a crise da branquitude da classe média urbana brasileira, torna esse clipe ainda mais especial. Uma centelha que se mostra a mim, reacendendo velhas e novas esperanças de que o hardcore, essa subcultura tão presente em minha vida há mais de trinta anos, se torne uma ameaça ao status quo.

Confira o clipe:

Marcelo Fernandes
Professor de Geografia na rede estadual do RJ e faz parte das bandas Solstício, Las Calles e Bulldog Club.
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