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Motivo: melodia e luta

Com mais de 10 anos de estrada, algumas mudanças na formação e uma consciência sociopolítica da América Latina muito forte, o que pode ser constatado em suas letras, a banda Motivo segue seu caminho e lança mão de todas as crises pelas quais o mundo está passando, para compor novos sons.
Formada em 2008, em Santiago do Chile, a banda tem alguns registros e o seu mais recente EP foi lançado em 2020, em plena pandemia do Coronavírus.
Nessa entrevista o vocalista e guitarrista Cristian fala sobre a formação da banda, o levante popular no Chile, entre outros assuntos.

por Marcelo Fernandes
Fotos de divulgação

Como começa a história da banda?
Nós começamos durante o verão de 2008, depois de várias tentativas de montar uma banda e muitos integrantes diferentes nesses anos de ensaios, mas sempre convictos de fazer um som influenciado pelo skate punk e pelo punk rock da década de 90, e tendo como ideal mostrar o descontentamento social em nossas letras que refletem o contexto sociopolítico tão complexo da América Latina e, em particular, do Chile.
Já em 2010 conseguimos uma formação estável: Ricardo  na bateria, Rodrigo (Kashulo) no baixo e backing vocal, e Cristian (Trenza) na voz e guitarra. Gravamos o nosso primeiro EP “Realidad Censurada”, e ele dá início aos nossos shows no circuito de Santiago (onde moramos) e aos poucos, em outras regiões do Chile.
No ano de 2012 fomos novamente para o estúdio, gravar o que seria nosso segundo EP “Em Defensa Propia”, desta vez a cargo de Milo, um amigo próximo que é engenheiro de som e músico, que depois dessa gravação passaria a ser o nosso novo baterista. É importante dizer que este último EP teve ótima repercussão e é um disco do qual gostamos muito, por ter um som mais punk rock e alguns skacore, sem que perdêssemos a essência melódica.
Como tudo é difícil nessa vida e mesmo com nossas vidas pessoais e  profissionais, durante vários anos estivemos presentes em vários shows, porém, não gravamos nada até 2017/18, quando lançamos o nosso terceiro EP “Motivo”, quando voltamos às atividades relacionadas à música. Todo esse tempo com a banda ativa nos mantivemos conscientes da situação social, política e econômica do Chile, tocando em shows de apoio a educação secundária, marchas contra a tirania dos governantes, bem como contra a máfia opressiva policial. É importante dizer que nosso baixista (Rodrigo) é um educador que atua em uma escola em uma área vulnerável, assim como o nosso vocalista (Cristian) que é assistente social em um programa que atende crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.
Durante 2019 voltamos a mergulhar de cabeça na gravação do nosso quarto EP, que saiu, finalmente, em 2020, em plena pandemia, sem que se pusesse fazer um show de lançamento. É significativo para nós que no dia em que os protestos tomam o país (18 de outubro de 2019) demos o nome do disco “La Injusticia por Sobre la Razón”, está de acordo com o contexto social que havia, inclusive se refletindo na parte gráfica do EP.

Quais bandas são suas maiores influências, tanto no som quanto nas letras?
As influências são as mais variadas, pois gostamos de tudo um pouco que tenha punk rock, ska, hardcore, metal, folk, emo, indie, pop, reggae, glam… de tudo! Hahaha. Bandas californianas dos oitenta e noventa: Cigar, Pennywise, Good Ridance, Nofx; bandas de Chicago como 88 Fingers; de New Jersey, como Bigwig. Por outro lado, Satanis Surfers e No Fun At All, da Suécia; Not Available, da Alemanha, e outras do estilo que gostamos até hoje. Quanto a velocidade e letras, gostamos de Asimismo, Soziedad Alcoholika, Escuela de Odio, Leihotikan, Ska-P, Eterna Inocência, Da-Skate, MLC, Fun People, No Demuestra Interés, Minoria Activa e outras … Enfim, são muitas as bandas e estilos que nos influenciam.

O Chile tem testemunhado protestos populares por mudanças, tanto na política quanto na sociedade. O que pensam desse momento histórico no país de vocês? 
São muitos anos de desigualdade social e injustiças. Apesar do que acontece agora, isto vem se desenvolvendo já há muitos anos, incluindo a etapa mais sombria na nossa história, a ditadura militar, situação parecida com a que passam os demais países da América.
Quanto aos protestos populares, eles surgem da mesma história de dificuldades que atingem a sociedade. Durante outubro de 2019, a sociedade se levanta numa revolta popular, a fim de reclamar da perda de direitos da classe média baixa, das aposentadorias e pensões baixas, da educação mercantil e de baixa qualidade, a péssima saúde pública onde o atendimento depende da sua posição socioeconômica, dos baixos salários e precarização do trabalho, da corrupção da classe política e dos acordos  entre grandes empresas e as classes dominantes no país, entre outros.
Como resultado desta revolta, faz-se um plebiscito a fim de mudar a constituição criada pelo ditador Pinochet e seus subordinados. Devido a isso, a população se sente empoderada, e está mais atenta para que não seja pisoteada novamente. De qualquer maneira, a banda está sempre compondo letras contra o sistema político.

Este momento influenciou o trabalho de vocês de alguma forma? Como?
Totalmente! No que cantamos ou afirmamos contra as desigualdades históricas, até a raiva e a tomada de consciência da realidade social que experimentamos. Este momento é influência direta para a composição das letras.

Quais boas bandas da tua área vocês podem nos indicar?
Aqui em Santiago temos afinidade com várias banda de diferentes estilos. Sem dúvida a outra banda do nosso baterista Lá Reacción, onde ele toca guitarra. Outra banda que nós gostamos são: Zarandaia, Sin Ustedes, Pifia, Talking Props, Eskoria Humana, entre outras.

O que podem nos dizer sobre os futuros trabalhos da banda?
Durante a pandemia, mesmo distantes, estivemos criando e gravando novas músicas e trabalhando um par de covers de bandas mais conhecidas. Queremos seguir a mesma forma de escrever e compor e melhorar cada vez mais a qualidade das gravações. Já temos 8 sons sendo feitos, incluindo uma em inglês.

Vocês conhecem muitas bandas do Brasil? O que acham do underground brasileiro?
Não conhecemos muitas bandas daí, podemos citar: Dead Fish, 69 Enfermos, Pense, CPM 22, Blind Pigs, Nitrominds, Point of no Return, Paura, Confronto, Las Calles e outras que esquecemos! Ah… Mamonas Assassinas.
Gostaríamos de conhecer mais, e pelas redes sociais temos podido conhecer mais dessa cena.

Obrigado pela entrevista! Querem acrescentar algo mais?
Agradecemos a entrevista, achamos que é uma grande oportunidade de compartilhar nossa história com vocês e fazer um intercâmbio de cultura entre países. Esperamos conhecer um pouco mais do underground daí e talvez em um futuro próximo poder visitá-los com a banda. Obrigado Portal Revoluta! Sigam-nos nas nossas redes sociais. Saudações.

Para conhecer e seguir:

Bandcamp
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Para ouvir:

Marcelo Fernandes
Professor de Geografia na rede estadual do RJ e faz parte das bandas Solstício, Las Calles e Bulldog Club.
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