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Quicksand esquentou noite outonal no Rio de Janeiro

Texto e fotos por Alexandre Bárbara

No mundo da música underground, algumas pessoas se tornam referência por criar um estilo ou por marcar uma geração. Outras se tornam fundamentais porque se reinventam ao longo de suas carreiras. Walter Schreifels se encaixa bem nos dois casos. foi um dos fundadores do Gorilla Biscuits, banda central na cena hardcore de NYC, mas que conseguia ser bem diferente de seus congêneres que flertavam com o ganguismo e com as temáticas de rua. O GB era mais antenado nos aspectos da cena mesmo, com algumas letras mais reflexivas. Também tocou no Youth of Today, uma das bandas seminais do SxEx.
Mas no início dos anos 90, Walter dá uma guinada em seu som e em suas referências musicais e cria o Quicksand. Músicas mais pesadas e desaceleradas, letras mais introspectivas e pessoais. Lançaram dois discos nos 90’s, “Slip” e “Maniac Compression”, e influenciaram toda uma cena, do Metal ao hardcore. Na virada do século, Walter ainda se reinventaria de novo com o “Rival Schools”, quase indie, quase rock de arena, mas nada disso.
Bem, esse cara que passou os últimos 30 anos fazendo músicas maravilhosas aportou no balneário no último Domingo, com o Quicksand! Agora como um trio, a banda está fazendo uma tour com o Deftones (onde o baixista do Quicksand, Sergio Vega, também toca), divulgando seu último álbum, “Interiors”. O terceiro álbum de uma carreira que influenciou e encantou uma geração.
Justamente por isso a média de idade no Teatro Odisséia era um pouco mais alta. Trintões e quarentões foram chegando em meio a noite fria do outono carioca para ver a banda de abertura, o trio local Menores Atos. Preciso me desculpar com Cyro & cia, mas a saída lenta do Maracanã depois do jogo do Mengão não me permitiu ver todo o show deles. Mas a casa acompanhava com aquele afeto característico de quem se encontra em uma “cena” o show dos caras.
O Quicksand estava anunciado pela produtora para entrar no palco as 20:30. Quá, quá, quá, pensei. Esse papo de horário de show pode funcionar em São Paulo ou na gringa, mas aqui no “Ridixanêro” sempre rola um atrasinho charmoso. Qual nada. Pontualmente no horário marcado, Walter, Sergio e o batera Alan Cage entram no palco. Waltão é uma figuraça, daqueles caras que tão sempre com um sorriso sincero e um jeitão de moleque. E com a maravilhosa “Omission”, do primeiro álbum “Slip”,dão início a uma hora de um show inesquecível. A casa está meia bomba de público, mas quem está ali ama intensamente a banda e canta a plenos pulmões o refrão de “Under the screw”, a segunda música. O som do Teatro Odisséia está MUITO bom e mesmo em trio (o guitarrista Tom Capone saiu da banda há alguns anos), tudo soa muito pesado. Os dois amplis Orange, de baixo e guitarra falam bem alto e “Fire this time” abre a sessão de músicas do último álbum.
Além da latente intimidade entre os três, percebo todos muito alegres e descontraídos. Desde que retornou de seu longo hiato, em 2015, o Quicksand tem feito shows em grandes lugares. A impressão que tive é que tocar em um lugar pequeno, com o clima intimista e a proximidade do público do Odisséia, foi algo que os caras já não vivem com tanta frequência, e todos pareciam estar se divertindo. Sergio troca de baixo algumas vezes, mas Walter toca o show inteiro com sua Fender Jaguar.

“Unfulfilled” foi uma surpresa que quase arranca minha garganta do lugar, “Warm and low” faz todo mundo bater cabeça e a bela e lisérgica “Cosmonauts”, do último álbum da banda, é executada como se estivéssemos ouvindo o disco em casa. Walter pula, dança, conversa com as pessoas. E “Dine alone” daria números finais à catarse emocional do Quicksand. Walter se despede, mas Sergio fala algo em seu ouvido. E eles atacam com “Landmine Spring”, uma das minhas favoritas desde sempre!
Ao final todo mundo está com aquele sorriso de quem teve a chance de ver uma banda daquelas raras. Um show em que você quase não via câmeras pro alto, conversas, etc. Um encontro em torno da música e pela música. O Quicksand é uma experiência única!

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
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