You are here
Home > Entrevistas > Flatcat: hobby e paixão pelo punk rock

Flatcat: hobby e paixão pelo punk rock

Punk rock, estrada, turnês, amizades, Copa do Mundo e além disso tudo a ansiedade por fazer mais uma turnê no Brasil para divulgar o álbum recém-lançado pela Burning London Records “Heartless Machine”. Essa foi a tônica de um bate-papo super descontraído que o Revoluta teve com o Alexander Jonckheere, ou simplesmente Alex, baixista da banda belga Flatcat. A turnê passará pelas principais capitais brasileiras no início do mês de junho (+sobre a turnê aqui).  Confira o bate-papo!

Por Deise Santos
Fotos de divulgação

A banda tem mais de duas décadas de estrada, mas eu chego com uma pergunta óbvia, tardia, mas necessária. Porque e como a Flatcat começou?
Flatcat começou em 1993 como uma banda cover com os irmãos Wim e Dirk e alguns outros caras. Quando eles voltavam para casa, bêbados e de bicicleta, depois de passarem a noite na cidade de Bruges, eles começaram a traduzir o que eles encontravam pelo caminho, literalmente do Holandês para o inglês. Eles viram alguns atropelamentos na rua e foi assim que surgiu o nome Flatcat.
Em 1995 eu e Minx entramos na banda e dois membros mais velhos da banda permaneceram, mas saíram dois anos mais tarde. Permanecemos nós quatro e estamos tocando com esse line-up desde então.
E em 2015 estamos comemorando o fato de estarmos tocando juntos há 20 anos.

Uma banda com os mesmos integrantes, durante tanto tempo, é muito difícil. Como vocês conseguiram manter isso? Qual o segredo?
Eu acho que o jogo sempre foi perfeito. Estamos tocando juntos durante muito tempo e nós também nos conhecemos muito bem. Todo mundo tem seu próprio caráter e personalidade e, por uma razão ou outra, nós podemos lidar facilmente com isso. Houve algumas discussões, no decorrer deste tempo, mas você pode compará-lo a um bom casamento. Há discussões também, mas isso não significa que nós temos que nos separar.

Em 2001 e 2002 vocês vieram ao Brasil, divulgar os dois álbuns “Four Lessons to Drive” e “Better Luck Next Time”. Como foi essa experiência para vocês e como vocês chegaram até o selo Highlight Sounds, na época, ou foi o selo que descobriu vocês?
Bom, na primeira turnê era para ser uma turnê promocional do Split/CD, mas o CD não ficou pronto a tempo. Então, na verdade nós fizemos 5 shows sem nenhum material. Nós fomos convidados pelo Vini Di Branco, que trabalhava com o Cesar (Highlight Sounds)na época e tocava na banda Predial, uma das quatro do split.
Eu acho que o Minx o encontrou no velho ICQ ou MSN messenger. Eles estavam à procura da quarta banda e nós o encontramos no momento certo. A turnê foi um sucesso e logo nós planejamos outra turnê com um álbum completo. Assim, um ano mais tarde voltamos e fizemos 16 shows em 15 dias. Fato engraçado nº1: o álbum foi lançado primeiro no Brasil e somente após duas semanas de termos voltado para a Bélgica, foi que o álbum saiu por aqui. Acho que primeiro vendemos a edição Belga, no agora famoso festival mundial Groezrock, junto com as cópias brasileiras que trouxemos. Acho que vendemos 300 CD’s naquela noite.
Nós temos ótimas lembranças das duas turnês. Durante a primeira turnê, nós visitamos o Rio de Janeiro, nós conhecemos o Marcio (Urubuz Records). Ele me deu alguns CD’s do seu selo e foi assim que eu descobri a Reffer (Heffer na época, eu acho hehehe). Quando o Cesar me perguntou se eu tinha ideia para uma banda de suporte para a segunda turnê, eu falei com ele sobre a Reffer. Então nós fizemos a segunda turnê com a Reffer no ônibus de turnê (que pertencia aos pais do Zeke e Gabriel). A banda do Zeke Gabriel, Shed, fez alguns shows com a gente. Zeke agora toca com o Phil Reffer, depois que seu irmão se mudou de volta para os Estados Unidos.

Vocês conheciam algo sobre o Brasil quando vieram a primeira vez?
Honestamente, nós sabíamos que o Brasil tinha uma cena enorme.
Edward da Goodlife Recordings e um ótimo amigo meu, fez um grande sucesso no Brasil com a banda de Straight EdgeNations on Fire. Ele nos falou coisas boas sobre o país. Fato engraçado nº2: Na época em que estávamos indo para o Brasil, Minx, nosso vocalista, estava fazendo alguns shows como guitarrista da Nations on Fire. Eu me lembro que em uma noite no Rio de Janeiro as pessoas só vieram para ver o “guitarrista da Nations on Fire” hehehehe.

Porque vocês demoraram quase 8 anos para lançar um material novo?
Hummm boa pergunta. Flatcat é um hobby, um hobby apaixonante, mas não é um peso sobre os nossos ombros.
Embora, tenhamos tido a possibilidade de assinar com uma gravadora grande – nós tivemos alguns sucessos tocados na rádio nacional e espaço na MTV da Bélgica -, mas nós permanecemos leais à nossa primeira gravadora. E ela age da mesma forma que nós tocamos, sem pressão, sem “a cada 2 anos vocês tem que lançar algo merda”. Apenas vamos com tranquilidade.
Nunca tivemos a intenção de lançar material, apenas para lançar material. Quando lançamos algo queremos que valha a pena ter lançado.
Além disso, mesmo sem lançar um monte de músicas novas, conseguimos continuar a tocar em vários shows, não só em vários shows, mas bons shows, festivais grandes, turnês no exterior, shows ao vivo na televisão. Nós apenas ficamos na imagem. Nós não paramos de tocar e quando nos demos conta estávamos tocando há 6 ou 7 anos direto.
Mas tem um ponto: você não pode continuar tocando sempre a mesma música. Então, em vez de pagar um monte de dinheiro para gravar, compramos equipamentos de registro e Minx começou a aprender a trabalhar com ele. E ao mesmo tempo ele estava trabalhando em um novo material.
E depois de alguns de meses agitados para ele, o álbum foi finalizado. Minx conheceu Bill Stevenson (Descendents e All) no Groezrock e Bill decidiu mixar e masterizar as gravações em seu estúdio.
Então o álbum foi lançado ano passado na Bélgica, nós fizemos um show de lançamento em Belfry* (Bruges) e assim fomos a primeira banda a ser autorizada a tocar nesse monumento medieval. O show foi sold out e tocamos para 700 pessoas neste belo lugar.
Naquela época, minha viagem para a Copa do Mundo no Brasil já estava prevista. Então em junho eu fui ao Brasil, fiquei em Belo Horizonte, na casa do Paulista (baixista do Reffer), me reuni com Moises e discutimos coisas sobre o CD e nós sabíamos que o Marco queria lançar pela Burning London Records e também organizar a turnê.
Estávamos conversando com o Cesar e o Marcio anteriormente, mas o Cesar parou com o selo e se focou em gerenciar turnês de bandas grandes e o Marcio parou de lançar punk rock, agora só lança metal. Mas nós não queríamos fazer uma turnê num país onde nosso álbum não tivesse sido lançado. Então, com a Burning London pronto, o problema estava resolvido.
A questão é: depois de todos esses anos, nós mantivemos contato com os caras, com o Cesar, Vini e o pessoal das bandas Shed, Reffer, Street Bulldogs (nós tocamos em 3 shows com eles em nossa primeira turnê). Muitos desses caras nos visitaram na Bélgica. Nós consideramos todos eles como amigos da vida.

Então, isso quer dizer que vocês fizeram grandes amigos no Brasil?
Sim, de fato.

Então, já que você falou que veio para a Copa do Mundo, eis a questão: você é fã de futebol?
Quando eu fui para a Copa do Mundo, Paulista me deu uma cama e foi meu guia em Belo Horizonte, Marcio no Rio de Janeiro e o tio do Paulista em São Paulo. Normalmente eu ficaria na casa do Phil (Reffer, CPM 22 e ex-Dead Fish) junto com o Paulista, mas ele teve obrigações de última hora com a sua banda. Então eu comprei bilhetes para os três jogos da Bélgica durante o primeiro turno, esses caras me deram uma cama, por isso convidei-os para os jogos.
Eu costumava ser um grande fã de futebol, eu ainda amo, mas ele não controla a minha vida.
Eu consegui bilhetes através de um dos 20 chefes da FIFA que vivem aqui na Bélgica e como eu tinha amigos nas cidades onde a seleção da Bélgica iria jogar, eu pensei que seria uma grande oportunidade para ver uma Copa do Mundo, assistir a alguns jogos e ver meus amigos de novo.

O que você pensa sobre os estádios e a organização da Copa do Mundo?
A Copa do Mundo foi divertida, tive grandes momentos. Eu vi um grande progresso no Brasil entre 2002 e o último ano. Desde minha última visita vocês puderam ver mais pessoas na classe média, isso é uma evolução positiva.
Os estádios eram perfeitos, embora como em qualquer outro grande torneio, pode-se perguntar se todos esses gastos em estádios de futebol valem a pena.
Talvez a melhoria da infraestrutura por causa da Copa do Mundo tenha sido uma realização maior do que os estádios, mas, por outro lado, ainda há vários brasileiros que vivem em situação de pobreza.
Houve um grande sentimento sobre isso tudo por parte dos brasileiros, mas acho que agora muitos brasileiros têm sentimentos mistos.
Como o Marcio (Urubuz Recs) e sua esposa Marcia me falaram quando eu fiquei com eles no Rio de Janeiro: a Copa do Mundo nos deu um mês de segurança (policiais em todos os lugares), prazer, excitação, felicidade, mas quando a Copa do Mundo acabar, o Brasil vai voltar para os seus problemas habituais.

Foi muito tempo fora do estúdio, tocando em vários shows de turnê. Como isso influenciou no processo do novo álbum? Minx aprendeu direito para trabalhar com os equipamentos? Podemos dizer que Flatcat tem um estúdio sobre rodas?
Bem, tudo exceto a bateria foi gravado na casa de Wim (nosso baterista), uma vez que gravar a bateria requer mais e ainda melhor equipamento, bem como muito boa acústica. As baterias foram gravadas em um estúdio profissional, todo o resto foi feito em “casa”. Minx mora a apenas algumas centenas de metros da casa do Wim, isso permitiu que ele fosse lá toda vez que quisesse.
Ao contrário do tempo em um estúdio caro, fazer tudo sozinho em sua própria velocidade, não sendo cobrado por tentativa e erro, também teve as suas vantagens. Isso deu a ele o tempo para aprender como gravar sem ter que pagar cem euros por um par de dias. Desde quando nosso orçamento para gravação foi investido em equipamentos de gravação passamos a ter “todo tempo” do mundo para gravar o som perfeito. Gravando um dia a mais ou um dia a menos não iria nos custar nada a mais.
E na era digital em que vivemos, tudo foi enviado para Jason Livermore e Bill Stevenson, em Blasting Room(Colorado), onde o ajuste final foi feito (mixagem, masterização, …).
Bom, um estúdio sobre rodas talvez seja um pouco de exagero, embora eu possa imaginar, caso pudesse colocar todo esse equipamento num grande case com rodas.
A maior vantagem de todas é sabermos que temos equipamento para gravar músicas futuramente sem custo extra. Ao contrário do tempo em um estúdio pago, que utilizamos uma vez e para usar de novo temos que pagar. Agora nós temos o equipamento para usar por muitos anos.

Em tempos de internet, onde as pessoas escutam música por streaming, fazem download e vivem em redes sociais virtuais. Qual a melhor forma para divulgar uma banda e fazer com que as pessoas saiam de suas casas para irem a um show? Você acha que a internet é rápida demais (para renovar informações e conteúdos) e isso pode atrapalhar a divulgação? Como é possível chamar a atenção das pessoas para a sua música?
Bem em comparação com a época em que começamos, que quase ninguém tinha internet (somente alguns poucos felizes e com um modem através do telefone) e não existia telefone celular, hoje tornou-se muito mais fácil ouvir algo. Basta soltar uma música na internet e você alcança as pessoas na cadeira na frente do seu computador, mesmo sem ter que executar uma canção ao vivo.
Felizmente para nós, fazer turnês e tocar em muitos shows continua sendo melhor. Até agora, um monte de gente sabe o que Flatcat significa e o que esperar durante um show ao vivo.
No entanto hoje em dia podemos dizer que as pessoas estão mais interessadas “no acontecimento” do que nos “artistas” que estão realizando. Você pode facilmente dizer que o headliner de cada show ou festival não é mais uma banda, mas a atmosfera. Se você não é uma banda grande você tem que criar um “barulho” em torno do evento, a fim de atrair as pessoas. Se você pode criar esse “barulho”, as pessoas virão, se não, bem, você vai tocar para 20 pessoas bêbadas em um bar, você trazendo qualidade ou não.
Como você disse, com a internet, as pessoas estão sobrecarregadas com informações e, portanto, com bandas e músicas. Você poderia dizer que a internet é uma maneira fácil de ser ouvido e conhecido por muita gente sem ter que fazer nada de especial além de colocar músicas online, por outro lado, se você não tem uma boa base (tocando na frente de um público real, “rede” na vida real, atingindo pessoas em shows, festivais) a música que você acabou de colocar on-line pode se perder entre outro milhão de faixas on-line.
Então eu acho que você só precisa ter uma boa mistura de tudo: músicas boas, um boa base, criando um barulho de vez em quando e usando a internet para melhorar tudo isso. E então você pode apenas estar pronto para a dominação do mundo (muahahahahaha).

Você disse que a banda é um hobby. Com que cada integrante trabalha? Como administrar vida pessoal, profissional e lazer?
Sim cada membro tem um trabalho. E dois dos membros da banda (Dirk e eu) ainda temos filhos. Ah, e Wim, nosso baterista se tornará pai em novembro.
Nem sempre tem sido muito fácil de combinar a vida privada, profissional e musical, uma vez que um dia tem apenas 24 horas. Mas de alguma forma nós conseguimos fazê-lo muito bem. Tem sido um grande sacrifício para minha esposa especialmente quando meus filhos eram muito jovens, eu ficava ausente por 3 ou 4 noites por semana e, durante vários anos, deixando-a com todo o trabalho. No entanto, eu sou muito grato pelo que ela fez, isso me permitiu experimentar coisas que eu não teria experimentado. Mas ao contrário do início em que a cada show que tocávamos, era possível acontecer uma “merda”, agora estamos em condições de escolher em que tipo de show nós iremos tocar. Vamos dizer que agora há um melhor equilíbrio entre trabalho, família e banda.

 

Alex, muito obrigada por nos ceder essa entrevista e deixo aqui o espaço para você deixar um recado para quem irá aos shows de vocês no Brasil:
Bem, eu gostaria de agradecer a você por me ouvir e espero que possamos nos ver em um dos shows que faremos no Brasil dentro de duas semanas. Para todos os brasileiros que pretendem assistir nossos shows eu gostaria de dizer: estamos realmente ansiosos para tocar pra vocês novamente depois de todos esses anos! Estamos muito animados para voltar ao Brasil depois de quase 14 anos. Nós esperamos que vocês desfrutem e tenham bons momentos durante nossos shows! E se você estiver a fim de bater um papo ou tomar uma cerveja, basta vir e dizer “Olá!” após o show, no Bar ou na nossa banquinha de merchandising!

 

Confira o clipe oficial da música “All Anchors Lost feat. Sean Dhondt”

Links:
http://www.flatcatofficial.com/

Facebook

 

Vídeo:

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
Top