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“Do It Yourcast”, o espírito Punk/ Fanzine/DIY vivo nas plataformas digitais

“Podcasting” estão entre as maiores plataformas atuais da cibercultura. Dentro desse formato Alan da Hora criou o “Do it Yourcast” com a proposta de manter vivo o “do it yourself” (faça você mesmo) de forma genuína e renovada levando informação sobre música, política e cena underground. Tivemos um bate papo bem legal, confira.

Entrevista por Anderson Les Cadavres
Fotos de Divulgação

Primeiramente Alan se apresente pra galera que não te conhece e conta como começou sua trajetória dentro da música até conhecer o underground: 

Primeiramente muito obrigado pelo espaço aqui no Portal Revoluta, já acompanho o trabalho do portal já tem um bom tempo. Meu nome é Alan da Hora e sou de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Bom, eu tive um início meio que padrão de um jovem que começa a ouvir música. Alguns amigos que tinham um gosto parecido ao começar ouvir música, as bandas nacionais da década de 80 que apareciam na televisão, os primeiros discos de punk que apareceram na minha frente, como Ramones, Garotos Podres, as grandes coletâneas do punk nacional e a partir daí começo a acompanhar a produtiva cena underground carioca da década de 90, ir a shows, comprar zines, demos tapes e afins, foi quando senti uma vontade incrível de produzir algo e a primeira coisa que fiz foi um fanzine, o Mondo Cane. Conforme os contatos foram aumentando, fui aprendendo mais e conheci a cena punk/hardcore nacional e internacional e suas vertentes, como o straight edge, anarquismo, libertação animal e afins. Tentei ter bandas que nunca deram certo, fiz mais fanzines, ajudei alguns amigos a organizar shows e tô aí até agora produzindo da melhor forma que me é possível.

Como surgiu a ideia do Do It Yourcast? 

Esbarrei nessa mídia através de um podcast já extinto, o Hardcast, feito pelo Fábio Pereira, que hoje toca no Institution. A partir dele comecei a ouvir muito podcast, a maioria sobre política, pois não conseguia encontrar um podcast sobre música que me agradasse, estudei um pouco como começar a fazer podcast e aí fiz o primeiro podcast que era um anexo do meu último fanzine, o MTD Zine, o podcast se chamava MTD Cast. Era só uma espécie de programa de rádio em que eu falava sobre bandas e tocava as músicas das bandas novas que apareciam no meu radar. O lance não virou, pois infelizmente a cultura dos fanzines e até mesmo dos blogs parece que morreu, todos querem se informar muito, lendo pouco, daí eu desanimei. Mas aí eu tive um estalo de um nome, o Do It Yourcast, e resolvi fazer podcast de novo, sem qualquer compromisso com nada a não ser com minha satisfação pessoal, comecei a chamar alguns amigos próximos para conversar sobre música, gravei e postei. Todo o processo foi muito divertido e me fez um bem enorme, algo não relacionado à realização pessoal, mas um benefício psicológico mesmo, hoje em dia eu reconheço o Do It Yourcast como minha terapia pessoal. Comecei a chamar mais gente para gravar e consequentemente começou a aparecer algumas poucas pessoas acompanhando as conversas e que estão gostando do que estão ouvindo, o que é legal e que agradeço muito a cada um que ouve.

Acompanho assiduamente o podcast e as entrevistas são sempre ricas de informações, histórias, abordagens políticas e futebolísticas. Teria alguma entrevista em destaque que você gostou muito de fazer ou algum fato curioso? 

Todas as conversas me fazem um bem enorme, então gosto de todas as conversas, pois são conversas com pessoas próximas a mim, independente de eu conhecer pessoalmente ou não, pois alguma coisa que essas pessoas fizeram me atingiram de alguma, um zine, uma música, um show, todas as pessoas que gravei me atingiram de alguma forma e isso nos deixa próximos de alguma forma. Mas a conversa com o Ruy, do No Violence, me emocionou bastante, pois o cara ainda acredita e defende cada coisa que ele falava na época de banda e faz isso de uma forma muito humana, sem soberba e muito solidária. Outra coisa é reencontrar os amigos de longa data que se afastaram por qualquer motivo que a vida impõe e ver que eles fazem algo muito importante para uma parcela da sociedade, como por exemplo o Tomás Melo, que eu conheci moleque e hoje trabalha com população de rua, o Daniel Guimarães que é psicólogo e trabalha com atendimento gratuito com a comunidade. Um fato curioso, ou um fato que me deixou puto é que aqui na Baixada Fluminense a internet é muito ruim, e de vez em quando falta energia aqui também e na época da Copa do Mundo eu tinha gravado uns programas muito bons com meus amigos, uns papos superdivertidos que não foram ao ar pois ou a internet caiu ou faltou luz, e isso me fez perder os melhores papos com aquele trio de pessoas maravilhosas que são o Menezes, o Loly e o JP Zeitlin.

Nesse ano você iniciou uma campanha na plataforma Apoie-se para o podcast, explique sobre e quais intenções?  

O financiamento coletivo contínuo é algo comum entre pessoas que fazem e ouvem podcasts, pois essa relação vira uma espécie de comunidade, e vejo isso muito próximo da cena punk, comprar um disco, comprar uma camiseta da banda que se ouve, tudo isso é uma forma de apoio e colabora com o crescimento da cena, se você compra um disco, uma camisa ou paga o ingresso de show de uma banda underground que você ouve, você ajuda a cena e a cena é sua comunidade de alguma forma. Minha comunidade é a música underground, eu me relaciono com isso faz um certo tempo e me faz bem. Como o podcast não vende disco, não vende camisa, não faz show e nem fanzine mas que ainda assim tem custo, então abri essa plataforma de financiamento para a galera que quiser e que tiver possibilidade, possa me ajudar a fazer o podcast, tornar ele mais frequente e melhorar a qualidade em todos os sentidos. A grana é apenas para pagar a manutenção do site, pagar hospedagem e servidor, de repente comprar um gravador para gravar uns papos na rua quando existir essa possibilidade e se for possível fazer uns shows aqui no Rio de Janeiro trazendo algumas bandas de outros estados por exemplo. 

Atualmente no nosso país tem havido um levante reacionário absurdo. Nós como agentes contra culturais, não temos nos calados diante disso. Mas infelizmente muitos desses conservadores e reacionários estiveram velados no nosso meio. Constantemente vejo opiniões e posturas suas nas redes sociais, aproveitando esse papo, diga-nos sua opinião sobre isso no país e principalmente no underground: 

Primeiro de tudo, é um fato mundial, e histórico também. A história não é linear, ela é feita de altos e baixos, a história e a sociedade são uma curva sinuosa e o momento é desse levante reacionário.  O que tem que ser observado é o que alimentou esse levante? Onde a sociedade errou ao achar viável colocar no poder pessoas racistas, xenófobas e homofóbicas? Isso é o mais difícil, e só o tempo vai responder, eu particularmente desisti de tentar entender o porque algumas pessoas depois de séculos de estudos, do homem ter pisado na lua, em pleno 2019 declarar que a Terra é plana. Se tem gente que acredita nisso aonde não existe interesse aparente e real, apenas obscurantismo de raciocínio, imagina os outros campos que lidam diretamente com interesses políticos, de poder e financeiros, o quanto de pessoas que existe acreditando que são superiores apenas por causa da cor da pele? Infelizmente a hora é de se defender da forma mais segura possível, a minha luta pessoal agora não é transformar o mundo, mas não deixar o mundo me transformar. E se posicionar de forma racional, sem querer ser mártir e sem querer ser o protagonista da luta. E lógico, fechar espaços para reacionários, seja em casa, na família ou na cena, esse tipo de gente não pode proliferar mais do que já está proliferando. Em tempo, sou um progressista, não acredito em raças, religiões e pátrias. Não acredito em nenhum tipo de superioridade do ser humano sobre outro ser humano, não acredito em superioridade de uma espécie sobre qualquer outra. E no mais, como aprendi em umas das conversas que tive, que vai sair no podcast, só quero levar minha vida sem encher o saco de ninguém.

MTD Iron Squad foi uma das propostas de gig’s no RJ mais iradas, se não estou errado era organizado por você, Ricardo Macedo e Luiz Menezes. Conta um pouco sobre MTD e se há possibilidades de volta à ativa? 

O MTD era apenas um desejo simples: a gente queria ver shows das bandas que ouvíamos e então resolvemos trazer as bandas, sem protagonismo e sem querer salvar a cena e essas bobeiras. Então foi: juntar 3 amigos, dividir as tarefas e cada um fazer o que for possível para tornar isso possível. Nunca ganhamos grana, já tomamos alguns prejuízos pequenos, mas tivemos experiências gratificantes e conseguimos o principal objetivo, que era assistir as bandas aqui na nossa cidade. E sempre existe a possibilidade de voltar, como disse na pergunta anterior, se o financiamento do podcast for bem sucedido, com certeza vamos conseguir trazer as bandas e fazer shows com ingresso barato e com certeza nós 3 vamos estar juntos de novo nessa.

Admiro muito suas pesquisas e divulgações de bandas, selos e toda linha de informação através das rede sociais do “DIYcast”.  Cita aí 5 álbuns ou artistas bem legais que tem ouvido ultimamente: 

Sempre corri atrás de som novo, faço isso todo dia, hoje em dia é mais fácil também, mas também é mais volátil então procuro manter o foco e ouvir as bandas com atenção. 5 bandas nacionais que tenho ouvido com atenção são: Whipstriker, B’urst!, True Force, Futuro e recentemente apareceu uma banda foda que se chama Astma

Alan, gostaria de agradecer por ceder seu tempo e conversar conosco, espero que todos planos do seus realizem, inclusive com “Do It Yourcast” e deixa um recado aos leitores do portal.  

Eu que agradeço o espaço, parabéns pelo 11 anos do Portal Revoluta, acompanho sempre pois coloquei o site no meu leitor de feed, vamos marcar uma mesa com o máximo de gente possível do Portal Revoluta para gravar um papo para o Do It Yourcast. E para todos nós o recado é simples: vivam a vida sem encher o saco de ninguém, isso já ajuda muito.

Links:

Financiamento contínuo do Do It Yourcast 
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Programa do Do It Yourcast na Contra.fm 

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