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Old school, mas sem perder o bonde da história

Daileon Kick é uma banda de hardcore old school, criada em 2019, em Rolândia, norte do Paraná, por Carlos (Guitarra), Eder (Vocal), Johnny (Bateria) e Lanzo (Baixo). Com letras engajadas e criativas, belas melodias e a urgência que caracteriza o estilo, a banda surge como uma grata surpresa no underground do país. Conversei com o Carlos e o Eder sobre a história da banda, política, e os dramas do cotidiano de um país que passa por momentos difíceis.

Entrevista por Marcelo Fernandes
Fotos de divulgação

Qual a “pré-história” da banda? O que os levou a montá-la?
Carlos: Cara, desde que conheci o Eder (uns 15 anos atrás) a gente tem planos de montar uma banda e nunca rolou. Eu já estava tocando com o Johnny (baterista), em outra banda e resolvemos tentar mais uma vez. E por incrível que pareça esse projeto conseguiu sair do papel.
Eder: A amizade e a afinidade de ideias. Essa banda é resultado de outras tentativas ao longo do tempo. Todos já tivemos/tentamos outras bandas e essa tem fluído muito bem.

Por que, em um momento onde as bandas optam cada vez mais por fazer um som pesado, vocês escolheram a velocidade do hardcore old school?
Carlos: Eu curto uns lances mais pesados, porém minhas bandas favoritas, ou estilos favoritos são de bandas que tocam rápido. Fazia tempo que não tinha uma banda nessa levada. Inclusive estava escutando muito Gorilla Biscuits enquanto trocava ideia com o Eder e os outros meninos sobre como seria a sonoridade do Daileon Kick.
Eder: Todos curtimos outros estilos além do hardcore old School, mas a ideia inicial era essa mesma, um som rápido e não tão pesado. A referência inicial era o Gorilla Biscuits, além do Force Of Change e do Good Clean Fun.

Além do som, pra cima, com partes rápidas intercaladas com melodia na guitarra, as letras de vocês chamam a atenção. Em “Todos morrem, poucos lucram” vocês parecem falar do caos ambiental contemporâneo. Um tema que anda um pouco sumido do hardcore. Qual a relevância desse tema para vocês?
Carlos: Cara é uma questão crucial. Essa letra foi feita enquanto o atual governo abria para essa exploração mais agressiva que estamos vendo hoje. O “passar a boiada ” como disse o maldito ministro. Ela fala sobre a ganância acima de tudo, inclusive da vida.
Eder: A questão ambiental é um dos temas que devem estar em pauta em todos os espaços possíveis. É imprescindível discutir sobre a nossa dependência dos recursos da natureza e da irresponsabilidade tanto de grande parte da sociedade, quanto dos consumidores e das corporações que lucram com esse consumo desenfreado, além da negligência do estado. Vide a postura do ministro do meio ambiente e do presidente que passam um pano para grileiros e mineradores na Amazônia.

Essa situação que estamos vivendo hoje, no Brasil, seria uma das características do “Calvário Latino”, nome de uma outra música de vocês? O que caracteriza esse calvário?
Carlos:  Não só hoje, mas o que vivemos há tempos. É sobre políticas neoliberais, onde os governos do terceiro mundo entregam o seu próprio povo em sacrifício ao deus capital.
Eder: O histórico da relação entre o europeu explorador, o nativo praticamente dizimado e o negro escravizado e, consequentemente humilhado por séculos. não poderia ser diferente. Somos uma eterna colônia, antes do europeu colonizador e atualmente do capital estrangeiro.

Você não vê mas teu medo é uma arma, nas mãos de quem controla o jogo‘ trecho de “‘Entre muros e medo”.   É possível a essa enorme massa empobrecida dos países pobres, e mais especificamente da América Latina, tomar o controle do jogo?
Carlos: Eu acredito que sim, mas não vejo a luz no fim do túnel, não nessa geração. O que fizermos hoje para mudar pode sim, vir a somar mais além, mas enquanto apostarmos nossas fichas em uma vanguarda, em heróis da pátria, continuaremos a ser massa informe. Acredito que através da conscientização de indivíduos, acerca do mundo, da sociedade, e só através dessa consciência “geral”, poderíamos nos ver livres na autonomia. Mas isso, hoje, é um sonho distante. Uma verdadeira utopia. Mas a barbárie causada por esse sistema tá aí na cara, para todos verem.
Eder: Na conjuntura atual é pouco provável essa virada de jogo. Nos anos 2000 boa parte da América latina teve lideranças consideradas progressistas e na década seguinte a população optou por líderes conservadores. Boa parte da população não consegue compreender esse controle que ocorre aqui e por isso ainda ficamos sujeitos a essas mudanças drásticas.

Apesar de um certo “pessimismo realista” que impera, o punk/hardcore mobiliza nossas paixões. Que bandas brasileiras atuais vocês colocariam em uma lista de bandas imperdíveis nesse momento difícil que atravessamos?
Carlos: O inimigo, Droogies, Até Quando?, Onion Balls…
Eder: Institution, O Inimigo, Statues On Fire, Questions e os últimos álbuns de bandas clássicas como Dead Fish e Ação Direta. Foda demais essa pergunta… Ainda mais restringindo pro atual!

Quais os planos da banda para o futuro pós-pandemia?
Eder: Estamos nos organizando pra lançar o primeiro EP e assim que possível voltar a tocar. Tínhamos algumas apresentações marcadas e estávamos agilizando outros contatos. O foco agora é o EP. É muito incerto ainda o pós-pandemia.

Bom saber mais sobre a banda. Agradeço a paciência e deixo agora o espaço aberto para as considerações finais de vocês:
Carlos: Muito obrigado pelo espaço Marcelo. Espaço precioso.
Éder:  Marcelo, foi um prazer poder falar sobre a banda em um espaço importante como o Portal Revoluta.
Forte abraço e viva o underground!!!

Para acompanhar a banda:

Instagram

Para ver e ouvir:

Youtube

Marcelo Fernandes
Professor de Geografia na rede estadual do RJ e faz parte das bandas Solstício, Las Calles e Bulldog Club.
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